"Okay, Susie, então ficamos acordados que sua cliente fica com 3% dos royalties do Umbrella e a casa," falava Joe, meu advogado.
"Joe, minha cliente fica com 5% do Umbrella e 3% Breakfast Monkey. E a casa," replicava a advogada de Lindsey. "Senão, sem guarda compartilhada."
As paredes de vidro da sala de reuniões deixavam o clima ainda mais desconfortável, nem as belas cadeiras de design nórdico amenizavam a sensação. O carpete no chão que tinha a missão de abafar os barulhos dos sapatos dava a sensação de estar se abrindo. A bomboniere cafona no centro da mesa tinha balinhas mais tristes do que uma segunda-feira chuvosa.
Eu sabia que divórcios eram sempre complicados e não estava com vontade de arrastar muito mais o processo, então estava disposto a tudo - exceto abrir mão de Bandit. Se Lindsey quisesse minhas ações, meu carro e até minhas roupas do corpo, ela podia levar, eu não me importava.
Ela estava do outro lado da mesa enorme com o tempo de madeira: batom vermelho, um vestido preto e um colar que eu dei para ela há anos atrás. Talvez essa fosse uma maneira de dizer "vai se foder " silenciosa. Ela sorria irônica para mim quando sua advogada parecia estar ganhando a batalha. Eu fugia de seu olhar fulminante.
Rabiscava um bloco de notas sem pensar, minha cabeça voando para longe sem me deixar perceber quando os advogados falaram que era bom fazer uma pausa. Eu estava cansado daquilo, e por mim, ia embora. Bagunças da vida dos adultos que ninguém te conta quando você está crescendo, eu não podia contratar um sósia pra resolver isso pra mim?
"Gerard, vamos fumar um cigarro?" Joe me chamou e eu entendi o que ele queria: sair da sala para me convencer a insistir na briga.
Dito e feito, ele me deteve no caminho do elevador- sem intenção de fumar, porque ele mesmo não o fazia.
"Gerard, se a gente insistir, elas dão para trás. Você não pode deixar a Lindsey ficar com toda essa parte, não é justo," Joe falava, as mãos nos bolsos laterais da calça reta, que tinha a mesma cor bege de seu paletó. Cafona como a bomboniere da mesa.
"Joe, por favor, eu só quero chegar a um acordo," eu disse, exausto, sem imaginar que aquela batalha estava só começando.
Há três semanas eu dormia no quarto de hóspedes da casa do meu irmão, bagunçando não só o cômodo, mas a rotina. Kristin, sua esposa, era um doce de pessoa, mas eu percebia que ela não estava exatamente feliz. Eu não a culpo - divórcios e seus processos burocráticos são deprimentes, somos um lembrete de que a instituição do casamento não é exatamente funcional. E Isso era um péssimo lembrete para ela e meu irmão, que tinham acabado de se casar e agora tentavam engravidar.
Entre tentar dar conta do trabalho, negociar visitas e tempo de Bandit com Lindsey, cuidar do divórcio e procurar um apartamento, ainda tinha o esforço que fazia para deixar Frank de lado. Daquela bagunça e da minha vida. Eu não podia lidar mais com a inconstância do relacionamento que tínhamos construído. Lutava muito para não cair nos hábitos antigos, mas não demorou a me perceber secando uma garrafa de vinho sozinho em uma madrugada de segunda-feira.
Frank insistiu na primeira semana, mas como parei de responder, desistiu. Não o culpo. Eu tinha prometido que ia atrás dele, mas talvez fosse melhor para nós dois assim.
Falo como se fosse fácil abrir mão dele - nunca foi. Eu finalmente liguei, ele atendeu. Estava de volta à Los Angeles e claro, queria me ver. Um alívio percorreu meu corpo, ele não tinha desistido de mim ainda.
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Sem surpreender nenhum de nós, estávamos mais uma vez nos esgueirando para um novo quarto de hotel. Em um horário alternativo. Engraçado como as coisas têm sua própria velocidade e mudam sem respeitar o nosso próprio tempo: eu agora não tinha mais nada a perder. Frank ainda estava no mesmo ponto de antes.
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No One Knows [FRERARD]
Hayran KurguGerard reencontra Frank, seu ex-namorado, na reunião de pais da escola de sua filha. Quase vinte anos depois, agora pais e casados com outras pessoas, ninguém sabe que eles se relacionaram no passado. [Disclaimer: essa é uma obra de ficção sem qualq...