Cap. 10 - Injustice

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ATENÇÃO: ESTE CAPÍTULO POSSUI CENAS DE VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA.
Música: So far away - Agust D
O domingo havia amanhecido nublado, logo ideias de um bom e farto café da manhã vem a minha cabeça. Levanto realizando minha rotina matinal decidindo ir ao shopping comprar algumas roupas e aproveitar para esvaziar minha mente já que ontem tudo que consegui fazer foi dormir e acordar com medo da paralisia se repetir novamente. Eu estava exausta, exausta de conviver com o meu passado, exausta da culpa e dos pensamentos que me perseguiam diariamente.
O shopping não estava muito cheio mas apesar de todas as roupas de variadas cores estarem a minha frente, meu pensamento encontrava-se perdido. Eu estava vivendo uma batalha contra mim mesma. Sinto meu celular vibrar dentro da minha bolsa. Saio da loja para atender mas era tarde demais, a ligação havia caído. Suspiro vendo o número desconhecido tentando controlar a minha curiosidade. Me sento em um dos bancos do corredor do shopping decidindo ligar de volta para o número, eu não conseguiria lidar com essa inquietação por muito tempo.
"Este número não pode receber ligações."
A frase se repetia na minha mente me deixando cada vez mais ansiosa. Começo a verificar as mensagem mas nenhuma delas pareciam se referir a essa ligação inesperada. O celular vibra na minha mão fazendo-me estremecer de susto mas atendo antes do fim do primeiro toque.

"Olá, quem deseja?" - pergunto sem exitar.

"Aqui é da delegacia de violência contra a mulher, estamos ligando apenas para avisar que o senhor Noah, cuja senhorita realizou queixa, conseguiu liberdade provisória até a data do julgamento." - A voz madura da mulher soa e eu sinto meu corpo paralisar. Minhas mãos soavam e eu sinto os primeiros sintomas da crise de pânico me atingirem.

"Isso quer dizer que ele está livre ?" - minha voz soa fraca, quase como um sussurro me deixando incerta se a mulher do outro lado da linha havia me escutado. Isso era injusto.

Desligo a ligação, guardando o celular na minha bolsa mas ainda sem forças para levantar. Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto mas eu não possuía forças para limpa-las. Tem um ditado que se aplica perfeitamente a minha situação atual "Não há nada tão ruim que não possa piorar."
O ar faltava nos meus pulmões e em seguida eu sentia mais um chute acertar minha barriga. Os palavrões se repetiam em minha mente, mas eu merecia tudo isso. Eu merecia cada movimento deferido pelo homem que agora deixava a marca da sua mão no meu pulso.
Pisco várias vezes seguidas voltando a ver o shopping após a recordação. As lágrimas não mais escorriam pelo meu rosto, meus punho estava serrado e tudo que eu desejava agora era socar alguma coisa, seja o meu agressor do passado ou a mim mesma, por ter permitido que ele fizesse isso.
Me levanto em um impulso voltando para casa com passos duros, eu não podia mais esconder isso, eu precisava enfrentar os meus traumas para me libertar deles.
Chego no meu apartamento, deixando meus sapatos na porta. Pego uma cadeira, levando-a até o quarto. A posiciono de frente ao espelho me sentando em seguida. Eu precisava ter essa conversa comigo mesma e eu havia a prolongado por tempo demais.

| O ano era 2016, haviam passado alguns anos desde a morte prematura de Elisa. Mas a culpa ainda inundava o meu coração, eu desejava poder voltar no tempo a todo instante, para dizer o que eu não havia dito e fazer o que eu não havia feito. Eu desejava apenas alguns dias a mais com ela, mas o tempo não volta. |

Sinto meu peito doer com todas as lembranças mas eu precisava, precisava encarar isso de frente. Olho meu reflexo no espelho, vendo meu delineador borrado pelas lágrimas que inundavam o meu rosto.

| Eu já cursava psicologia, depois da morte de Elisa eu havia desistido de cursar literatura e encontrara minha verdadeira vocação. Eu consegui compreender com clareza as fases do luto, os sentimentos de tristeza extrema que me invadiam. Mas não diminuíam todos esses sentimentos que tomavam conta de mim. Por algum motivo eu sentia a necessidade de ser castigada pela morte da Elisa. Eu necessitava sentir a dor física pois a psicológica estava me deixando louca. |

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