— Scarlett... — Chris bate no vidro pela terceira vez, tentando acordar a figura pequena que se deitava encolhida, virada de costas para a janela.
Apesar do calor, as janelas do veículo não abriam por medida de segurança e a porta do motorista era a responsável por permitir a entrada do pouco de brisa que corria ali. Por algum motivo — talvez o tom magoado com o qual ela jogou as palavras nele e que, de modo algum coincidia com a posição dela — ele havia ficado receoso quanto a entrar pelo lado do motorista, quase que se estivesse invadindo o espaço da sua superior. — Major?
A forma como ela sequer se mexe começa a causar-lhe preocupação mas, logo quando Evans começa a pensar sobre a possibilidade de abrir a porta e a tocar, ele vê Scarlett respirando fundo e se virando, acordando do cochilo.
O olhar confuso e levemente irritado o faz recordar dos cochilos que ela costumava tirar na biblioteca, tamanha era sua dedicação aos estudos, e dos quais ele nunca a acordava — sempre a cobria com a jaqueta e distribuía cafunés — sobre o protesto de que ela estudava demais.
— Achou? — ela pergunta em meio a um bocejo, com as pernas penduradas para fora do carro, enquanto olhava para ele, que segurava a porta aberta.
— Eu preciso perguntar um coisa, e preciso que você seja sincera quanto a resposta. — ele recebe o olhar afirmativo dela que ainda estava muito sonolenta para brigar. — Isso é um dos seus joguinhos para me fazer escolher justamente o que você quer?
— O que?
— Eu já repassei toda a conversa, todos os detalhes, todas as coisas que escutei de você. Linha por linha, palavra por palavra. E eu tenho certeza absoluta de que foi dito "esquerda" na quinta bifurcação. — Scarlett espanta o sono esfregando o rosto com as mãos, em seguida pulando do carro e ajeitando a blusa em frente a ele, aguardando algo a mais. — Eu já peguei todas as possibilidades de rotas erradas nas quais podemos ter entrado, e isso nos dá uma total de dezesseis. Eu não conheço a região, então não consigo criar nenhum critério de exclusão. Preciso de ajuda, Major.
Scarlett sorri de canto por Evans finalmente usar o tratamento correto, passando por ele e indo em direção a frente do carro, onde o mapa era mantido no lugar por pedras, uma em cada extremidade.
— Vem, vamos nos achar.
E eles conseguiram, depois de cerca de duas horas, eliminar quatorze rotas por pontos de referência que haviam sido observados e que não coincidiam com as estradas pelas quais passaram, deixando-os com possibilidade de apenas duas rotas.
Scarlett ainda tinha esperança sobre conseguir acompanhar o comboio mas, quando finalmente chegarem em um acordo sobre onde realmente estavam, e entraram no carro, um som preencheu o local assim que a chave foi girada.
tectectec
tectectec
E mais uma vez.
tectectec
E então o estouro em conjunto a fumaça que tomou conta da visão do para-brisas.
— Por favor, Evans. Por favor. — Scarlett se jogou contra o banco, cobrindo o rosto. — Me diz que isso não é o que eu acho que é.
— Motor. — Chris cruza os braços sobre o volante e apoia a cabeça sobre eles. Tudo que ele mais queria era um banho naquele momento porém, no lugar, recebia um carro quebrado, em meio a um cânion, com rajadas arroxeadas já preenchendo o céu e, claro, uma Scarlett irritada ao seu lado.
Mas, pela primeira vez desde que haviam se encontrado naquela missão, ela não parecia o repreender e, sim, a si mesma.
— Tudo bem? — ele pergunta intrigado, lutando contra a vontade de chamá-la pelo nome e não pela patente, acabou não usando nenhum.
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SHOTGUNS - O REENCONTRO {EVANSSON AU}
ActionRecém divorciado, o Sargento da reserva, Evans, é convocado para auxiliar uma missão médica em um povoado Africano. O que ele não esperava era que a comandante da comitiva fosse sua ex-namorada, Scarlett, que o abandonou em um momento delicado e po...