ele é o filho do meu padrasto

32.

Julia me odiava.

Não que eu me importasse, até porque eu também não gostava dela, mas hoje eu não estava com paciência para suas loucuras.

Eu mal tinha chegado de viajem quando ela me contou que estava grávida.

Coloquei minha mala em cima da cama e forcei um sorriso.

- Felicidades. Agora me deixa em paz. - pedi.

Julia entrou no quarto ignorando meu pedido.

Eu mereço.

- Seu quarto é grande... - disse pensativa. - O berço do bebê vai ficar ali. - apontou para um canto perto do guarda-roupa.

Ela tava brincando comigo?

Com certeza estava tentando me estressar.

- Você tá louca se acha que alguma criança vai dormir no meu quarto. - exclamei sentindo um arrepio só de pensar em acordar com o choro de um bebê.

Ela riu não se importando com meu estresse.

- E onde você acha que ele vai dormir, garota? - perguntou.

- No seu quarto? - falei como se fosse óbvio.

Julia sorriu.

- Uma hora você vai embora daqui, não sei porque está tão irritada de dividir o quarto com seu irmãozinho. - exclamou colocando a mão na barriga. - Daqui um tempo esse quarto vai ser todo dele.

Ótimo, ela já estava me expulsando da minha casa. E eu mal tinha voltado.

Me aproximei da porta e gritei o nome do meu pai querendo que ele tirasse sua mulher da minha frente.

- Não precisa chamar seu pai, eu já estou indo. - disse caminhando até a porta.

Eu fui para perto da cama não querendo ficar ao lado dela.

- Julia? - chamei e ela me olhou. - Eu vou embora dessa casa um dia sim, mas só quando eu estiver trabalhando e conseguir me sustentar. Felizmente não sou como outras pessoas que são incapazes disso e preferem casar para sugar o dinheiro do companheiro.

Julia me encarou como se quisesse que eu sumisse.

- Está falando da sua mãe? Porque ela fez exatamente isso. - disse se referindo ao casamento da minha mãe com o William.

- Minha mãe ama o William. - afirmei. - Diferente de você que só quer o dinheiro do meu pai.

- Gabrielly, e o que você entende de amor? - perguntou achando graça das minhas palavras.

Desviei os olhos quando ela ficou me olhando esperando uma resposta.

- Você não estava saindo? - sentei na cama e abri minha mala. - Eu tenho mais o que fazer.

- Claro que tem. - murmurou. - Ah, quase esqueci. Tem um presente para você na garagem. Eu mesma escolhi a cor. Fiquei surpresa quando sua mãe mandou dinheiro para comprar seu carro, isso me fez perceber que ela está bem demais.

Só de pensar na forma que consegui aquele carro meu estômago embrulhava.

- Espero que você não morda sua língua. - ela podia morrer com seu próprio veneno.

Julia saiu me deixando sozinha.

Meu pai entrou no quarto logo em seguida e olhou em volta.

- Achei que a Julia estivesse aqui. - disse se aproximando.

- Ela estava, mas fez a bondade de sair. - falei e encarei seu rosto. - Então vou ter um irmãozinho?

Meu pai sorriu e sentou ao meu lado.

- Eu queria te contar, mas pelo jeito a Julia não se segurou. - disse alegre. - Acho que pela primeira vez depois que sua mãe saiu de casa eu tô sentindo que tudo está se encaixando.

Eu sorri contente por ele.

- Que bom, pai.

Julia era uma pessoa horrível, mas ela fazia meu pai feliz.

Depois de guardar minhas roupas, eu desci para a garagem para ver o presente da minha mãe.

O carro era bonito e vermelho.

Entrei nele e fechei a porta conseguindo paz pela primeira vez em muito tempo.

Silêncio.

Sorri quando lembrei da promessa do Noah quando eu estava indo embora.

"-...quando a gente se encontrar de novo prometo não te deixar ir embora nunca mais."

Será que ele ainda estaria me amando quando a gente se encontrasse de novo?

-...isso que vocês têm vai acabar assim que você sair por aquela porta."

William tinha conseguido me deixar preocupada.

Eu não fazia ideia do que ia acontecer amanhã, minha única certeza é que eu ia continuar amando o Noah.

E que esse sentimento iria crescer com o tempo.

- Espero que a gente tenha uma chance. - sussurrei para o silêncio.

...