Capítulo 5

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Depois de mais algum tempo andando, eu já não sentia mais meus pés, ou meus lábios, ou minha própria existência de tão grande o meu cansaço, mas chegamos finalmente à praia. Parecia que havíamos corrido uma maratona e a festa de casamento de Jon estava mais longe do que nunca.

O barulho das ondas chegando à areia era suave. Havia palmeiras na área que antecedia a areia e a brisa do mar era gelada. O céu começava a dar indícios que ia começar a clarear - eram quatro e meia da manhã, afinal.

Eu estava cansado, Frank estava cansado. Eu podia dizer pela maneira como ele caminhava que aquilo estava começando a se tornar cansativo, mas ele seguia sendo a pessoa incrível do começo da noite. Por mais que o beijo trocado no meio do bairro gótico tivesse me dado energia, ela já estava começando a se esgotar.

"Veja, Gerard," ele disse. "Eu sei que não é nenhuma Atlantic City, que convenhamos, dá um banho nisso aqui, mas o que você acha de a gente ver o sol nascer por aqui?" fomos andando em direção a um dos bancos que de frente para o mar. Ele foi o primeiro a se sentar. "Nossa, essa bota tá me matando," ele confessou, desfazendo os cadarços de seus calçados. Sentei-me ao seu lado.

Algo sempre me encantava nos momentos de transição do sol, quando ele está se pondo e a luz vai baixando quase imperceptivelmente e ao nascer, quando você mal percebe que está tudo claro. Naquele segundo, eu me sentia ainda mais íntimo de Frank, em dividir algo tão pessoal quanto o nascer do sol com ele.

"Realmente, Atlantic City é muito superior," eu disse, fingindo arrogância e ele riu mais uma vez. O dia clareava, eu sabia que precisava guardar aquela risada porque meus anseios do começo da noite estavam se tornando reais: nosso tempo estava acabando. Recostei minha cabeça em seu ombro, assistindo ao sol que nascia e clareava o mar. "Eu nunca pensei que ia assistir ao nascer do sol no mediterrâneo."

"Tem uma primeira vez pra tudo nessa vida," Frank disse. "E a última informação útil da noite, porque eu nao consigo mais pensar em nada: essa areia foi trazida, essas palmeiras foram plantadas, essa praia é fake. Mas é linda, né?"

Eu pensava em que talvez fosse essa a primeira vez que eu estava realmente me apaixonando. Como se em algumas horas a configuração do meu cérebro pudesse mudar de maneira drástica e meu coração disparar ao pensar em Frank. Mas não ia falar nada, ele provavelmente me acharia um louco.

"Obrigado," eu disse, minha mão buscando a sua para que elas se entrelaçassem. "Foi um ótimo tour," sussurrei ao pé de seu ouvido. Ele virou seu rosto brevemente para deixar um novo beijo sobre meus lábios.

"Vamos?" questionou, o sol já começando a surgir no horizonte e as pessoas de hábitos extremamente diurnos começando a surgir pelas ruas - algumas para trabalhar, outras para correr pela orla.

"Pra onde?" eu não queria me despedir dele ainda, sentia que havia tanto a ser feito. A adrenalina percorreu meu corpo - ou era apenas tristeza? Sentia que, se necessário, aguentaria andar por mais vinte quilómetros ainda. "Eu não quero me despedir ainda," confessei, tocando seu rosto com a mão que não segurava a sua.

Foi Frank quem avançou sobre meus lábios dessa vez, não tardando a aprofundar o beijo. Nossas línguas se exploravam e dançavam juntas como se fossem antigas conhecidas, nossas mãos passeando pelos corpos em busca de maior contato. Eu não acreditava que aquele era o adeus, eu simplesmente não estava pronto.

Quando Frank mordeu meu lábio inferior, me percebi soltando um gemido baixo, me dizendo que eu jamais estaria cansado demais para o próximo passo com ele. Seguimos com o beijo, minha mão invadindo sua camisa e tocando sua pele macia. Havia tanto ainda a ser explorado. Não podia ser o adeus ainda.

"Pro meu apartamento," ele disse, ainda contra os meus lábios. Acenei positivamente. "Mas por favor, vamos chamar um uber porque eu estou morto," Frank estabeleceu certa distância entre nossos lábios.

Inconformado, toquei a ponta de seu queixo com meus dedos, selando nossos lábios. "Onde você tava esses anos todos em Jersey?"

"Não sei... Mas nos últimos dois, em Londres, e sei também que você deveria... Ah é! Trocar seu roteiro e passar o resto da sua viagem comigo," sem que eu pudesse responder, ele voltou a ocupar meus lábios com os seus, em um beijo cheio de desejo. Já não me importava mais onde estávamos e se alguém olhava, eu só não queria que aquele momento acabasse.

"Essa proposta se torna impossível de recusar a cada hora," confessei, rindo baixo e separando nossos lábios.

Frank se desvencilhou de meu toque para pegar o celular em seu bolso. "Nossa, já são seis horas!" me olhou incrédulo. Os olhos dele estavam vermelhos, julguei que estivesse cansado. "Vou chamar o uber e avisar Ray que estamos indo pra lá, mas tenho certeza que ele tá dormindo..."

Antes de pegar o celular, ele voltou a amarrar os cadarços de seus coturnos. Em pé, ele digitava freneticamente enquanto ia caminhando em direção ao meio-fio da calçada. Se eu já estava cansado antes, agora eu era praticamente um zumbi.

Nosso carro não tardou a chegar e levou pouco tempo até chegar no apartamento que Frank tinha alugado com Ray, em um prédio antigo. Pela enésima vez na noite (ou manhã agora) eu não fazia ideia de onde estava, mas me parecia um lugar que eu já tinha estado antes. Ficava especulando em que parte da noite teríamos passado por lá - se é que tivéssemos passado.

Descemos do carro e entramos no prédio que parecia ter no mínimo cem anos - o elevador antigo tinha grades e precisava ser manualmente aberto e fechado, algo que eu nunca tinha visto antes. Descemos no terceiro andar, onde ele e Ray estavam hospedados.

Acompanhei-o pelo corredor estreito com chão de mármore em direção à porta de madeira. Quando lá chegamos, ele girou a chave com cuidado para não fazer barulho. O apartamento parecia enorme, mas eu não conseguia identificar a planta muito bem.

Caminhávamos na ponta dos pés pelo corredor principal - parecia que havia mil quartos, mas julguei que atrás de cada uma das portas houvesse um cômodo diferente. "Você quer água?" ele ofereceu, sussurrando e eu aceitei com um aceno de cabeça.

Eu estava certo, atrás de uma daquelas portas estava a cozinha. Entramos e Frank a fechou atrás de nós. Não dei muito espaço ou tempo para ele antes de envolvê-lo em meus braços, unindo nossos lábios para um beijo cheio de desejo e o empurrando contra a porta.

Frank me correspondia com o mesmo vigor que eu o beijava, suas mãos indo afobadas em direção à minha camisa para desfazer os botões. Antes que ele chegasse no terceiro, eu já me sentia ansioso em relação ao que aconteceria em seguida.

E mais uma vez, ele se desvencilhou de meus toques, separando nossos lábios. "Eu te ofereci água, Gerard!" disse divertido, me fazendo questionar onde ele ainda achava força para fazer piada.

Ele se esquivou de mim para buscar um copo. Eu pensando que um copo de água, entre outras coisas, não se negava a ninguém. Àquela altura, eu já não me importava mais se estava com sede ou sono eu só pensava em uma coisa: Frank.

Into The Night [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora