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☀️🌊🌑

Sempre ao acordar, mesmo depois de tanto tempo, Jungkook sentia algo vazio dentro de si.

Sempre que acordava e não escutava os pássaros cantando ao longe ou as panelas sendo batidas na cozinha, algo dentro de si parecia se despedaçar uma vez mais.

Alguns dias eram mais fáceis que outros. Em certas manhãs ele nem se lembrava que tinha sido diferente em algum momento, mas existiam também dias em que parecia impossível se levantar da cama sem se desmontar em pedacinhos junto de seu coração.

E era como se ele sentisse, como se tivesse alguma espécie de radar. Porque nessas manhãs, Hoseok sempre surgia com seu sorriso em formato de coração, jeito exagerado e bandejas de café da manhã.

— Veja o que encontrei enquanto vinha trabalhar — o mais velho falou estendendo para Jungkook uma pequena tigela com amoras. — Deram antes da hora, estão doce como o pecado.

Jungkook sorriu e aceitou colocando algumas das frutas em sua boca sentindo o sabor doce explodir em seu palato.

— Me prometeu sair. — O mais novo fingiu não ter entendido, mas Hoseok o conhecia como a si mesmo. — Não se faça de desentendido, vamos sair para ver o pomar em flor.

Não adiantaria discutir com o alfa mais velho, ele era tão teimoso quanto ele próprio. Então, apenas concordou tomando um gole de café com leite que tinha na bandeja notando o olhar atento de Hoseok sobre ele. Ultimamente vinha notando aqueles olhares demorados do outro sobre si, e não sabia muito bem o motivo daquilo.

— O que foi? — sinalizou vendo o outro corar e negar rapidamente balançando os cabelos escuros.

— Não é nada — Hoseok disse se levantando. — Preciso trabalhar, mas mais tarde venho para lembrá-lo de nosso compromisso — disse com o dedo em haste e Jungkook rolou os olhos assentindo.

Quando a porta do quarto voltou a se fechar ele encarou a tinta púrpura das amoras manchando seus dedos pálidos. Há muito em sua vida não existia mais música ou som algum, mas o amigo nunca deixava que faltasse cor.

• • •

Esperou ter o sonho novamente naquela noite, como se tivesse que ver mais uma vez aquele pequeno peixe dourado que vinha atormentando seu sono a tantos anos para se certificar de sua cor.

Mas não sonhou com nada.

Quando se deitou depois de quase uma hora conversando com Namjoon na cozinha, Seokjin apagou em um sono pesado e merecido para seu corpo exausto.

E mesmo que sua mente não lhe desse trégua alguma, pelo menos tinha acordado um pouco mais disposto.

— Dormiu bem, Visconde? — Viu a mulher que o servia perguntar em um tom amistoso. Ali os serviçais conversavam com ele e isso era estranhamente reconfortante. Se sentia acolhido como parte da rotina daquela casa.

— Dormi feito uma pedra, Seulgi-ssi — falou se lembrando do nome que lhe foi dito no dia anterior, e ela sorriu enquanto servia mais leite. — Me desculpe — começou tendo a atenção da beta — , mas posso te fazer uma pergunta?

— Claro, se eu puder responder — ela concordou e secou as mãos no avental direcionando sua atenção ao ômega.

— Aquele garoto, Taehyung, os olhos dele... — Ela assentiu dizendo entender. — É uma herança de família?

— Ah... Eu não sei. — ela respondeu pensativa. — Ninguém sabe de onde o Taehyung veio, ele apareceu na mata, Namjoon quem o achou. Pobrezinho, estava todo machucado quando chegou aqui — Seulgi suspirou parecendo chateada com aquelas lembranças. — Ele diz que não se lembra de como foi parar aqui. Acho que ele deve ter caído de algum caminhão que levava sertanejos para as roças de cana-de-açucar mais ao Sul, esse tipo de coisa acontece por aqui.

O Sal De Tua Pele | TaeNamJinOnde histórias criam vida. Descubra agora