Capítulo 1

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"Gee, acho que a gente precisa ir," Mikey se virou para mim, sussurrando em meu ouvido enquanto presenciávamos a igreja ir se esvaziando e as pessoas acompanhando os noivos que saíam para receber a chuva de arroz e pétalas de flores vermelhas que os aguardavam lá fora.

Apesar de passar das sete da noite, o sol ainda não havia se posto. Obrigado, verão. Por mais que eu não seja fã de sol, era agradável sair de ambientes fechados - como aquela capela gótica, úmida e praticamente sem janelas - e encarar o céu com tons de rosa e laranja.

Acompanhei Mikey para fora da igreja e Jon e Alicia, sua agora esposa já haviam ido para o salão onde aconteceria a festa. As pessoas se separavam em grupos e eu ficava aflito, com receio que alguém que eu não conhecesse viesse puxar algum assunto em espanhol comigo. Eu não falava nada além de "bom dia", "qual o preço?" ou "como eu faço para chegar em tal lugar?". Okay, para uma viagem à Barcelona talvez eu tivesse me conformado com isso rápido demais, mas como todo anglófono, não me atentei a isso.

Entramos no táxi e Mikey repassou o endereço ao motorista, seguindo a dica de Jon que em Barcelona você deve se referir ao cruzamento e não ao endereço exato em que você ia. Como era nosso primeiro dia na cidade, eu não fazia a menor ideia do caminho, tampouco do que via diante dos meus olhos, mas apreciava. Algo sobre a largura das ruas, as árvores nas calçadas, as pessoas nas mesas bebendo àquela hora e rindo. A frequência na qual aquela cidade vibrava era algo que eu não entenderia tão cedo.

Era a primeira vez que eu tirava férias para viajar e se meu irmão não tivesse insistido, eu provavelmente estaria preso no porão de casa colocando em prática minhas ideias para mais uma história em quadrinhos. "Gerard, você tem muitas ideias e poucas experiências," Mikey dizia. "Você tem que viver um pouco," então não tive muita escolha quando contei a ele que meu melhor amigo da faculdade ia se casar em Barcelona, para onde tinha mudado no ano passado. Mikey pegou carona na situação e se aproveitou da oportunidade para se jogar na sua viagem dos sonhos, resolveu que começaria sua volta ao mundo, começando por Barcelona.

Chegamos ao restaurante onde aconteceria a festa e tive a sensação de que o motorista do nosso uber tinha sido mais eficaz que todos os outros, porque fomos praticamente os primeiros a chegar. Exceto por Ray.

E era um grande amigo de Jon e uma pessoa adorável. Fiquei extremamente aliviado em ver alguém que não falasse só espanhol ou catalão (a família da noiva era a maioria na ocasião) e ele pareceu feliz ao me ver, porque acenou.

"Mikey, estamos seguros," comentei com meu irmão e só rezava para que Jon e a noiva tivessem me colocado na mesa com ele. Considerando que ele estava sozinho, era uma opção viável.

"Hey, Gerard!" ele disse, me puxando para um meio abraço conforme me aproximei. "Quanto tempo! Faz sei lá... Três anos?"

"Acho que sim. Passa rápido demais, né?" comentei. "Ah, Ray, esse é meu irmão, Mikey." Eles se cumprimentaram com um aperto de mão. A banda tocava um jazz ao fundo, havia uma grande árvore no meio do lugar que parecia um quintal, mas ao mesmo tempo me dava a sensação de estar em uma cena de um filme do Woody Allen. Aos poucos, o sol ia se pondo.

"Quando vocês chegaram?" Ray nos perguntou. "Eu estou acabado, cheguei ontem. O jet lag tá me matando."

Eu estava ocupado olhando ao meu redor, um pouco ansioso com a situação e um pouco me concentrando na decoração quando meus olhos cruzaram com ele, que vinha com um copo de drink na mão, uma calça preta justa, uma camisa branca e muitas tatuagens. Pelo pouco que conseguia ver, as mãos eram fechadas e o pescoço, apesar de a gola cobrir muito, tinha várias também. Era simplesmente lindo;

"... Não é, Gerard?" a menção ao meu nome me fez desviar. Levei um pouco de tempo até perceber que era Mikey.

"Desculpa, o quê?"

"Que daqui a gente vai seguir viagem," Mikey me explicou, me fazendo identificar que provavelmente ele estava contando para Ray nossos planos. "mas que você vai pra Paris e depois pra Lisboa e eu, pra Itália."

"Sim, claro," eu disse, mais ocupado em prestar atenção no homem que vinha em nossa direção. Será que eu tinha encarado demais? "Mas eu vou passar uns dias aqui ainda, preciso ver umas coisas e-"

"Ah, esse aqui é o Frank," Ray interrompeu, sinalizando o homem que estendeu a mão para o meu irmão.

"Olá!" e como se não tivesse mais nada para me perder na visão, a voz era perfeita e o sotaque familiar. Depois de Mikey apertar sua mão, ele a estendeu para mim acompanhando o gesto de um sorriso convidativo demais. "Tudo bem?"

De repente, parecia que eu ia finalmente começar a entender a frequência na qual aquela cidade vibrava. "Eu sou o Gerard, prazer," e sem perceber, estava sorrindo de volta, apertando a sua mão durante tempo demais.

**

N/A: depois de quase cinco meses em casa, achei que seria legal viajar um pouco (nem que seja na cabeça). Primeiro capítulo é sempre assim, meio lento, né? Obrigada por lerem. :)

Into The Night [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora