Capítulo 9

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Voltamos para o apartamento de Frank antes que o sol tivesse se posto por completo, a contagem regressiva me assombrando, me fazendo querer aproveitar cada segundo que tínhamos juntos ainda.

Ray tinha saído, deixando o apartamento para que pudéssemos passar o máximo de tempo juntos antes de Frank partir, para nos despedirmos de maneira apropriada. E mais uma vez o tempo passou rápido demais, cada minuto valendo um segundo.

Já eram oito da noite, o que significava que Frank devia estar no aeroporto em duas horas. Mas desde que chegamos, ele estava ocupado demais para arrumar suas coisas - não que fossem muitas. E não é como se o seu voo fosse longo como o meu seria, estava mais para uma ponte aérea.

Eu repousava minha cabeça sobre seu ombro, traçando as tatuagens de seu peito com a ponta de meus dedos. Eram tantos, mas tantos desenhos que eu precisava de muito tempo para decorar todos. Eu tentava guardar o máximo possível dos detalhes em minha mente, porque não sabia quando olharia para aquela obra de arte novamente.

"Você não pode ficar mais um dia pelo menos?" perguntei, minha voz soando mais entrecortada do que eu gostaria. Ele deslizava seus dedos pelos meus fios de cabelo em um gesto carinhoso.

"Infelizmente não," ele respondeu. "Você não tem como ir pra Londres mesmo?" sem responder, neguei novamente com a cabeça.

"Obrigado, Frank, foram as menos de vinte e quatro horas mais inusitadas da minha vida."

"Espero que com inusitadas você queira dizer incríveis," ele disse, me fazendo elevar a cabeça de seu peito para olhá-lo nos olhos mais uma vez. Sorri para ele. "A gente vai dar um jeito, Gerard," ele me beijou mais uma vez.

"Eu tenho certeza que sim," concordei. "Eu vou tentar vir pra Londres o mais rápido que eu conseguir. A gente vai se falando. A gente pode até se encontrar no meio do caminho, de repente? Fazer uma viagem juntos."

"Essa ideia é ótima mesmo!" Frank foi se esquivando de mim e por mais que me doesse, eu sabia que precisava ceder e deixá-lo ir. "A gente pode ir planejando a viagem junto, que tal?"

Frank começou com a movimentação que me dava calafrios e confirmava o fim: guardando as roupas jogadas pelo quarto, organizando uma coisa ou outra dentro de uma necessaire, jogando tudo dentro de sua mochila. Eu só fiquei sentado na cama, ainda trajando apenas a minha boxer e debatendo internamente se iria ou não acompanhá-lo até o aeroporto.

Eu havia me apaixonado e agora tinha certeza de que eu só queria largar tudo e ir atrás dele, conhecer mais, acompanhar sua vida e viver meus dias ao seu lado. Eu queria beijá-lo em todos os lugares possíveis e passar muitas noites em claro transando para morrer de cansaço em seguida. Todas as evidências apontavam para aquilo: a gente combinava, parecia armadilha do destino.

Depois de se arrumar e fechar sua mochila, eu ainda sentado na beirada da cama, apenas observando, mas agora completamente vestido. "Eu... preciso ir," ele disse, caminhando em minha direção.

Frank se sentou sobre mim, uma perna de cada lado de minhas coxas, as mãos em meus ombros. Segurei suas coxas com firmeza, apertando-as com desejo. Nossas bocas pressionadas juntas, nossas línguas se explorando de maneira ritmada. Se ele não tivesse um avião para pegar em algumas horas, com certeza começaríamos tudo outra vez. Deixei seus lábios para trilhar um caminho de beijos pelo seu pescoço, me aproximando de sua orelha.

"Fica," sussurrei em um tom que soou mais como um gemido. Ele apertou meus braços e se desvencilhou de meus lábios para me olhar.

"Gerard, por favor..." seu olhar parecia um pouco melancólico, os lábios não estavam arqueados em um sorriso e eu simplesmente me dei por vencido.

"Tudo bem, então. Mas eu vou com você até o aeroporto, posso?"

"Sério? É claro que pode," ele me envolveu em um abraço apertado antes de se erguer do meu colo e ir até o canto do quarto buscando a mochila grande para jogar sobre seus ombros.

Levantei-me da cama, Frank andando pelo quarto para dar uma última checada se havia pegado tudo. Avisei Mikey que iria acompanhar Frank no aeroporto. "O Ray não vai voltar pra Londres com você?"

"Não, ele vai pra Madrid amanhã," ele parou próximo à porta. "Ele disse pra gente deixar a chave embaixo do tapete. Vamos?" acenei positivamente e o segui em direção à porta.

**

Eu não sabia mais se tinha sido uma boa ideia vir até o aeroporto no minuto em que pisamos no saguão. Minha cabeça buscava atalhos para um futuro que a gente dividia juntos, eu indo buscá-lo no aeroporto de Newark, ou descendo em Londres. Muito me doía pensar, no entanto, que todo encontro tem uma despedida.

Tentei não parecer tão melancólico e focar nas migalhas de tempo que ainda tínhamos juntos. Eu sabia que fazer planos juntos fazia parte, mas começava a duvidar que íamos conseguir nos manter tão próximos com tantos quilómetros de distância entre nós. A rotina é um rolo compressor, o que seria de nós quando voltássemos para nossas vidas de antes?

Fomos andando até a porta de embarque, nossa última parada juntos. Um último beijo, um abraço apertado e uma ferida que demoraria a fechar, com certeza.

"É muito cedo pra falar que eu vou sentir sua falta?" questionei.

"Acho que não, porque eu também vou," os olhos de Frank eram da cor mais linda que eu já tinha visto, pareciam brilhantes demais, como se ele fosse chorar. Eu mesmo estava com dificuldade para me controlar. "Me manda depois a sua história? Eu quero ler. E não esquece de ouvir a música que eu falei, okay?"

Acenei positivamente. "Você me avisa quando pousar? Só pra saber se você chegou bem," eu pedi. "E eu quero ouvir suas músicas."

"Okay!" ele concordou. Puxei-o para um último abraço, um nó se formando em minha garganta. "Foi um prazer te conhecer," ele disse, selando nossos lábios uma última vez antes de se desvencilhar.

"Eu que o diga. Obrigado pela noite," falei enquanto ele se afastava e passava pela porta de embarque. Ele se virou para trás, sorrindo para mim e falando um 'boa viagem' sem som.

Quando a porta automática se fechou, eu me senti perdido - como se uma parte de mim tivesse mudado para sempre. Se por um lado eu estava chateado pelo pouco tempo com ele, as últimas 24 horas tinham parecido uma viagem dentro da viagem, e isso aquecia meu coração. 

Into The Night [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora