Into The Night [FRERARD]

Capítulo 3

Estávamos parados ainda no mesmo lugar, em frente à Sagrada Família, em uma parte da rua que era aberta apenas para pedestres. "Vem, você precisa ver as outras partes." Frank tomou minha mão com a sua e me puxou para darmos a volta.

"Você já veio?"

"Sim, vim ontem," a imponente construção ainda dominava a região e parecia maior ainda de perto. Havia tanto detalhe em cada pequeno pedaço da fachada que era praticamente impossível identificar tudo em uma olhada. "Você tem sorte, porque eu posso te contar um pouco do que eu lembro. Quer dizer, a não ser que você não queira spoilers," ele disse.

"Ia falar pra gente voltar aqui depois, pra ver com calma," depois de contornar um pouco a igreja, paramos em frente a outra fachada. Não sei em que momento eu simplesmente comecei a incluir Frank nos meus planos. De novo, não fazia doze horas que eu tinha conhecido o cara. "Mas não ligo pra spoilers. E né, não acho que exista spoiler de igreja," eu disse, fazendo-o rir.

"Vendo por esse lado..." ele parou e soltou minha mão, estendendo a sua mão. "Tá vendo aquele Jesus ali?" eu acenei positivamente, olhando para onde ele estava apontando. "Olha a cabeça dele," apesar de escuro, dava pra ver que a cabeça da estátua parecia... Um livro.

"Nossa... É um-"

"Livro!" ele me interrompeu, olhando para mim maravilhado. "Segundo o guia, é pra simbolizar que a vida de Jesus era 'um livro aberto', ou algo assim," eu estava embasbacado. "E tem mais. Você viu que ele tá nu? Esse é o único Jesus nu no mundo inteiro," ele se virou pra mim, um sorriso divertido nos lábios. "Agora imagina o escândalo?"

"Sim!" eu ri. "Um Jesus nu. Numa igreja!" rimos como se fosse uma piada e eu me sentia feliz em compartilhar. "O que mais você pode falar? Sem dar spoilers, é claro."

"Bom, você não vai conseguir ver," ele dizia, gesticulando com as mãos. "Mas por dentro, tem um lance com a iluminação. Os vitrais de um lado são de uma cor e quando bate o sol da manhã neles, você tem uma sensação. Os vitrais do lado oposto são de outra cor, ou seja, outra sensação. Mas a parte mais irada é que dentro, tudo parece... Feito de osso?"

"Genial," eu disse. Eu queria beijá-lo ali mesmo e quem sabe explorar todo seu corpo. Mas não ia cometer um atentado ao pudor no primeiro dia de viagem. Ele se virou para mim e deu um passo em minha direção - a tensão entre nós podia ser cortada com uma faca no ar, de tão densa.

Frank colocou as mãos sobre meus ombros, cada palavra que trocada entre nós estabelecendo mais intimidade. "Agora eu mais ou menos sei onde a gente tá," ele murmurou. Desviei o olhar do seu porque eu simplesmente não estava conseguindo e não percebi quando uma mecha do meu cabelo caiu sobre meus olhos e ele a ajeitou atrás da minha orelha. Era agora. "Onde é o seu hotel?"

"Hm... Na Las Remblas, eu acho. Eu não sei," eu não tinha decorado e de qualquer forma, seria impossível lembrar naquele segundo.

"Las Ramblas," ele me corrigiu, me fazendo erguer uma das sobrancelhas - entenda, eu odeio ser corrigido. "Ótimo, porque é mais ou menos pra lá que a gente vai," da mesma forma repentina que ele me tocou, me soltou e voltou a andar em alguma direção. Eu estava realmente começando a me questionar se sair andando com um estranho pela cidade no meio da noite era a melhor decisão.

"Você não tá, sei lá, com receio, Frank?" questionei, marchando ao seu lado enquanto nos afastávamos da Sagrada Família.

"Receio do quê?"

"Sei lá, de ser... Roubado, sequestrado ou algo assim," Frank riu como se eu tivesse contando uma piada. "Qual é, não é engraçado, é sério!"

"Gerard, não estamos em Jersey. Relaxa."

Andamos por mais algumas quadras, com Frank acendendo alguns cigarros pelo caminho, eu dividindo alguns e me perguntando como aquele maço de Marlboro vermelho ainda não tinha acabado. E por que raios eu estava fumando vermelho quando meu cigarro de preferência era o branco. De certa forma, acreditava que tragar o mesmo cigarro que ele fosse como beijar seus lábios - mas me corrigia, pensando que era uma ideia ridícula.