Capítulo 4 - Tastes like gold

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Minha rotina de sábado de manhã consistia em acordar, dar uma volta de pijama pelo jardim, segurando minha caneca de café feito recentemente, com um livro na mão para começar a ler em algum canto por ali. Provavelmente leria até que Bandit acordasse e a gente fosse para o centro da cidade, onde eu a levaria para tomar mais um café comigo. E talvez perder a hora na minha livraria favorita, que também era a dela.

Mas esse dia era diferente. Eu mal dormi. Só de saber que eu ia encontrar Frank numa situação bizarra e completamente inusitada, que me encheu de insônia. Eu não sabia como ia reagir, visto que da última vez eu não me contentei com apenas conversar. Agora era completamente diferente.

"São elas!" Bandit saiu em disparada para a porta quando a campainha tocou. Eu tive que pedir calma para ela, explicando mais uma vez que a gente não abre a porta só porque alguém tocou. Ela me refutou dizendo que não seria educado da minha parte. Crianças, sempre usando o que você ensina contra você mesmo.

A visão que eu tive quando abri a porta foi no mínimo estranha ou inusitada. Duas meninas que alcançavam meu peito, idênticas, mas vestidas de forma diferente.As gêmeas, presumi, sem poder ainda distinguí-las pela personalidade ou características. Atrás dela, o homem baixo que elas alcançavam mais que a mim e que eu reconheceria em qualquer lugar. Era Frank. Trocando olhares, a gente não sabia muito bem como agir, ainda mais depois do nosso pequeno incidente.

"Pai, essa é a Lily e essa é a Cherry," Bandit indicou cada uma delas com as mãos e eu tentei fazer notas mentais em cada uma delas, para não confundir as crianças e causar maior desconforto.

"E esse é o nosso pai, Frank," a menina de vestido vermelho disse. Oh, querida, eu sei quem é o seu pai melhor do que eu gostaria. Conheço-o muito antes de você, pensei.

"Prazer em conhecê-las, meninas," eu disse sorrindo para as duas, estendendo minha mão para Frank num gesto bizarro em seguida. "Eu sou o Gerard," disse sorrindo e tendo que reprimí-lo com o olhar quando ele quase explodiu rindo. A situação era realmente bizarra.

Do mesmo jeito que chegou à porta, Bandit saiu em disparada para o quintal, onde íamos fazer o trabalho de ciências, mas agora acompanhada das duas meninas. Eu sabia que não podia perdê-las muito tempo de vista. Porque em relação a crianças, quando você menos espera, montam uma bomba atômica e estão prestes a explodir a casa.

"Hey," ele disse de maneira mais íntima e plácida, demorando um pouco para soltar minha mão. Dei espaço para ele entrar e ele me questionou com o olhar, como se perguntasse se minha esposa estava em casa. E eu apenas neguei com a cabeça. "Meu deus, como isso é estranho," Frank disse rindo.

"É surreal," eu acompanhei ele na risada. Quando parou de rir, num ato que ele repetia bastante, Frank mordeu seu lábio inferior. Eu quase esqueci de tudo o que estava acontecendo ali, de novo, e pulei no pescoço dele. Mas não dava, não ali. "Você quer beber alguma coisa?" ele aceitou e eu sabia que estávamos os dois num esforço mútuo para fazer aquele encontro durar mais, por mais inadequado que fosse.

"Pode ser uma água," ele se apoiou com os antebraços na bancada, me dando uma visão privilegiada da parte de trás do seu corpo. Eu tentei apenas relevar, mas ele sabia bem o que estava fazendo. Sua camiseta levantou um pouco e eu consegui ver que ele tinha tatuagens por todo o torso. Mas não era o momento. "Se você quiser, eu posso ficar pra te ajudar com as crianças."

Ele me arrancou uma risada, porque aquilo ainda me soava como uma grande piada do universo. "Sabe, eu tava pensando," estendi o copo para ele, que se ergueu novamente para ajustar a postura. "No que aconteceu...E..."

"O que aconteceu? Nada aconteceu?" ele disse, mas não deixou de se aproximar de mim. Eu olhei por cima de seus ombros para o quintal, para ver se as meninas estavam fora do meu campo de visão. Essa proximidade era perigosa e Frank sabia, e parecia gostar.

No One Knows [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora