Capítulo 5: Desculpas

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Por Luca, que está realmente chateado

Eu não sabia o que estava sentindo mais, se era choque por Cal ter descoberto de uma forma tão idiota que eu sou bissexual ou se estava puto com ele por ter me tratado daquela forma.

Provavelmente o que eu sentia era uma mistura desses dois sentimentos, o que no fundo dá no mesmo já que ambos são igualmente desagradáveis em meu peito no momento.

Dei um longo trago no cigarro que segurava.

Estive tão estressado desde a manhã que já havia fumado mais de um maço de Marlboro. Havia prometido a Cal que não fumaria mais no nosso primeiro dia de faculdade. Ele odiava o cheiro e eu também estava querendo parar já que sempre gostei de nadar e como na faculdade havia uma piscina olímpica, poderia aproveitar ainda mais esse hábito. Natação é um esporte que exige muito do nosso corpo mesmo que você pratique apenas como um hobby e por conta disso não combina muito com cigarro que consegue foder com seus pulmões lindamente, transformando tudo em uma grande fruta podre e fedida.

Mas naquele momento, eu só queria engolir quantos maços fossem necessários para aliviar a minha raiva. Era isso ou ir até o apartamento do meu melhor amigo e lhe dar um belo soco no queixo.

Eu estava tentado a fazer isso.

Era disso que eu tinha medo. Sabia que Cal era muito sistemático e certinho, por isso essa era uma reação que lá no fundo eu meio que esperava mas mesmo assim, ouvir aquilo da boca dele me magoou muito. Cada palavra parecia afiada quando acertou meu peito, indo para o centro do alvo de forma perfeita.

Sei que ele estava bêbado mas a bebida apenas nos faz falar o que está guardado lá dentro do nosso peito.

Olhei para a mensagem que ele havia me mandado na tela do meu celular antes de bloquear o aparelho e jogá-lo de lado. Eu simplesmente não queria olhar para suas bochechas rosadas naquele momento. Não conseguia esquecer o olhar de aversão que havia me dado na noite anterior.

Já levei alguns foras e já me magoei muito por diversos motivos mas desde os meus cinco anos que Cal meio que se tornou meu porto-seguro. Meus pais viviam brigando e quando isso acontecia era para a casa dele que eu corria.

Sua mãe fazia suco de laranja para nós dois bebermos com biscoitos enquanto jogávamos jogos aleatórios no Playstation ou assistíamos desenho. Quando fiquei adolescente, meus pais finalmente se divorciaram. Minha mãe foi morar na cidade vizinha e meu pai não demorou muito para encontrar uma nova família e esquecer totalmente da anterior. Escolhi ficar com a minha tia porque ela morava perto de Cal e eu não queria me afastar do único amigo que tinha.

Sempre fui cercado de pessoas na escola ou nos lugares que eu ia mas me sentia seguro perto dele. Gostava de como seu rosto ficava vermelho quando eu o irritava ou o deixava com vergonha. Até mesmo me divertia rindo da cara dele quando ele chorava por não conseguir algo que queria por ser um mimadinho.

Cal era alguém ridiculamente importante para mim e por isso que me magoei tanto.

Como ele podia dizer coisas tão idiotas e achar que só porque a minha sexualidade era diferente da dele, que eu era uma pessoa ruim?

Eu estava realmente puto.

E continuei com esse sentimento apertando meu peito quando me arrumei para ir ao bar tocar à noite.

- Luca, eu trouxe meu irmão para ajudar a gente hoje. – Estávamos sentados em uma das pequenas mesas do bar de Duda. Guigo, o vocalista da banda tinha acabado de chegar. Havia um garoto ao seu lado muito parecido com ele porém suas feições davam a entender que ele era um pouco mais novo do que nós.

MEU PEQUENO TALVEZ - PJ ELLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora