Prologue

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"Wei Ying."
"Você prometeu."

"Eu sinto muito."

   Wuxian bloqueou o celular encostando a cabeça no apoio do assento. Seu peito estava doendo tanto que mal conseguia respirar. Sentia um vazio enorme e uma tristeza que parecia querer consumi-lo. As lágrimas desciam livremente por seu rosto, encharcando sua máscara a medida em que o garoto soluçava. Felizmente, ou não, o assento ao lado estava vazio e não havia ninguém para vê-lo daquele jeito.

   De repente, Wuxian desejou que sua irmã estivesse ali para confortá-lo e dizer que tudo ficaria bem, mesmo que ele soubesse que não ficaria e demoraria anos para aquela ferida cicatrizar. Se é que cicatrizaria. Estava se sentindo culpado por deixar WangJi para trás sem nenhuma explicação, principalmente depois de tudo que havia acontecido desde que se envolveram. Porém, naquele momento, pareceu o certo a se fazer para o bem dos dois. Já não conseguia mais lidar com aquilo e não precisava carregar o Lan para o fundo do poço consigo.

   Cinco anos depois, Wei Wuxian ainda tinha as últimas mensagens que havia trocado com Lan WangJi salvas no celular. Elas eram um lembrete do maior e mais doloroso erro que havia cometido em toda sua vida e um aviso de que não deveria cometê-lo novamente.

   —O que eu faço? – Perguntou a si mesmo, escondendo o rosto nas mãos. – Maldita promessa...

   Algumas batidas soaram pelo consultório, fazendo-o respirar fundo algumas vezes antes de permitir a entrada de quem quer que fosse.

   —Dr. Wei?

   Um adolescente conhecido por Wuxian enfiou a cabeça na fresta da porta e sorriu fraco ao encontrar o olhar do médico. Wuxian sentiu seu coração afundar no peito, ele era filho da mulher que não havia conseguido salvar. Era um garoto doce, muito bem educado, com quem o médico havia desenvolvido uma certa amizade ao longo do tratamento da mulher de meia idade.

   —Sizhui? – Wuxian se levantou, para recepcionar o garoto que adentrou o consultório timidamente. – Achei que estivesse em Pequim.

   —Eu estava, mas voltei para buscar umas coisas no apartamento da minha mãe e... – Sizhui fechou a porta atrás de si e se aproximou do médico. – Queria falar com o senhor antes de voltar.

   Wuxian indicou que ele se sentasse a sua frente, antes de perguntar:

   —Tudo bem, sobre o que você quer falar?

   —Minha mãe deixou algo para o senhor. – O garoto colocou um envelope em cima da mesa com as mãos trêmulas. – Disse que se acontecesse alguma coisa era para eu te entregar. Eu quis entregar antes, mas meus irmãos me levaram para Pequim.

   —Obrigado. – Wuxian pegou o envelope, sentido um aperto no peito e uma vontade de chorar que logo tratou de afastar. Ao erguer o olhar, viu que Sizhui ainda encarava o envelope. – Quer que eu leia para você?

   —Não precisa, eu sei o que tem aí. Mas... Doutor?

   —Pode falar.

   O garoto respirou fundo algumas vezes, parecendo tomar coragem para falar.

   —Pretende ir a Pequim? Eu queria que o senhor fosse visitar a minha mãe.

   Novamente Wuxian se sentiu prestes a chorar. Ao contrário do que ele esperava, Sizhui estava ali não o culpando, não gritando com ele por não ter conseguido salvar sua mãe, mas sim pedindo com um olha sincero que ele fosse "visitá-la".

   Porém ainda havia um problema. Pequim era a cidade dos pesadelos de Wuxian, o lugar em que perdeu praticamente tudo que dava um sentido a sua vida na época. Não sabia se estava com força psicológica o suficiente para enfrentar tudo após tantos anos.

   —Eu sei o que aconteceu entre o senhor e meu irmão. – Sizhui interrompeu seus pensamentos, fazendo-o arregalar os olhos. – Não se preocupe, foi só... um convite. O senhor pode ir quando estiver pronto.

   Após a saída de Sizhui, Wuxian permaneceu encarando o envelope em suas mãos, se lembrando de todas as conversas que teve com a mãe do garoto. Era até irônico ele ter aparecido no momento exato em que o médico se encontrava refletindo sobre uma promessa que havia feito a ela. Um nó se formava em sua garganta a medida em que abria o envelope com toda a delicadeza que tinha. Com dois dedos puxou o papel dobrado, derrubando um saquinho azul claro que também estava lá dentro.

   Wuxian deixou o papel de lado e pegou o saquinho, em seguida puxou a fita azul escura que o mantinha fechado. Lá dentro havia uma pulseira prateada com nuvens gravadas por toda parte, era o símbolo da família dela, da família dele. Sabia que aquele objeto havia sido feito a mão, como ela havia prometido em uma de suas conversas.

   Ainda segurando a pulseira com as mãos trêmulas, Wuxian se lembrou da última conversa que teve com a mulher e uma lágrima sorrateira escorreu por sua bochecha. Enquanto prendia a pulseira em seu pulso direito, resolveu tomar logo uma decisão que estava adiando há meses e não tardou a ligar para alguém que podia ajudá-lo.

   —Lembra quando você me disse que se eu quisesse voltar discretamente poderia contar com você? – Perguntou, recebendo uma confirmação da pessoa do outro lado da linha. – Preciso de você mais do que nunca agora.

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