Capítulo 13 - Dead lifeboat in the sun

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A partir do momento em que você se dá conta, que percebe algo, você não consegue agir como se não existisse. É como quando você aprende a ler, por exemplo. Até aquele momento, as letras eram apenas imagens, figuras, mas a partir do momento em que você compreende o que aqueles signos representam, você não pode interpretar de outra forma. Você não pode "desver".

A ideia de que Frank não tinha maiores intenções comigo do que manter aquele affair escondido começou a me assombrar e tirar meu sono. Talvez eu devesse ouvir minha intuição que disse que, no começo, isso aqui era errado. Porque se eu me machuquei uma vez, o que me impedia de me machucar novamente?

Apesar de tudo, não neguei quando ele pediu para me ver na terça-feira em que não íamos mais nos encontrar. Porque eu estava caído por ele e parecia não ter mais nenhum senso de controle sobre mim. Como ele tinha desistido e voltado atrás?

Encontramo-nos no meio do dia em um hotel no centro da cidade. Eu deveria escrever de manhã, mas estava impossível me concentrar. Apesar de ficar trancado no escritório a manhã inteira, não conseguia tirar Frank da minha cabeça, como estava acontecendo nos últimos meses.

Poucos diálogos e orgasmos depois, me encontrava deitado, olhando para o teto enquanto Frank repousava sua cabeça sobre o meu peito, fazendo desenhos imaginários com as pontas do seu dedo. Minha cabeça não estava ali, estava no cachecol de desconfiança que eu vinha tecendo nos últimos dias. Eu sei que não deveria cobrá-lo de nada porque as circunstâncias de nossa vida eram outras agora e talvez tentar conciliar nossa antiga relação com essa fosse o mais complicado.

De repente, dei por mim e percebi que sabia muito pouco sobre o homem que estava ali comigo - eu conhecia muito sobre o garoto, mas o homem... Por exemplo, eu não imaginava que ele fosse fã de um time de futebol, não sabia o nome dos companheiros de sua banda. Honestamente? Nem tinha decorado suas músicas. A gente se encontrava naquele lugar comum, naquela nossa viagem do tempo, mas por quanto tempo aquilo ainda iria se sustentar?

"Frankie, quando você volta?" perguntei.

"No domingo ou segunda da semana que vem," ele disse, a voz levemente arrastada, como se estivesse prestes a pegar no sono. "Por que?"

Suspirei porque havia muitas respostas para aquela sua pergunta e tinha que pensar em qual eu ia escolher. Ultimamente eu vinha escolhendo minhas batalhas - por mais que quisesse ser honesto. "Eu não quero te pressionar, nem nada, mas assim," desvencilhei-me dele enquanto me ajeitava no colchão para me sentar. Ele acompanhou minha movimentação, sentando-se parcialmente de frente para mim. Olhava-me para que eu continuasse a falar. "Eu vou falar com a Lindsey esse fim de semana, eu resolvi." Talvez um bom jeito de começar?

Frank deslizou as mãos pelo rosto - ele estava preocupado. Fez menção de falar algo, desistiu. Era isso, eu tinha acertado: aquilo não passava de um affair para ele e isso começava a ficar claro para mim.

"Eu não vou conseguir falar na semana que vem com a Jamia, acho que nem na outra. Eu quero falar na hora certa, sabe, Gee? Digo, acho que essa semana não é ideal, na outra eu to fora... E depois, bom, eu vou estar voltando e-"

"Entendi," eu o cortei. Eu não entendia nada na verdade, mas estava com preguiça de ouvir suas desculpas. Um nó começou a se formar em minha garganta e achei que estivesse prestes a chorar. Mas eu não ia dar o prazer de Frank me ver chorando por ele, desci da cama para começar a me vestir. "Eu tenho uma reunião daqui a pouco, preciso ir."

"Gerard..." ele disse manhoso, estendendo a mão para me chamar de volta para a cama. "Por favor, não fica puto comigo, volta aqui. A gente não vai se ver na semana que vem... E mês que vem eu tô indo pra Europa em turnê, lembra?"

No One Knows [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora