Quando Clara vai trabalhar em sua casa, Ana começa a ter sentimentos até então desconhecidos por ela. Depois de várias voltas Ana vê sua vida e tudo o que acreditava mudar de caminho. Mais ainda quando se vê apaixonada por quem menos esperava. Entr...
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Capítulo XV
Os dias foram passando, e a cada nova manhã Clara chegava em casa com algo diferente, em seu rosto já não havia mais maquiagem, as vestes foram ficando cada vez mais longas, em seu olhar não havia mais o brilho que costumava ter e em seu rosto era difícil de ver o sorriso que me encantou a primeira vez que a vi. Fui interrompida dos meus pensamentos pela voz da minha mãe:
-Filha tudo bem? -perguntou ela que estava sentada à mesa comigo.
-Sim mãe, tá tudo bem. Eu preciso ir tô atrasada já.
-Cedo assim Ana?
-Sim, quero compensar a semana que fiquei fora né mãe, mesmo que ele disse que não precisa eu quero ir.
-Ta certo filha, você tem razão.
-Até a noite mãe -falei dando um beijo nela.
Peguei minhas coisas e passei pelo portão, já ia tranca-lo quando ouvi um carro parando em frente. Virei-me e vi Clara descendo e rapidamente fechando a porta, e claro que como sempre ela parecia assustada.
-Bom dia Clara, tudo bem?
-Bom dia Ana tudo sim. Não precisa trancar eu já vou entrar -ela disse impaciente abrindo novamente o portão.
-Ei calma, parece apressada, fica calma a Bell ainda não acordou e minha mãe está tomando café. -disse tocando em seu ombro. Nesse momento ouço a porta do motorista do carro bater e uma mulher veio em nossa direção, ela não me era estranha eu já havia visto só não lembrava de onde.
-Algo errado Clara? -perguntou a mulher.
-Ah... não nenhum Mikaela, pode ir para casa. -falou Clara apontando para o carro. Então essa era a namorada dela, eu não podia ser mal-educada então a cumprimentei.
-Oi, prazer sou Ana. -falei com um gentil sorriso.
-É eu sei bem quem você é. -disse ela num tom grosso. -Te pego a noite o mesmo horário, e não se atrase Clara.
-Tá bem -respondeu ela com a cabeça baixa entrando portão a dentro. -Mikaela me encarou e caminhou até seu carro, porém só saiu quando Clara entrou em casa.
Foi uma situação realmente estranha e a sensação de conhecer aquela mulher ainda continuava em mim.
Durante o dia todo foquei no trabalho, quando meu turno acabou fui para casa tomei um banho e me deitei pra descansar um pouco, estava lendo quando bateram à porta:
-Oi, será que posso entrar? -disse Clara acanhada.
-Oi, pode sim, entra aí.
Fechei o livro e sentei-me na cama, apontei para a cama e disse:
-Pode sentar.
-Ta, olha eu queria me desculpa com você pelo o que aconteceu hoje cedo, a Mikaela foi inconveniente e grossa ela não deveria.
-Acha não se preocupa Clara, vai ver ela achou que eu estava te incomodando, ela só estava cuidando de você.
-Queria que fosse só isso mesmo -resmungou ela baixinho.
-Porque? Não foi só isso? -perguntei.
-É, foi sim. Bom eu só queria me desculpar. -ela foi em direção a porta antes que pudesse sair confrontei:
-Há quanto tempo voltou com ela? -ela permaneceu em silêncio. -Desculpe não quis parecer intrometida.
-Não, tudo bem. -falou se virando. -Voltamos quando você foi viajar.
-E você está feliz com isso? Quero dizer você não parece tão feliz quanto estava quando veio trabalhar aqui. -falei tentando faze-la se abrir comigo.
-Bom, a Mikaela é difícil de lidar, temos nossas diferenças, mas nós estamos bem, com o tempo vamos nos acostumando. -falou sentando-se na cama novamente.
-Você não tem que se acostumar a um namoro, tem que se sentir bem, e essa não foi a pergunta que eu te fiz, não me disse se está feliz -rebati.
-Eu estou... -ela baixou a cabeça
-Desculpa, mas não consigo acreditar em você, você não é a mesma que eu conheci quando veio trabalhar aqui, seus olhos brilhavam, estava sempre maquiada, você irradiava felicidade por onde passava, e hoje está apagada, não sorri como antes. Eu percebi isso desde quando voltei de viagem, o que aconteceu enquanto estive fora? -ela permaneceu em silencio mais uma vez. -Clara, pode confiar em mim, se estiver acontecendo algo eu posso te ajudar.
-Como assim acontecendo alguma coisa? -perguntou me olhando
-Qual é, acha que eu não percebi que você fica chorando no quarto da Bell? Ou quando está no banheiro? Acha que eu não reparo nos seus olhos vermelhos? Ou quando fica apreensiva quando vai se aproximando a hora de você ir embora?
-Onde está querendo chegar Ana?
-Acho que você sabe onde. -seus olhos começaram a se encher de água. -Você chegou machucada aqui por vários dias e....
-Eu bati. -disse me cortando.
-Ninguém bate tanto o corpo assim Clara, e batidas não causam hematomas tão específicos como aqueles.
-O que tá querendo dizer?
-Estou dizendo que simples batidas não causam hematomas daquela magnitude, seu joelho chegou a luxar...
-Mais uma vez Ana, onde está querendo chegar? -rebateu um pouco mais fria
-Pode ter havido sei lá, uma discussão entre você e a Mikaela e ela poderia ter esbarrando em você e....
-Para, nem continua Ana -ela falou se levantando novamente -Eu já entendi onde você quer chegar, e nós não vamos ter essa conversa
-Se você não quer falar sobre é porque é isso que está acontecendo, você precisa conversar com alguém e...
-Chega Ana. É a minha vida e você não tem que se meter. -disse me cortando e batendo a porta do quarto.
Eu não podia encerrar aquela conversa daquela forma, o jeito que ela ficou, deixou claro que o que eu estava dizendo era a verdade, me levantei e fui atrás dela.
-Ei, não sai batendo a porta do meu quarto eu não terminei de falar com você.
-Você não tem o direto de se meter na minha vida assim Ana, isso é um assunto meu. -gritou ela.
-Você tem razão, isso não é um assunto meu, mas eu me preocupo com você, e se isso estiver rolando eu quero ajudar, me deixa ajudar Clara.
-Você não pode Ana - ela disse chorando sentando-se no sofá. -Você realmente não pode se meter nisso.
-Porque não? Eu só quero ajudar, eu... eu me importo com você, talvez não devesse, mas eu me importo. -disse me ajoelhado em sua frente pegando em sua mão.
-Clara, eu gosto de você, eu me preocupo e só quero te ajudar.
Ela me olhou e com lágrimas escorrendo, passou a mão pelo meu rosto e sorriu.
-Eu realmente não posso deixar você se meter nisso Ana, seria loucura.
-Porque?
-Porque ela sabe sobre o beijo Ana. Por isso ela te tratou tão mal, ela sabe sobre meus sentimentos por você.
