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Bellamy nunca foi um garoto muito racional, desde jovem quando se esquivava dos guardas em busca de algo divertido pra entreter a irmã mais nova, nunca pensava nas consequências das suas ações, mesmo quando as intenções eram das melhores. Afinal que mal tem em um garoto buscando novos brinquedos pra sua irmã? Exceto que os brinquedos ja tinham donos, e que não se podia ter irmãos...

A sorte de Aurora é que ele era um filho bonzinho, e felizmente um irmão maravilhoso. Como filho e irmão, Bellamy sabia que pelo menos quando vivia na arca com a familia ele era motivo de orgulho - claro que, até cometer a burrada de deixar tentar usar a razão e a emoção de forma errada, levando Octavia numa festa, resultando em ambos numa nave enviada pra Terra e tudo que sucedeu depois.

Ele tinha a melhor das intenções de fato, sua irmã merecia. Mas devido a seu histórico de instabilidade emocional ele devia considerar o que poderia ou não da errado. Mas não considerou. Sempre soube usar mais o coração que a cabeça. Nunca tinha aprendido sozinho a equilibrar os dois.

Até conhecer a Clarke.

A cabeça pode enxergar o que o coração não consegue ver de primeira, porque o essencial é invisível aos olhos, mas não só por isso.

O que mantém um deles
funcionando é a existência do outro, se não houvesse um coração para ter batimentos cardíacos, o cérebro perderia a sua função de mandar sinais pra um corpo continuar vivo. Haveria sentido físico, mas não sentimental.

Como a dor. A dor só existe nas entrelinhas. Você a sente porque o cérebro te "obriga" a sentir - mas é você que está no comando na maioria das vezes, só não sabe disso.

E o que seria do amor? O amor é não só sentir mas também pensar. É decisão, ação e reação. É o início, meio e o fim. Nao importa qual tipo. Ha quem diga que o amor é fraqueza, mas até pra admitir isso você tem que ter sido fraco. Não da pra explicar o amor sem senti-lo.

Pode até ser confundido com fraqueza, mas ai a culpa já não é do sentimento. É sua. Você faz as escolhas. Você usa a cabeça, o coração ou ambos, mas a responsabilidade das escolhas são suas. O amor não é só culpa. O amor não é só dor, muito menos fraqueza.

O amor é o resultado de um trabalho em conjunto, de uma via dupla. A cabeça e o coração, e a linha que os interliga seja expelindo ações pra fora de um corpo, ou atraindo essas duas raras conchas do lado de fora. Como uma linha invisível que se enlaça com a proximidade quando você conhece alguém que encaixaria a ponta da linha igual e exatamente à sua.

Duas cabeças, uma só conexão ligada ao coração. É assim que se descobre as almas gêmeas.

No entanto as vezes uma vida não é suficiente pra esse encontro.

É por isso que dizem que o amor é questão de sorte. Não ele num todo, mas essa conexão de almas nem todos são afortunados de encontrar a outra linha em vida.

Mas ha aqueles que acham. Estes costumam se completar de forma espontânea. Sem rótulos, sem certezas. Eles apenas são.

E agem de acordo a como sabem melhor viver. Arriscando e amando.

Bellamy acorda com um chiado e um barulho de máquina ligando, era o módulo dele abrindo. Ele senta e quando os pés tocam o chão, sente frio, ele não estava mais acostumado com o ar frio do espaço. Seu corpo reagia deixando a superficie da pele por baixo da roupa completamente dormente, ele passa as mãos em seus braços pra uma leve aquecida e anda. Antes de deixar a sala ele nota que mais um módulo estava aberto, quando acompanha o olhar para o visor do lado, percebe que é o de Clarke, e estava vazio, ele volta a olhar pra todas as cápsulas e se pergunta se estavam programadas pra despertar assim, em minutos diferentes.

Não pensou nenhum momento que pudesse ter algo errado, então ele deixou a sala de criogenia e saiu a procura dela.

A Eligius IV era bem diferente do anel, ele explorou a direita da sala em que estava e se resumia em corredores imensos somente de celas, dos prisioneiros, ele entrou em uma delas e achou pertences femininos em cima de uma cama simples. Era uma cela minúscula, toda cinza e nada além da cama. Bellamy automaticamente lembrou da arca, e de Clarke, ela contou que havia ficado numa solitária antes de ser apagada e enviada pra terra, ele até hoje não sabia porque a princesa tinha ganho esse pequeno infortúnio em seu destino, nunca perguntou e agora podia admitir que não era algo totalmente ruim, afinal, se ela não fosse enviada pra terra e ele não fosse como guarda pra proteger Octavia, eles nunca teriam se conhecido, eram de mundos muito distintos.

Ele sai da cela e volta pelo caminho que veio, queria ver se os amigos ja tinham acordado, mas antes de chegar no fim do corredor ele ouve barulho de água, como em um aquário. Ha muito tempo ele não tinha uma assimilação parecida, a ultima vez que viu um aquário de perto fora na arca, mas parecia igual a alguma coisa nadando e espalhando água.

Primeiro ficou curioso, mas logo em seguida em alerta, alguma tubulação pode ter estourado e deixado eles em apuro e por isso as capsulas estão se abrindo. Se esse temor fosse real, eles estavam em uma enrrascada.

Espiou por uma das janelas e viu que a Terra era só um pontinho longe e flamejante no meio do espaço. Se ele se atentasse ao que vira, lembraria que não planejavam sair do circulo interno do sistema solar, mas o barulho d'água era o que inquietava sua mente agora.

Com o mesmo estranhamento de Clarke, notou um corredor suspeito na nave, como se fosse uma passagem falsa, antes não estava ali mas agora estava. Ou ele estava louco, quem sabe as capsulas por dentro borrifavam alguma substância que confundisse o cérebro do indivíduo.

Só podia ter certeza do que era se tirasse a prova, então a curiosidade o venceu, e ele girou o corpo e foi atrás do som.

𝐁𝐄𝐘𝐎𝐍𝐃 𝐈𝐍𝐅𝐈𝐍𝐈𝐓𝐄 ² | 𝙱𝚎𝚕𝚕𝚊𝚛𝚔𝚎Where stories live. Discover now