Capítulo 15 - How they stick in your throat

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"Bu!" Bandit dizia, se jogando sobre mim no sofá, me acordando enquanto fazia cócegas. Muita informação ao mesmo tempo até que eu entendesse o que estava acontecendo. "Acorda, pai!" Ela dizia animada. Sentei-me no sofá, coçando os meus olhos.

"Oi, filha," eu falei, dando um beijo no topo de sua cabeça. "Que horas são?"

"São 8h, é hora de a gente sair!" Ela me respondeu e então notei que ela já vestia o uniforme magenta e branco da escola, com o cabelo preso para trás em um rabo de cavalo. O sorriso dela lembrava um pouco meu, era engraçado. Era quase como olhar para uma fotografia.

"Certo, eu vou escovar os dentes e me trocar e a gente vai, okay?" questionei e ela acenou positivamente. "Você já tomou café?"

"Sim, papai, a mamãe me deu."

"Hoje é dia de kung fu, né? Você tá com o uniforme aí?" questionei, me erguendo do sofá e sentindo cada uma de minhas vértebras estalar, eu odiava dormir no sofá. Tudo tinha acontecido tão rápido na noite anterior que eu não tive coragem de invadir o quarto de Bandit para pegar o colchão extra que ficava por lá.

Corri para me arrumar e quando desci, ela jogava seu Nintendo switch sentada no sofá, os pés balançando inquietos. E me doía olhar para aquela cena e pensar que ela nunca mais teria aquele tamanho - e que talvez eu não estivesse tão presente assim para acompanhar.

Não cruzei com Lindsey antes de levar Bandit à escola, ela devia estar presa em seu ateliê. Eu não ia forçar nada, ela precisava de espaço e tempo para digerir, e eu também gostava de fugir do conflito.

Durante o caminho, Bandit me contava sobre a extensa pesquisa que vinha fazendo sobre dinossauros e as eras da terra, eu orgulhoso por ela saber mais geografia do que eu. Ela era detalhista, memorizava datas e nomes por lazer e eu me divertia com aquilo. E de novo me vi encantado com o milagre da vida: aquele bebê babão agora tinha uma personalidade forte, desejos próprios e toda uma forma de pensar que independia da minha.

Pensava muito em meus pais, que pareciam estar sabendo o que faziam, mas cheguei à conclusão que deveriam estar perdidos como eu. Tentava transportar essa situação para eles: será que em algum momento eles tiveram certeza de que, por exemplo, queriam seguir juntos para o resto da vida? E como você desapega da ideia de querer controlar um ser humano que em um momento depende de você para sobreviver e no outro já bate de frente?

"Tchau, filha. Não esquece sua mala do kung fu," eu falei olhando a pequena pelo retrovisor. Bandit se inclinou sobre meu banco, apoiando a mão em meu ombro para me dar um beijo na bochecha.

"Tá tudo aqui, pai! Até depois!" Ela falou, reunindo suas coisas para sair do carro.

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Eu não sei o que estava pensando quando me perdi de novo em Frank, considerando que eu tinha agido sem medir minhas consequências.

Mas eu mergulhei naquilo porque eu quis e não podia cobrar dele uma postura semelhante. Eu me deixei levar por tudo aquilo, depositei todas as minhas expectativas, mas toda aquela experiência estava me fazendo ver coisas sobre mim mesmo. Por exemplo, que eu não estava mais feliz na vida que levava, no meu casamento. Lindsey não me encantava mais como um dia fez e eu provavelmente não trazia tanta alegria para ela assim. Eu realmente não lembrava quando tudo começou a desandar entre nós - como o café que você esquece na cafeteira ligada, que ainda é café, mas fica intragável.

Independentemente de ficar com Frank ou não, eu não podia mais me manter naquele relacionamento que foi desmanchando aos poucos. Fui vendo os anos passar sem pensar que eu deveria fazer algo ou não. Tinha que agradecer a ele por ter me feito finalmente enxergar a realidade das coisas.

Quando abri a porta de casa, meu coração afundou em meu peito. Eu queria evitar o conflito com todas as minhas forças, mas sabia que precisávamos resolver o que quer que fosse.

Cheguei à sala e Lindsey estava sentada no sofá, mexendo no celular. Eu caminhei para me sentar no outro sofá, ficando de frente para ela, que não ergueu os olhos para me olhar.

Antes que começássemos a falar, pensei rapidamente no que ia revelar e o que ia guardar para mim. Se por um lado eu achava importante abrir quem era a pessoa, por outro, já não havia mais nada entre nós e eu não podia exatamente expor Frank.

E o pior, nossas filhas ainda eram amigas. Mas parece que nenhum de nós pensou nisso quando fugimos para nós casar de mentirinha em las Vegas. Patéticos.

Talvez o silêncio era um jeito que ela me dava a chance de me redimir, mas eu não queria consertar as coisas. Eu queria quebradas ao ponto de ser impossível juntar tudo de novo, de um jeito que eu pudesse começar de outro jeito. A destruição também é uma forma de construção.

"Gerard, por que você fez isso comigo? Por que você traiu minha confiança assim?" Ela começou, ainda sem me olhar.

"Desculpa por isso," eu falei. "Eu realmente não sei o dizer... Eu fiz merda, eu sei, eu só consigo pedir desculpa agora."

Lindsey revisou os olhos, finalmente me fitando em seguida. " Eu sabia que tinha algo rolando, mas pensei que fosse coisa da minha cabeça... Eu devia ter confiado mais na minha intuição," ela balançou a cabeça.

Fiquei quieto, ainda sem saber muito o que dizer.

"Olha, eu tava até disposta a falar pra gente tentar, mas assim," ela se inclinou em minha direção. "Essa sua atitude é patética, Gerard. Ridícula!" Ela respirou profundamente, desviando o olhar para o chão. "Quem é, Gerard?"

Fiquei quieto.

"Eu conheço?" Ela tentou mais uma vez. "Porque eu quero trocar umas palavras com essa mulher," sem perceber, ergui minhas sobrancelhas. No meio do caos, achava graça que ela fizesse uma suposição como aquela. Eu não ia falar mais. "Espera, é um homem?"

"Lindsey," Eu comecei, deslizando minhas mãos sobre minhas pernas. "Eu te peço desculpas por ter traído sua confiança, por não ser presente pra você, por agir assim. Mas eu não quero tentar de novo. Eu quero o divórcio," disse por fim, minhas palavras soando como música para meus próprios ouvidos. Finalmente uma decisão certa naquele mar de péssimas escolhas.

Ela ficou chocada, mas tentou controlar a reação. Um sorriso irônico se formou em seus lábios e achei que ela fosse esbravejar comigo e me xingar até a nona geração. "Okay," ela disse, calma. Fiquei aliviado por sua postura, mas um pouco aflito.

De qualquer forma, até então, tudo perfeito.

"Mas eu quero a guarda unilateral da Bandit," claro, aí estava.

"O que? Não, você não pode jogar isso contra mim," falei inconformado, me erguendo do sofá.

"Eu posso e você sabe que eu ganho," ela me deu um sorriso, se erguendo também. "Enfim, Gerard, não vou perder mais tempo com você. Daqui pra frente, é no escritório do advogado," ela foi andando em direção à cozinha.

"Espera aí, Lindsey! " Falei, indo atrás dela em direção à cozinha. "Isso é injusto pra caralho e você sabe!" Meu tom de voz começava a subir, eu sentia meus joelhos tremendo. Lindsey continuava agindo como se eu não estivesse presente. "Você não pode simplesmente separar minha filha de mim!"

Ela se virou para mim. "Eu não vou discutir mais com você. Não tem mais o que falar. É com o advogado agora," ela passou por mim como um furacão, me deixando plantado no meio da cozinha.

O gosto amargo do ódio e a tontura da raiva me cegando, mas eu não ia insistir com ela. Lindsey era teimosa e extremamente controladora, ela não ia aceitar que as coisas não fossem do seu jeito.

Eu não esperava que ela jogasse tão baixo, usando Bandit como moeda de troca, jogando a menina no meio da tormenta. Eu nem podia imaginar o que ela faria quando descobrisse o real motivo de tudo. 

No One Knows [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora