Calor Arábico - Inesperado. Sensual. Quente.

Capítulo 1

Tomei mais um gole de espumante enquanto Sinatra tocava na minha Alexa e a espuma envolvia meu corpo imerso na banheira. Aquela sensação era deliciosa, perigosa e exaustiva. Os primeiros dez minutos foram incríveis, mas agora, que já fazia trinta minutos que eu estava dentro da banheira, a sensação não era mais tão agradável. Sentia a ponta dos meus dedos murchos pelo tempo na água, o espumante já não estava tão gelado e eu não conseguia parar de pensar que minha caixa de entrada deveria estar cheia.

Esse não era um ritmo comum para mim. A minha rotina costumava incluir duchas rápidas e espumantes em eventos beneficentes. Trabalho como consultora financeira e mesmo jovem já tinha muito sucesso na carreira que escolhi. Todo o meu trabalho intenso, noites em claro e credibilidade me permitiram ir mais longe do que eu imaginei ser possível em tão pouco tempo. Hoje sou requisitada para trabalhar ao lado dos donos das maiores fortunas do mundo e ser conselheira desses homens e mulheres me rendeu a minha própria fortuna. Usando meus próprios conselhos, consegui multiplicar tudo que ganhei e acabei atraindo ainda mais clientes para perto de mim.

Estava no que chamava de "estado de férias": trabalhando de forma desacelerada, respondendo e-mails e analisando contratos, mas sem frequentar reuniões, fazer análises ou emitir relatórios. A ideia desse momento era relaxar um pouco após trabalhar três anos sem descanso. Agora eu estava na minha casa no litoral do Rio de Janeiro, localizada de frente para o mar e com uma vista privilegiada para o nascer do sol. Por isso escolhi passar aqui essas duas semanas. Queria aproveitar para me divertir com os meus amigos, ir à praia, pegar sol e passar o tempo que eu quiser imersa na banheira.

Optei por não ficar em Londres, porque lá seria muito mais difícil de me desligar e os meus clientes me encontrariam com muita facilidade. E claro, já aproveitaria o clima quente do Brasil nessa época. A sensação de estar aqui era estranha. Após morar três anos em Londres, eu já não tinha certeza de que me sentia em casa no Brasil. Talvez esse país tenha se tornado apenas férias pra mim.

Hora de tirar o corpinho da água, precisava me mexer para não desistir das férias antes mesmo delas começarem. Saí da banheira, me enrolei na toalha e peguei o celular para checar as mensagens. A primeira que li foi da minha amiga Elaila:

Elaila "Luuuu, vem pra cá! Vai rolar um churrasquinho"

Elaila era uma grande amiga minha, ela morava a duas casas da minha com seu irmão Junga, que é jogador de futebol na europa e estava se recuperando de uma lesão aqui no Brasil. Para mim ele já estava ótimo, mas para voltar a jogar ele precisaria de mais um tempo de fisioterapia. O que para o Junga significava muitas festinhas para ajudar na recuperação. Respondi a mensagem:

Analu "Estou indo, só vou trocar de roupa"

Vesti um short jeans e uma regata de cetim branca que realça o bronzeado, coloquei uma rasteirinha e estava pronta. Mas quando o celular apitou, não resisti e li o e-mail que havia acabado de receber. Era dos árabes, que vinham me pedindo para ir até lá negociar um acordo de trabalho já há alguns meses. No aspecto financeiro seria ótimo, mas estou num ponto que nem só dinheiro importa. Eu tenho meus próprios princípios e valores e eles queriam fazer exigências descabidas para a minha atuação no país deles. Por isso resolvi ignorar o e-mail; não era hora de me incomodar com isso. Coloquei o celular no bolso e saí.

Quando cheguei na casa dos meus amigos, já fui entrando. Estava tocando música na parte da piscina e fui direto para lá. Havia mais gente do que eu imaginava; alguns eu reconhecia como jogadores de futebol, outros que trabalhavam na equipe do Junga e tinham também algumas mulheres conversando, duas delas que eu reconhecia como sendo esposas dos jogadores de futebol. Além disso, tinham uns caras tocando pagode perto da churrasqueira e também umas mulheres desfilando de biquíni, que eu deduzi serem as Marias chuteiras da festa. Eu já sabia que para estar perto deles, tinha que aceitar a presença delas.