No fim, o apartamento que Frank estava hospedado não era tão longe assim do meu hotel. Fugi de Mikey mais uma vez, ele me chamando de "viado maldito cheio de fogo no cu" e falando que eu era um péssimo irmão por tê-lo convidado para ser meu acompanhante em um casamento que não tinha a menor intenção de ficar. Sua sorte, segundo ele, é que Ray era um cara incrível e tornou a experiência mais suportável.
Eu sabia que Mikey estava brincando, no fim das contas. Comentei rapidamente com ele sobre a minha noite e conforme ia repassando as cenas na minha cabeça, parecia um sonho. Ou um filme. Ou um filme sobre um sonho, de tão surreal. Mikey parecia empolgado, e afinal me encorajou a seguir meu itinerário.
O brilho dourado do sol da tarde dava uma outra atmosfera às ruas em que eu passava, que agora estavam completamente cheias de gente - vários turistas, algumas pessoas correndo para lá e para cá, bebês em carrinho, cachorros na coleira.
Entramos em mais um uber, Frank dando a direção ao motorista e eu me deixando ser guiado. Eu já confiava em Frank o bastante para simplesmente me deixar guiar, sem imaginar para onde estávamos indo, mas parecia ser relativamente longe do centro. Não questionei, ele tinha dito que era uma surpresa.
O motorista nos deixou em uma rua íngreme e completamente residencial. Talvez esse fosse realmente o momento em que Frank ia me matar e jogar meu corpo no campinho de futebol. Talvez eu estivesse exagerando.
"Você sabe onde a gente tá?" perguntei pra ele, que parado na esquina olhava ao redor, para se localizar. Ele sorriu quando pareceu ter uma epifania e segurou minha mão para me puxar em direção ao suposto local.
"Agora sim! É estranho, né?"
"Completamente! Eu acho que aqui é onde as pessoas da cidade realmente moram, Frank, não sei-"
"Calma, Gerard," ele disse, parando. "Confia em mim?" sorrindo, estabelecemos contato visual. Acenei positivamente. Contornamos o campinho de futebol de várzea (o que eu achei que ele fosse jogar meu corpo) e íamos em direção ao que parecia ser uma escada infinita no meio de uma trilha de arbustos. "Agora se prepara porque vai doer um pouco."
"Você falando desse jeito me faz pensar em outra coisa," falei rindo.
"Isso depois," ele me lançou um olhar malicioso, mordendo seu lábio inferior. Frank soltou minha mão e começou a subir os degraus largos com calma, eu seguindo. "Eu só fumei dois cigarros hoje por isso," ele completou.
O começo da subida foi tranquilo, apesar de cansativo, mas quando chegamos no meio, resolvi virar para trás. Quando vi todos aqueles degraus já subidos e olhei para frente, vendo muitos mais, me desesperei.
"Tudo bem?" ele perguntou divertido. Acenei. "Se você quiser, a gente pode voltar."
"Acho que não tem muito como voltar agora, né?" eu disse, ofegante enquanto seguíamos subindo. "Estou começando a achar que deveria ter escutado minha mãe quando ela dizia para nunca seguir estranhos para locais desconhecidos," Frank riu, sofrendo mais para recuperar a respiração.
Chegamos no topo da montanha e conforme nos aproximávamos da rua, algumas pichações no chão diziam "morte aos turistas," ou "vocês não são bem vindos" .
"Frank, olha isso... Acho que não somos bem vindos," indiquei a frase pintada no chão. "Agora não estou mais com medo de você me matar, mas sigo com receio de ser morto."
"Não acredito que você achou que eu fosse te matar. Gerard, você é muito neurótico," Frank ria, ofegando mais do que nunca. "Nesse minuto eu gostaria muito de não ser fumante,"
"É, eu também," eu disse.
O lugar ao qual Frank queria me levar se chamava Bunkers del Carmel. Era uma ruína de uns bunkers construídos durante a Guerra Civil Espanhola que acabaram se tornando um mirante. O lugar era no mínimo excêntrico, o terreno irregular dava a sensação de que a qualquer momento a gente poderia escorregar e cair ladeira abaixo. As ruínas eram coloridas com grafites.
Sentamo-nos em uma mureta, nossos pés sem tocar o chão. A vista era uma das coisas mais lindas que eu havia presenciado na minha vida inteira: à nossa frente, a cidade de Barcelona se estendia como um tapete. Nada de arranha-céus, todos os prédios pareciam ter mais ou menos a mesma altura, todos os quarteirões a mesma largura o que dava uma sensação de ordem que era muito reconfortante. A majestosa Sagrada Família surgia imponente no meio daquele caos organizado. Ao final das grandes avenidas, o mar mediterrâneo lá no fundo, me deixando confuso e tentando entender onde ele beijava o céu. Por um segundo, achei que tivesse morrido.
"Gostou?" Frank me perguntou.
"Porra, é absurdo," confessei. Envolvi os ombros de Frank com um de meus braços, puxando-o contra mim. "Desculpa duvidar de você e achar que você fosse me assassinar," eu disse divertido.
"Eu te perdoo," Frank disse se virando para beijar o canto dos meus lábios. "Mas só se você for me visitar em Londres."
"Olha, Frank, depois de hoje, eu quero morar em Londres."
"Vem morar comigo!" ele repousou sua mão em minha coxa. Por mais que conversássemos, ainda observamos a vista à nossa frente. "Faz muito menos sol, acho que você vai gostar mais. E a gente pode fazer tanta coisa junto. E eu vou te levar pra me ver tocar e até dedicar uma música pra você."
"Eu queria ouvir você tocando e queria acordar mais vezes ao seu lado. Olha, você falando assim torna tudo tão possível..."
"E Gerard, tem tanta coisa pra fazer naquele lugar!" ele dizia empolgado, gesticulando com as mãos enquanto falava. Soltei seu ombro para buscar meu maço de cigarros em minha calça. "É claro que eu ia te deixar em cativeiro por um tempo antes, porque né, a gente tem outras explorações pra fazer," estendi o maço para Frank pegar um cigarro e ele agradeceu quando levei o isqueiro à ponta do mesmo.
"Sim, eu acho que tem muita coisa pra fazer em Londres, mas definitivamente tem muito mais coisa pra fazer com você," lancei-lhe um olhar malicioso, acendendo o meu próprio cigarro. Rimos baixinho juntos.
"Que merda. Eu queria que a gente tivesse mais tempo junto," sua voz assumia um tom de melancolia que me cortava por dentro. Compartilhávamos do mesmo sentimento. Traguei profundamente o meu cigarro. "Eu to pensando em visitar meus pais no inverno, logo no começo do ano," ele continuou.
Frank se virou um pouco de frente para mim e por mais que fossem apenas planos, eu estava disposto a me agarrar a eles. "É sério? Uau, isso ia ser perfeito."
"Sim, janeiro ou fevereiro. Eu só preciso juntar um pouco mais de dinheiro, pra passagem."
"Se você quiser, eu te ajudo," eu disse. Ele sorriu. O aperto do meu coração era tão enorme àquela hora que eu só tinha vontade de congelar o tempo naquele segundo. Tudo só tinha piorado ao longo daquele dia e me aborrecia pensar que estava chegando ao final. "E eu posso tirar uns dias pra gente poder ir viajar pro norte, o que acha?"
"Esse plano é ótimo!" disse empolgado. Nossos lábios se uniram mais uma vez em um beijo, nossas línguas se entrelaçando e a as mãos puxando nossos corpos, eu aproveitava cada segundo para sentir a pele macia de Frank sob a ponta de meus dedos, me deliciando com aquele sabor que eu sabia que não sentiria tão cedo.
Nos separamos com a respiração irregular, um sorriso que de tão grande, parecia nem combinar com meus lábios. "A gente dá um jeito, Frank. Eu te ligo todos os dias, a gente manda mensagem. Eu planejo a minha vinda pra Londres," eu falava, acariciando sua bochecha com meu polegar.
"This is the first day of my life, I'm glad I didn't die before I met you," ele cantou baixinho. Eu não conhecia a música, mas também me sentia como se fosse o primeiro dia da minha vida e também estava feliz por tê-lo conhecido antes de morrer. Envolvi-o num abraço apertado, meu olhar vendo o sol começando a deixar o céu cada vez mais laranja.
"Que música é essa?"
"É First Day of My Life, do Bright Eyes," Frank falou. "Depois você ouve. E lembra de mim."
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N/A: E tem como ouvir essa música sem pensar nesses dois?
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Into The Night [FRERARD]
FanfictionO casamento de seu melhor amigo é a oportunidade que Gerard encontra para embarcar em uma viagem pela Europa, arrastado por seu irmão. Entre taças de vinhos e ruas largas, ele não imagina que se apaixonaria por mais do que lugares. [Disclaimer: ess...