Capítulo 11 - Pleasantly caving in

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A vida real estava me impedindo de sonhar. O tempo ia passando e conforme aquele final de semana foi ficando mais longe, comecei a pôr em cheque toda a conversa que tinha tido com Frank.

Falávamos sempre, mas sempre escondido - eu corria apagar as conversas, para o caso de Lindsey resolver fuçar meu celular e descobrir algo. Eu queria fazer as coisas com calma, como se pudesse deixar tudo ajeitado para a minha partida. Imaginava que Frank estivesse fazendo o mesmo, ou ao menos esperava.

Algo, no entanto, me deixava muito mal: pensar em ficar longe da minha filha. Eu amava fazer parte da sua vida cotidiana, estar presente nos momentos mais singelos de seu dia e começava a ficar triste ao pensar nisso.

Uma coisa ia levando à outra: o pensamento de que eu não ia acompanhar o crescimento de Bandit tão perto me fazia me sentir egoísta. E como pai eu não deveria colocar meus filhos acima de mim mesmo?

Mas como eu seria um bom pai se fosse uma pessoa infeliz e frustrada, presa em um casamento cujo prazo de validade já tinha expirado?

Eu e Lindsey começamos a brincar de gato e rato: eu sempre precisava seguir acordado quando ela ia dormir, ela sempre se esquivando quando eu dava a entender que precisávamos conversar. Estava insustentável e eu queria resolver aquilo logo: queria conversar amigavelmente para poder seguir minha vida e finalmente ter o final feliz que eu merecia ao lado de Frank.

A cada dia que passava, eu tentava me tornar cada vez mais cauteloso, mas ela parecia cada vez mais assimilar que algo estava acontecendo.

Sentado em meu escritório, eu alternava entre buscar referências e escrever uma série de diálogos que eu tinha pensado para o próximo volume do meu quadrinho, porque as ideias são assim: eu deveria estar trabalhando em algo, mas claramente não me domava o suficiente para fazer aquilo - eu queria fazer mil coisas ao mesmo tempo.

No fim, tantas coisas aconteciam junto que eu não estava dando o devido peso que ter uma história minha adaptada para as telas tinha realmente para mim. Eu odiava Frank por isso, porque ele estava ocupando tanto minha cabeça que não sobrava tempo para me empolgar com as coisas que sempre me fizeram tão feliz.

Meu celular vibrou sobre a mesa. Era Frank. Atendi enquanto ia à porta para girar a chave. "Hey, Frankie. Tudo bem?"

"Oi, Gee. Sim e aí? Você pode falar?" Ele perguntou, eu fui andando em direção a janela: de onde estava, via Lindsey e Bandit aguando as plantas no quintal.

"Posso," eu disse. "Mas antes... Você já fez algum avanço? Já tá preparando a Jamia?"

"Era sobre isso que eu queria falar com você," ele suspirou e eu gelei. Provavelmente era essa a hora em que ele dizia que tinha repensado e desistido de tudo e que era melhor que deixássemos tudo como estava antes. "Gerard, você não acredita."

"No que?" Eu estava perdendo um pouco a paciência. Se ele fosse me dispensar, que o fizesse logo. Andava em círculos em meu escritório, com o coração na boca. Peguei minha caneca com um café amargo que me ajudaria a suportar a notícia.

"A Lindsey não te falou do churrasco que ela e a Jamia combinaram?" No segundo em que ele falou, cuspi o gole de café no chão, num ato involuntário, sem conseguir conter minha gargalhada. "É sério! Como a gente vai fazer?"

"Céus, Frankie, isso é surreal!" Eu não conseguia conter minha risada. "Como elas estão se falando?"

"Você não lembra do trabalho das meninas, Gerard?"

"É mesmo. As vezes eu até esqueço dessa bagunça..." Era verdade, porque a situação já tinha tomado uma proporção tão enorme que, olhando pra trás, para o dia da reunião, tudo parecia já tão distante. "Mas então você ainda não falou com a Jamia, né?" Perguntei, sabendo a resposta que me machucaria.

"Ainda não... eu tô indo aos poucos, mas eu juro que tô indo, mas é complexo... Você sabe. E você?"

"Eu..." como eu podia cobrar dele algo que eu mesmo não tinha feito ainda? "Não também, toda vez que eu dou a entender que precisamos conversar, a Lindsey meio que... Foge," suspirei.

"Que merda," ele soou aborrecido. "E vocês estão...Você sabe...?"

"Transando?" Eu confirmei e ele apenas murmurou um sim. "Não... Vocês também não, né? Eu sei que... enfim, precisamos resolver essa zona logo," falei.

"A gente vai, meu amor," ele disse de forma terna. Nos despedimos brevemente e desligamos quando eu ouvi batidas na porta.

Desviando do café que eu ainda precisava limpar no chão, girei a chave da porta antes de abrí-la e dar de cara com Lindsey.

Ela elevou suas sobrancelhas quando viu que a porta estava trancada, dei um passo para trás, dando espaço para que ela entrasse no escritório. "Trancado, Gee?" Ela questionou.

"Eu estava em uma reunião..." falei, ela sem se convencer muito. "Aproveitando que você está por aqui, queria conversar com você sobre uma coisa."

"Eu também," ela interviu. "Eu e a Jamia, mãe das gêmeas, marcamos um churrasco para o sábado," naquele segundo eu estava agradecendo mentalmente por Frank já ter me contado, senão eu teria um infarto.

"Mas você sabe que eu odeio churrasco e reunião de famílias, Linds," eu disse categoricamente. Fazer média em família era algo que sempre me tirava do sério - exceto quando era com meu irmão, que aí não era média. Ah, e um pequeno detalhe, como contar para ela que também não quero ir para a casa do meu affair e que isso complica todas as coisas?

"Gerard, você é chato e nunca quer interagir com as pessoas. É pela sua filha, por favor. Não vai ser tão chato assim," ela falou, repousando o antebraço sobre meu ombro para brincar com os fios de cabelo na minha nuca - seu toque agora tão estranho para mim.

"Ok," concordei como se já não estivesse convencido a ir. Ela beijou o canto dos meus lábios antes de retirar. "Mas eu não vou ficar na churrasqueira, você sabe que eu odeio," eu disse.

"Tudo bem, amor, você vai, troca meia dúzia de palavras com o pai das meninas, a gente come e vai embora, ok?" 

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N/A: brace yourselves, agora sim é ladeira abaixo. 

No One Knows [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora