Capítulo III

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Depois de passar o domingo inteiro na cabine e comer só frutas e os lanches que as amigas traziam, Tamara estava entediada.

Já era tarde de segunda-feira, amanhã o navio faria sua primeira parada. Ela passava a maior parte do tempo sozinha, já que Mallu e as outras estavam sempre se divertindo, elas falavam muito sobre um grupo de amigos que conheceram no cruzeiro e ontem Mallu lhe disse que tinha ficado com um rapaz chamado Bucky.

Tamara até que se sentia calma, mas sabia que isso era só porque estava na cabine, no momento que colocasse os pés para fora toda aquela angústia voltava.

Olhando para o oceano, ela se lembrou do conselho que a mãe lhe deu quando se despediram no aeroporto: Viva sua vida e divirta-se.

Porque era tão difícil fazer isso?

Suspirando, voltou para dentro e foi remexer na enorme mala que tinha trazido, estava cheia de roupas novas, viu um vestido rosa salmão que tinha achado lindo na vitrine e resolveu comprá-lo. De repente lhe deu uma vontade de colocar aquele vestido e sair, ver pessoas, se distrair.

Hesitante, se levantou sentindo aqueles tremores tão conhecidos e começou a tirar a roupa que usava e colocou o vestido que não necessitava de sutiã. Inspirou fundo e lembrou-se das palavras da psiquiatra: É tudo coisa da sua cabeça, foque em outra coisa, é tudo coisa da sua cabeça.

Calçou uma sandália rasteira e balançou os cabelos agora curtos para dar volume, ela tinha adorado aquele novo corte bem mais curto e moderno. Passou um batom rosado nos lábios e colocou algumas gotas de seu perfume favorito.

Com a mão na maçaneta, Tammy pensava se seria uma boa ideia fazer aquilo, tinha medo do que poderia acontecer se passasse daquela porta, mas não tinha vindo em um cruzeiro para passar a viagem inteira trancada na cabine, não era nenhuma criminosa. E se algo bom acontecesse? Ou então se algo ruim acontecesse?

A coragem a abandonou e ela se afastou da porta sentindo o coração batendo feito um louco. Não queria ter uma crise agora, sozinha e longe da mãe.
– Ah quer saber? Dane-se! – em um súbito acesso de adrenalina, abriu a porta de vez e saiu no corredor largo.

Tentando manter a calma, ela olhava de um lado para o outro, encarava as pessoas que passavam e nem reparavam nela. Fechou a porta da cabine e começou a caminhar.

O navio era muito bonito, tinha que admitir. Conseguiu até sorrir com vontade ao ver crianças correndo para lá e para cá. Eram muitas pessoas presentes, um mar de rostos de todos os jeitos e tipos, rostos desconhecidos. Ali, no meio daquelas pessoas desconhecidas, ela podia fingir que era uma mulher normal, que não teve o coração despedaçado por alguém que amou loucamente.

Sorriu levantando o rosto para o sol de fim de tarde e foi até a amurada olhando para o oceano, até a sensação de observá-lo de fora da cabine era outra, era uma sensação de liberdade, independência que não poderia descrever.

Lembrou-se que Mallu havia lhe dito que passariam à tarde na piscina principal e tentou achá-las. Em vários pontos, o navio tinha mapas instalados para ajudar os passageiros a se acharem dentro daquele mundo gigantesco de metal.

Seguindo o mapa, achou a piscina que estava lotada, definitivamente não conseguiria se divertir naquela bagunça, não tinha espaço para mais ninguém. Tentou ver as amigas da parte de cima de onde estava, mas não teve sucesso, teria que descer até lá para tentar achá-las, mas só em pensar em se enfiar no meio daquele monte de jeito, sua respiração já ficava curta.

Covarde. Uma voz soou em sua mente e ela abaixou a cabeça fechando os olhos. Seu pior inimigo era sua própria mente.

Inspirando fundo, Tamara decidiu descer até lá, o máximo que poderia acontecer era desmaiar e ser socorrida por estranhos, então diria que foi somente uma queda de pressão, a desculpa soaria convincente.

Amor e Paixão no CaribeOnde histórias criam vida. Descubra agora