Chuva quente

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Os ensaios para a peça eram sem graça e cinzas sem os sorrisos de Arizona. Callie ainda procurava pelos olhos azuis que sempre se recusavam a sair da sala de aula na hora do intervalo.

-Com licença professora. A morena batia na porta já entrando não dando espaço para ela responder.
Arizona estava sentada em sua mesa próxima a janela que estampava a chuva do lado de fora a sala completamente vazia, usava uma blusa branca de botões e seus olhos estavam enterrados em um livro.

-Me diga professora estou muito ocupada. Ela fala sem tirar atenção das páginas.

-Não é nada só queria saber se você já solucionou o problema que falamos a alguns dias. Callie chega mais próxima a mesa sentindo a frieza de Arizona.

-Isso não lhe diz respeito. Os olhos claros se levantam vendo uma expressão cheia de dúvidas.

-Perdão? Creio que me importa tanto como você. A morena fala firme.

-Deixei muito bem claro que não vamos falar desse assunto no colégio nem em nenhum outro lugar. Sua boca quase não se mexia mas as palavras sem emoção eram ouvidas com clareza.

-Mas Arizona. Ela tenta argumentar mas é impedida pelo muro de tijolos que havia se levantado entre elas.

-Preferia que seguisse me chamando de professora.

-Sabe de uma coisa. Sua voz sai alterada. Me cansei de sua indecisão isso é tão difícil para mim como para você. Nós duas temos muito o que perder, se você não quer que ninguém saiba o que se passa entre nós vai ter que subir a nota da Ruth. Não se dá conta caramba. Ela solta tudo um turbilhão deixando Arizona sem chão.

-Não pensei que era assim. O livro se fecha na mesa e ela se levanta da cadeira.

-Como você quer que seja, chega na minha casa chorando dizendo que sua vida veio abaixo e a única coisa que quero é te dar um abraço, uma solução. Neste minuto o único que que eu quero é te ver sorrir e se para isso você tem que mudar a nota de uma aluna não vou te desencorajar.

Arizona não sabia o que falar apenas prende a respiração passa por entre suas coisas e vai na direção da morena. Callie sente o peso sobre seu corpo soltando sua bolsa no chão; o cheiro da chuva dá lugar ao aroma adocicado que saia dos poros da loira. Ari solta o ar respirando fundo, sentia como se nada lhe pudesse fazer mal em volta dos braços de Calliope se sentia segura, forte, indestrutível. A preocupação com o problema faz ambas darem um passo de distância. Arizona sabia o que fazer; com uma caneta preta ela passa por cima do três vermelho dando lugar a um redondo seis. Callie observava os movimentos cautelosos sentindo uma parte do que lhe tirava o sono indo embora.

-Então, almoça comigo? Já está ficando tarde. A morena quebra o gelo desviando Arizona que encarava o papel estirado em meio aos outros.

-Sim. Mas eu te ajudo a cozinhar. O primeiro sorriso se forma em seus lábios após dias sem expressão. Adorava como Callie lhe fazia sorrir com o menor dos detalhes.

Ela rapidamente recolhe suas coisas as jogando na bolsa e admira a mão macia estendia em sua direção. Elas saem da sala, a chuva já estava fina e o sol ameaçava sair por entre as nuvens pesadas. Passam pelo portão da escola juntas e recebem uma profunda encarada severa de Ruth que esperava junto com algumas garotas na portaria do colégio.

A cozinha com tons rosa claro e chão quadriculado cheirava como uma cantina italiana, já sem os sapatos ambas embarcavam em conversas sobre a escola e sobre a peça que faria sua estreia daqui alguns dias. Enquanto Callie refogava o molho de tomate Arizona picava um punhado de manjericão na tábua próxima a pia. Com as mãos cheias a loira joga as folha já picadas na panela sentindo o aroma doce subindo junto com a fumaça. Seus cotovelos se encostam causando um pequeno choque que caminhava pelo corpo arrepiado de Arizona. Não conseguia imaginar qual foi a última vez que achou alguém sex enquanto cozinhava, mas Callie se tornava cada vez mais atraente sobre a penumbra que vinha do fogão.

Forgive us ours sinsOnde histórias criam vida. Descubra agora