𝐁𝐄𝐘𝐎𝐍𝐃 𝐈𝐍𝐅𝐈𝐍𝐈𝐓𝐄 ² | 𝙱𝚎𝚕𝚕𝚊𝚛𝚔𝚎

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Não é como se ele fosse admitir que ele vinha contando o tempo que estava "sozinho" - mas ele contava. Quarenta e cinco tracinhos no grande mural da parede ao lado da cama em um dos quartos do 'outro lado', equivalia a quarenta e cinco dias...um mês e quinze dias sem falar uma palavra com a Clarke.

Sim, ela estava o evitando e por mais que ele soubesse que ela tinha noção do tempo que estavam gastando com essa reação infantil, não moveu um dedo pra mudar a situação. Ela era orgulhosa, ele sabia que não daria o primeiro passo, devia ta esperando ele cansar e falar com ela a força.

No início ele jurou que ela ficaria desperdiçando o tempo deles o quanto quisesse. Tudo bem, ele tava com raiva, tinha quase aberto seu coração, na verdade deu a ela a posse da chave, mas ela recusou e foi embora. Ele podia lidar com isso? Não como achou que pudesse.

Nos primeiros quinze dias foi okay, a nave-mãe era imensa, muita coisa a ser feita, ele pode correr entre os longos corredores pra se exercitar, e tinha um salão de luta livre com todo tipo de equipamento que ele adorou testar todos os dias. Além da distração é claro, ele também leu as anotações que Monty deixara, havia mais uma carta novamente pedindo perdão para ele e Clarke, mas ele nem abriu, não queria sentir angústia sem necessidade. Precisava limpar a mente e com isso focar em algo produtivo, uma coisa por vez.

Entender as instruções do amigo foi muito mais difícil do que ele pensava, não eram só descrições do que fazer, tinham mini textos, alguns recortados de livros, que explicavam sobre cada ferramenta e o que fazer com ela, à parte da construção da cápsula em si. Aquilo ainda lhes daria muita dor de cabeça.

A partir do trigésimo dia a solidão começou a ser perturbadora, quando ficava agitado ele lembrava que Clarke passara dois meses sozinha na terra antes de encontrar Madi. Ela era incrível...ele não conseguiria de jeito nenhum, não estava sozinho - literalmente - ali e ainda sim parecia prestes a enlouquecer a qualquer minuto. Sentia falta dela, até mesmo do contato do corpo de ambos próximo um ao outro, desde que ela trouxe Echo para aquela conversa e ele deixou claro tudo que pôde sobre seu antigo relacionamento e sobre como se sentia agora, ela fugira dele. Escolheu um lado da nave e se refugiou la, não delimitou nem nada, mas como ela nunca vinha pro lado dele Bellamy entendeu que era uma mensagem clara de que cada um devia ficar onde estavam.

O que compartilhavam em comum era a piscina. O melhor lugar de paz pra eles. Mas ainda sim quando coincidia de chegarem la ao mesmo tempo ou ele está la e ela chegar depois... lembrava a ele que nada tinha mudado, porque ela dava meia volta e saia...de novo.

Aquilo era exaustivo, francamente!

E agora quarenta e cinco dias depois, pensava irritado sobre toda sua situação com Clarke enquanto se virava na cama tentando dormir, fechava os olhos por minutos mas pensamentos iam e viam na sua mente, então ele sentou irritado, afastou os lençóis e virou o corpo pra que as pernas tocassem o chão.

Se ele não conseguia dormir por culpa dela, ela também não tinha direito de dormir em paz.

Ele levantou descalço pisando no chão frio - raramente usava um sapato ali, como aquele nivel da nave era extremamente limpo, ele e Clarke usavam somente o necessário e um calçado não estava incluso, se tava limpo antes não seria ele que ia sujar, tanto que nem suas roupas normais voltou a vestir, seu novo vestuário era composto por uniformes nunca usados da elite da Eligius.

A temperatura costumava ser bem mais baixa de madrugada ali, provavelmente pelos aparelhos refrigeradores de alta tecnologia que mantinham o ar gélido ao invés de quente como seria na terra ou mais perto de algum planeta; sim, no anel quando estavam perto da terra e de todo sistema solar a temperatura era como uma imã familiar que mantinha tudo moderadamente aquecido. Agora, como eles estavam deslocando no meio do vazio com nada além de estrelas e detritos espaciais no caminho, o ar era frio como um grande vácuo.

Bellamy então saiu do quarto e se dirigiu a 'parte dela', não sabia exatamente em que quarto estava, imaginou que não era o mesmo no qual deixou ela uma vez porque ela saberia que ele iria direto la. Abriu todas as portas das cabines - mais de dez, só que Clarke não estava em nenhuma delas. Não estava naquele nível. Ele estranhou...era hora de dormir, ela não estaria em outro lugar porque caiu no sono ja que em todos os quartos que viu não parecia ter sido usado alguma vez, e eles ja estavam naquilo ha mais de um mês.

"Não ouse ficar preocupado, seu idiota" falou consigo mesmo enquanto deixava o 'outro lado' e ia pra nave-mãe, o nivel inferior, da criogenia e celas dos prisioneiros e tentava não criar possibilidades negativas pra ela não estar la.

Mas nem foi necessário procurar muito, quando virou o terceiro corredor, uma cela no meio estava com a luz acesa e refletia do lado de fora ja que a porta estava aberta. Bellamy não precisou diminuir os passos porque estava descalço então sua chegada ja seria silenciosa.

Quando chegou no batente da porta dela viu que também estava acordada. Ela não notou a presença dele porque estava sentada no chão de costas pra ele e...desenhando?

Sim...desenhando. Ele levantou o olhar e do chão ao teto tinham lindos desenhos feitos por ela, desenhos reais, de coisas vividas, que ela lembrava, medos, sonhos...estava maravilhado com cada detalhe em todos os desenhos mas seus olhos se prenderam a um específico, o dele.

Ela o tinha desenhado e ele nem sequer lembrava de qual momento era aquele, não era uma lembrança, era só um desenho mas era dele muito mais jovem, talvez de quando se conheceram assim que pousaram na terra. É, decididamente é daquele tempo, o cabelo dele parecia arrumado demais e isso depois de três dias la embaixo mudou pra nunca mais ficar alinhado de novo.

Ele sorri internamente por estar naquela parede, por ela lembrar...se ela desenhou ele especificamente quando se conheceram é porque ele ainda é importante e ela colocou la, em destaque, porque tava pensando nele, certo? "não confie nessa lógica" ele mesmo se respondeu em pensamentos. Sim, um Bellamy realista e outro sonhador dividiam a mesma mente e quando o assunto era Clarke, estavam sempre em conflito.

Cansado de permanecer naquela posição encostado a porta, ele decidiu se fazer ser ouvido, a assustando com sua voz.

-- Não sabia que lembrava de mim tão bem assim quando a gente se conheceu...