Segredos

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Capítulo  XXIII

Depois da faculdade Amanda me deixou em casa, não falamos sobre o que havia acontecido então presumia que estava tudo bem conosco. Quando cheguei em casa eu fiquei um tempo sentada no portão de casa pensando na minha vida e em tudo que estava acontecendo, fiquei revirando na cabeça a hipótese de Mikaela realmente ter algo a ver com os acontecimentos recentes, e ao ficar pensando e remoendo reparei que alguém parado me olhava do outro lado da rua, me levantei lentamente e a pessoa que usava um casaco de frio preto e touca na cabeça deu um passo à frente, eu então coloquei a mão sobre o portão na intenção de abri-lo, quando fiz o gesto mais três passos trouxeram essa pessoa para o meio da rua iluminando seu rosto embaixo do capuz, era ela.

-Mikaela?

-Quer dizer então que a patricinha sabe o meu nome? Qual será o passarinho que contou? -disse retirando o capuz. Eu me encostei no portão tentando não demonstrar o nervosismo.

-O que você quer? -perguntei

-Acho que você está com uma coisa que é minha lá dentro, já a procurei em casa e no hospital, não está em nenhum e como ela não conhece ninguém aqui esse seria o único lugar para onde ela viria então, entra e diz pra ela que eu estou aqui. -disse apontando para a casa.

-Por que eu faria isso? Você quase a matou -retruquei.

-Foi isso que ela disse? -falou rindo.

-Acredita que ela nem precisou dizer? Até porque ela já havia chegado machucada aqui em casa antes, e agora dessa forma que ela ficou, não foi difícil pra os médicos descobrirem que ela sofreu violência doméstica, e acredite por mim você estaria na cadeia.

-Só que isso não depende de você não é pequena Ana? Agora cala essa boca e vai chamar a Clara que eu estou cansada e quero ir pra casa -falou ela irritada encostando seu rosto ao meu, eu gelei nesse momento.

Mikaela causava medo realmente, ela era alta morena de cabelo curto tinha o corpo malhado, dava pra ver que tinha músculos formados, piercing na sobrancelha e na língua, usava um lápis de olho escuro, jaqueta preta, calça colada e um coturno preto. Ela foi se afastando de mim e dando sinal para que eu entrasse em casa, eu fiquei com medo de rebater e fazer mais algum comentário então me virei para abrir o portão e nesse momento vi Clara parada na porta de muletas, entrei até o assoalho:

-O que ta fazendo? Volta pra dentro –sussurro.

-Eu não posso, ela não vai embora, e ela quase te bateu agora, não dá pra arriscar eu preciso falar com ela -respondeu

-O que? Não, não pode ir lá, ela quer te levar com ela.

-Eu sei, então vou precisar convence-la. -eu a olhei questionando se o que ela fazia era realmente a melhor escolha -Não se preocupe Ana, vai ficar tudo bem.

Clara foi até o portão e do lado de dentro começou a conversar com Mikaela, parecia ser uma conversa realmente calma, Mikaela parecia estar entendendo Clara mesmo contra sua vontade, mas não demorou muito até que Mikaella desse o seu show e então começou a gritar que Clara deveria voltar com ela, que aquilo não estava certo. Clara não estava com toda sua força, não conseguiria impedir se ela forçasse o portão, então resolvi me meter na conversa e pedir para que ela fosse embora, eu podia já que estava em minha casa.

-Ok Mikaela, tá na hora de você parar e ir pra casa, a Clara precisa descansar -falei me aproximando do portão.

-E quem você acha que é pra me dar alguma ordem patricinha? -respondeu revoltada.

-Mikaela, por favor, eu vou me recuperar e ficar bem, e quando isso acontecer eu volto pra casa ok? Só vai embora. -suplicou Clara.

-Você promete? Promete que vai voltar pra mim? Você sabe que eu sinto muito, eu não queria, você promete voltar? Eu disse que eu vou me cuidar. -disse Mikaela com lágrimas nos olhos.

-É amor, eu prometo eu vou voltar pra casa assim que estiver melhor, aqui tem mais recursos e eu não vou precisar ficar indo e voltando, até porque aqui tem mais conforto, e elas vão fazer tudo o que eu pedir você sabe né -disse Clara dando um sorriso de lado.

-Eu ainda sim acho que você deveria vir comigo, eu posso cuidar de você Clara, você não precisa delas e eu não gosto da ideia de você ficar perto dessa garota 24h então é melhor vir comigo -Mikaela colocou a mão entre as grades do portão segurando o braço de Clara ao mesmo tempo em que forçava o portão para entrar.

-Mikaela para, está me machucando -disse Clara, seu olhar agora era de medo.

-Solta ela, ela já disse que não quer ir, e é melhor sair da minha casa -falei empurrando e fechando o portão novamente. Nesse momento ouvimos a porta de casa batendo e passos em nossa direção, era a minha mãe que caminhava até nós com uma mão para trás.

-Acho que a menina já deixou claro de que não quer ir com você não é mesmo? Então eu peço gentilmente que saia da frente da minha casa antes que eu chame a polícia -disse minha mãe segurando no ombro de Clara.

-Acha que me dá medo tia? Se fosse esperta não estaria falando assim comigo agora.

-Mikaela para, deixa elas em paz, eu volto pra casa assim que eu ficar bem eu primeiro agora vai embora.

-Ouviu? Ela volta quando ela estiver pronta, por ora ela vai ficar aqui na minha casa, e você vai sumir, não quero te ver rondando a minha casa, se eu te ver aqui mais uma vez sem ser a pedido da Clara eu chamo a polícia, agora se quiser ainda sair daqui andando peço para que vá embora. -disse minha mãe mexendo o braço que estava para trás, seu olhar precisa sombrio, ela não hesitou em falar com ela, não havia medo e ela não estava nervosa, pra dizer a verdade eu nunca tinha visto minha mãe convicta daquela forma.

-Ta certo. Eu vou, e te ligo depois, quando as babás não estiverem por perto. -falou Mikaela olhando para a minha mãe e se afastando do portão em direção ao carro do outro lado da rua, as falas da minha mãe pareciam ter feito efeito nela.

-Vamos entrar meninas, não é seguro ficar aqui fora.

Ajudei Clara a entrar. Já dentro de casa fui atrás da minha mãe até seu quarto, e percebi pela brecha da porta que ela guardara algo em uma gaveta do criado mudo ao lado da cama.

-Mãe?

-Oi filha -ela se virou rápido.

-Ta tudo bem?

-Eu é quem devia fazer essa pergunta Ana, ta tudo bem? E a Clara? Eu não gostei nem um pouco dessa garota, a forma que ela falava que ela olhava para você, temos que tomar cuidado com ela.

-Não se preocupe nós estamos bem, agora eu quero fazer uma pergunta, porque ela simplesmente foi embora quando você pediu? -perguntei.

-Eu não sei Ana, talvez ela percebeu a burrice que iria estar fazendo ameaçando uma mãe de família.

-Foi só isso mesmo? Você parecia intimidar ela.

-Não podemos nos sentir fracas perto de pessoas como ela, porque se não elas simplesmente vão fazer o que quiser conosco. Eu vou tomar um banho e descansar, amanhã já começa tudo novamente.

-Ta bem. -ela entrou no banheiro que havia em seu quarto e ligou o chuveiro, eu odiava o fato de suspeitar da minha mãe, mas estava muito estranho o fato dela intimidar Mikaella daquela forma e depois guardar algo na gaveta, eu precisava saber o que era, então eu fui até o criado mudo e abri a gaveta, havia alguns papéis e uma caixa. Não havia nada de importante na caixa além de mais papéis, quando eu percebi que havia algo atrás da caixa, eu a retirei da gaveta, ela estava bem encaixada como se fosse uma camuflagem, quando a retirei me assustei ao ver que o que minha mãe guardava ali era uma arma.


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