Vento quase levou

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Seattle- Verão de 55.

Já era quase noite quando Ari terminou de revisar suas anotações sobre os alunos e estava lendo um de seus livros de romance debruçada na varanda de seu quarto, a brisa que soprava em seu rosto fazia seus cabelos loiros como os narcisos dançarem sobre o vento e a fazendo vestir o casaco que antes só estava por cima de seus ombros. Sempre que estava lendo sua mente viajava entrando num estado de concentração tão grande que podia ouvir seu coração bater, sempre foi encantada pelos romances era seu gênero preferido. No interior de Seattle era fácil conseguir ouvir o silêncio, tudo ali era devagar, pessoas se moviam com calma era raro acontecer algo que tirasse as pessoas da costumeira tranquilidade. O perfume da grama que crescia no jardim inundava seu peito, lá embaixo as pessoas caminhavam sem pressa pela área da piscina da pousada, a única da região e que pertencia ao seu pai Daniel. Fazia alguns anos que ele voltara da guerra, com a notícia do estado grave de sua esposa foi dispensado mais cedo das tropas e voltou para casa,com a morte de Barbara ele se concentrou nos negócios da família com a ajuda de seu filho mais velho. Porém uma de suas maiores preocupações era Arizona sua filha mais nova que ele ainda considerava a princesa do papai, mesmo ela já sendo uma mulher de 26 anos e uma das professoras do colégio católico da região. Em sua visão Ari era frágil, delicada e inocente, seus traços angelicais,seus olhos de uma cor azul claro, seu sorriso que carregava covinhas e o fato de nunca ter tido um namorado ajudava a rotulá-la com essa inocência, mas debaixo daquela casca de delicadeza havia uma mulher vanguardista e forte que lutava todo dia para estar onde estava.

Todo verão em Seattle a pousada lotava sua capacidade deixando o ambiente cheio de vida, porém isso era pouco notado por ela pois passava a maior parte do tempo dentro de seu quarto trabalhando em suas aulas ou lendo algum romance. Gostava do tempo que passava sozinha porque sentia que muita das pessoas não a entendiam e acabavam julgando sua vida magoando seus sentimentos, mas ainda sim tinha amigas. Teddy que era alta e um pouco desajeitada mas sempre estava tentando entender a mente de sua amiga e April que era pequena e sempre estampava um sorriso no rosto mesmo com seus problemas, elas se conheceram na escola e desde então se tornaram melhores amigas. A lua já estava surgindo no céu quando o cheiro do jantar invadia o quarto de Arizona deixando um aroma de carne assada com batatas. Da cozinha ela ouvia seu pai a chamar para o jantar, ela descia as escadas apressadamente com seu vestido branco sem mangas de bolinhas azuis marinho e batendo seus sapatos com salto baixo nos degraus.

-Arizona não desca tão rápido as escadas, parece uma criança correndo pela casa. Daniel sentava à mesa retangular observando o jantar sendo servido enquanto sua filha sentava sorrindo para seus irmãos.

-Desculpa papai estou faminta. Ela o encara deixando que seu sorriso desapareça.

-Você tem que parar de trabalhar desse jeito, tem que se divertir ainda está de folga. Seu irmão mais velho Timonthy colocava uma grande concha do assado em seu prato.

-Eu também acho minha filha tem que aproveitar sua vida, achar um namorado só fica trancada no quarto o dia todo.

-Não fico trancada o dia todo, estava lendo na varanda. Sua voz saia frustrada, seu pai a olhava por cima dos óculos com o olhar 'você entendeu o que eu quero dizer'. -Além do mais as aulas começam amanhã tenho que estar preparada. Afirmava pegando um pedaço da carne e colocando no prato.

-Não sabe o quanto de orgulho que sinto por você Ari. Ele sorria recebendo de volta um sorriso iluminado com duas covinhas entre a boca.

O jantar havia corrido tranquilo seu irmão falava empolgado sobre a temporada de férias e de como os quartos estavam cheios, ele sempre ajudava Daniel com as finanças da pousada e naquele ano tudo tinha ido muito bem.

-Boa noite minha filha espero que amanhã tudo corra bem. Daniel deixava um beijo em sua testa antes de ir para seu quarto.

-Boa noite papai durma bem. Ela subia para seu quarto estalando os degraus da escada.

Em seu quarto que tinha as paredes de um tom rosa claro ela tira seu vestido ficando com sua combinação de cor clara e a trocando por sua camisola branca que ia até seus pés. Com sua mente tranquila ela ela adormece rapidamente sendo levada pelo sono profundo que era interrompido de manhã por seu relógio despertador fazendo um barulho estridente.

Não gostava muito de acordar de manhã mas naquela manhã estava feliz, era o primeiro dia de aula do ano letivo. Tomou seu banho rapidamente colocando uma blusa clara de mangas curtas e uma saia rodada lilás acompanhada de um casaco fino da mesma cor, seus pés acomodavam um salto baixo e suas mãos eram ocupadas por pilhas de papéis. As escadas pareciam um desafio com suas mãos ocupadas e ela descia com muita cautela que foi em vão pois sentiu seu pé deslizar na metade do trajeto. Todas os papéis voaram de suas mãos e seu corpo foi parar no fim da escada, ainda estava meio tonta mas foi em direção as folhas antes que o vento levasse elas para longe, algumas haviam sido sopradas e ela prontamente se abaixou e foi em sua direção não notando um corpo a sua frente. As belas pernas bronzeadas se abaixaram para pegar o papel que tinha parado em seu sapato de couro escuro, seu vestido cor de vinho quase tocava o chão enquanto ela recolhia a folha. Os olhos de Arizona pairavam na folha enquanto via a mulher recolhê-la com cuidado.

-Obrigada ela quase voou para fora. Dizia ajeitando sua roupa e repando na pessoa a sua frente.

-Não há de que. A voz firme saia de seus lábios definidos por um batom vermelho fazendo Arizona sorrir sem jeito pela postura da mulher. -Oh deus que falta de educação a minha. Ela passava a mão na testa. -Me chamo Callie, prazer.

-Me chamo Arizona prazer, eu que peço desculpas por ser tão desajeitada.

Seus olhares se cruzaram e ambas sorriam sem graça.     

Forgive us ours sinsOnde histórias criam vida. Descubra agora