[05] Mirante de Boston

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"O vento batia forte contra o rosto dela enquanto dirigia, fazendo com que o coque que usava se desmanchasse aos poucos. Olhando mais uma vez para o lado, ela observa Chris se inclinar sobre a perna engessada retirar o frasco laranja de dentro do bolso, abrir e tomar mais um analgésico. Pelas contas dela, aquele era o quarto comprimido desde a hora que tinha ido buscar ele em casa.

Ultimamente as coisas eram assim: Depois do acidente, tanto pela perna engessada como pelo medo de dirigir que ele havia desenvolvido, ela pegava o carro da mãe emprestado e dirigia quinze minutos até a casa dele para, por mais arrumada e simpática que fosse, passar uma hora e meia tentando convencer o garoto a sair do quarto e a acompanhar em um encontro que sempre, sempre, resultava em ele dando mais atenção ao fraco de medicamentos do que a ela.

Aquela noite não havia sido diferente, pela terceira vez naquela semana ela tentava fazer com que ele agisse com o mínimo de normalidade e só recebia respostas monossilábicas e a visão de analgésicos sendo ingeridos. Porém, dessa vez, ela resolve que precisa dar um basta naquilo. Virando o volante, Scarlett pega a via que dá acesso a entrada da cidade.

Nem mesmo a mudança de trajeto foi capaz de alertar Evans, que apenas olha fixamente para frente, sem realmente ver para onde iam.Scarlett dirige por alguns minutos até chegarem ao mirante que era conhecido pelos adolescentes de Boston e onde eles transaram pela primeira vez.

Apenas após algum tempo depois de estarem sentados em silêncio dentro do carro é que Chris percebe onde estão e se vira confuso para a namorada.

— Scar? Você disse que ia me levar pra casa, o que estamos fazendo aqui? — o olhar cansado encontra o dela que brilhava com as lágrimas que segurava.

— Eu não posso mais te ver assim, Chrissy, não dá. — ela se senta de lado no banco, olhando para do namorado. — Eu sinto que a qualquer momento eu posso te perder."

— Sou eu. — Scarlett acorda sobressaltada ao ouvir passos ao lado da sua cabeça e consegue identificar a silhueta de Brie, com quem dividia a tenda. — Pode voltar a dormir, só fui no banheiro.

Tentando se livrar do sono, Scarlett esfrega o rosto e tenta pentear o cabelo com os dedos. Ela respira fundo, tentando acalmar o coração que estava acelerado, tanto pelo susto da entrada da amiga, como pelo sonho.

Sonhar com aqueles eventos passados sempre era torturante. Relembrar do lugar obscuro em que os dois entraram depois do acidente, principalmente Chris, sempre mexia com ela, principalmente pela incerteza de se ele havia melhorado ou não.

Mas, pelo menos, pela primeira vez em anos, ela havia tido a resposta e tinha ele a seu alcance.

— Scar? — Brie se apoia nos cotovelos, falando com ela do saco e dormir a frente. — Tudo bem?

— Eu vou olhar o Evans, ele ficou na enfermaria. Volto já.

Antes que Brie tivesse oportunidade de argumentar, Scarlett sai do saco de dormir e coloca o casaco, pegando a pistola e a lanterna que ficavam no chão, ao seu lado.

Descendo para o vale em passos firmes, passando pela pedras e vegetação seca do local, ela logo chega a tenda médica. Andando em meio aos vários aparatos hospitalares, ela consegue ver a luz, dessa vez consertada, da enfermaria e se aproxima, rezando para encontrá-lo dormindo. Ela só precisava vê-lo, assegurar seu coração de que ele estava bem.

A menção dos analgésicos mais cedo haviam aberto uma ferida há muito cicatrizada e ela sabia que teria que ficar de olho nele.

Porém, já havia uma pessoa fazendo isso por ela.

Parando em um ponto cego, no ambiente anterior a enfermaria, ela observa, sem ser vista, a maneira como Chris e Emília conversam entusiasmados. Ela encostada na grade da cama dele e Evans olhando atentamente para mulher, analisando seu rosto, enquanto ouvia algo que era contado.

Chris sempre foi um bom ouvinte, ela sabia bem disso, mas a maneira como ele olhava para a enfermeira, como sorria em alguns pontos da conversa ou até mesmo, tocava ocasionalmente a mão da mulher, dava uma certeza para Scarlett: Eles estavam flertando.

E não singelamente, flertava abertamente um com o outro. E, por algum motivo — que ela sabia bem qual era, só não queria admitir— aquilo a fazia querer sufocar Evans, e se estapear por, mesmo depois de tanto tempo, ainda se importar e cultivar um carinho pelo homem que, claramente, não zelava em nada por ela.

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SHOTGUNS - O REENCONTRO {EVANSSON AU}Onde histórias criam vida. Descubra agora