Aquele das apresentações

75 9 5
                                    


A vida de Yoongi era perfeita. O rapaz tinha tudo que teoricamente poderia querer, estudava na faculdade dos seus sonhos, competia, tinha uma família que relativamente o apoiava, estava feliz num geral. Bom, ao menos pensava que estava. Não sabia o que era o 'ser feliz' que tanto lhe falavam. É uma linguagem poética para não se ter problemas, ao menos pensava que era isso. De qualquer forma, não tinha do que reclamar.

Exceto que ele tinha. Acabara de passar por uma frustração com o professor de composição. Aparentemente, sua música autoral não tinha sentimento suficiente. Yoongi não entendia o que faltava, seguiu a métrica na composição, juntou notas que passavam um sentimento alegre, aplicou toda a teoria que aprendera em seu curso, a música estava teoricamente perfeita. Iria provar que o professor estava errado, estava determinado a competir com uma de suas composições e traria o prêmio para a escola, somente para esfregar na cara de seu professor.

Min Yoongi era um rapaz de baixa estatura, cabelos e olhos castanhos e a pele branca leitosa, aluno da Universidade Nacional de Artes da Coreia e cursava seu terceiro ano de música, tinha 22 anos. Amava tudo que envolvia sua faculdade, mas sua grande paixão era aquele piano na sala de música no terceiro andar do prédio. Bom, não só aquele piano, todos os que poderia tocar. Mas aquele era seu exclusivamente para treino e ensaio.

Yoongi era bolsista e concorria nos concursos de música clássica levando o nome da escola, portanto recebia alguns privilégios, como ter uma sala reservada para si, todos os dias no mesmo horário. Naquele dia, estava ensaiando para uma apresentação avaliativa que faria em uma semana. Dessa vez tocaria uma composição própria, então estava mais nervoso do que o normal, principalmente depois de ter sido humilhado por seu professor. Mas não nervoso o suficiente para não perceber quando alguém, descaradamente, invadiu sua sala num horário reservado.

Yoon parou de tocar, virou para o rapaz com cabelo pintado de loiro, olhos castanhos, alto com um kit de pintura na mão e disse:

- Cara, o departamento de arte é no andar de baixo. Estamos no meio do ano, como você não conhece a escola ainda? - Yoongi se surpreendeu com a resposta, porque ela não foi dita.

'Me desculpe, eu tentei acompanhar seu lábio, mas ainda sou péssimo nisso. Acho que entrei na sala errada. Vou indo.' Usou soohwa, linguagem de sinais coreana, para se comunicar.

Taehyung era mais novo que o pianista, estava no seu primeiro ano de artes visuais. Era surdo. Faziam 3 anos que sofreu um acidente de carro e perdera a audição completamente, de ambos os ouvidos. Apesar disso, conseguia falar, mas não era confortável, para si, emitir um som que não poderia ouvir. Por causa disso, aprimorou soohwa e usava para se comunicar. Sua família não ouvia sua voz desde que aprendeu a se comunicar única e completamente com sinais, mas estavam felizes. Como não poderiam estar. Mesmo querendo poder se aproximar mais do rapaz, tinham-no vivo e isso era o suficiente para eles. O acidente foi algo que apavorou todos a volta do rapaz. Mas ele mesmo, levava como algo passado, que não afetou quase nada sua vida. Otimista como só ele, via como se tivesse aprendido uma nova língua, e como se o acidente tivesse causado somente um joelho ralado.

Estava ali na sala para conversar com o professor de história da arte, mas errou o corredor e acabou indo parar na sala errada. Quando Yoongi viu que o intruso ia saindo da sala, e ele ainda não havia conseguido entender o que ele havia sinalizado, o mais baixo se levantou e puxou o loiro pelo braço até a lousa que tinha na sala. Taehyung estava acostumado a ser puxado daquela forma, seus amigos não sabiam como chamá-lo para fazer qualquer coisa que fosse, então costumavam arrastá-lo. De qualquer forma o mais velho escreveu na lousa 'Quer ajuda para se achar? Eu não entendo soohwa então se você puder escrever, vai ser melhor. Mas conheço bem o prédio e posso te ajudar'.

Taehyung acenou com a cabeça e sorriu para o moreno, pegou a caneta de sua mão e escreveu no quadro branco 'vim falar com o professor de história da arte, mas acho que errei o caminho', 'a propósito, sou Kim Taehyung, prazer'. Esperou um pouco, pensando nessa apresentação curta e confusa e continuou a escrever 'estou no primeiro ano de artes visuais, tenho 20 anos - imagino que seja meu hyung, certo?'. Agora sim, se sentia satisfeito com o que tinha escrito.

O terceiranista escreveu sua própria apresentação, e continuou 'eu posso te levar, conheço bem esse aqui, e sei de cor a sala dos professores'. Depois disso, trocaram mais algumas informações sobre si, e Yoongi acabou por levar Taehyung até a sala que ele procurava. O caminho foi em silêncio, mas não poderia ser de outro jeito, afinal, mesmo se o mais velho falasse, o outro não o ouviria; já o mais novo ficava mais confortável em silêncio. A situação em si não poderia ser mais confortável. O pianista deixou o mais novo até a sala do professor e se despediu. Voltou sozinho para a sala de música mas o rapaz loiro dos olhos castanhos não lhe saía da cabeça. Estava intrigado com o mesmo. Passou o resto do ensaio sem conseguir se concentrar na sua música.

Essa foi a primeira vez que Min Yoongi se encontrou com Kim Taehyung, o que foi obra do destino. Também foi a primeira vez que o pianista levantou de seu banco no horário de ensaio, obra da curiosidade do rapaz. Foi a primeira vez que Yoongi teve interesse em um garoto, provavelmente, obra dos hormônios juvenis. Mal sabia ele que essa não seria a última - com esse mesmo garoto. Ou que despertou o mesmo sentimento no loiro, além de uma necessidade descontrolada de encontrá-lo novamente. Dali em diante, seria obra de ambos os meninos. Seu destino lhes fora entregue e o que aconteceria mais para frente dependia somente deles.

River flows in you - TaeGiOnde histórias criam vida. Descubra agora