Capítulo 7: Mas eu me mordo de ciúmes

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Por Cal, que definitivamente não está com ciúmes

O mês de setembro passou mais rápido do que eu gostaria que tivesse. Tinha sido um período corrido na faculdade, repleto de trabalhos para nota e por conta disso, a frequência da qual eu via Luca diminuiu um pouco, assim como as apresentações da banda.

Nada parecia ter mudado e eu não sei bem como me sentir com relação a isso. Foram trinta dias tentando esquecer a lembrança de uma certa noite e de um certo beijo. Foram trinta dias tentando ignorar os pulos ridículos que o meu coração dava dentro do meu peito sempre que eu sentia o cheiro dele.

Eu me sentia mais do que ridículo, até porque tínhamos crescido juntos mas só agora que aquela proximidade toda havia se tornado um problema para mim. Comecei a pensar que talvez eu fosse gay mas depois desisti da ideia, já que até quase dois meses atrás, eu sentia atração por mulheres. Cheguei a cogitar ser bissexual mas Luca foi o primeiro cara que me atraiu de certa forma e não posso afirmar com certeza de que isso é algo sexual.

Sou curioso e até pensei em lhe dar algumas cervejas para tentar experimentar de novo mas não sou um cara tão escroto e também sei que eu seria internado com um caso grave de cirrose antes de conseguir embebedá-lo.

Complicado.

Depois de alguns dias, deixei essa ideia de lado. Deveria me considerar uma cara de sorte por nossa amizade não ter mudado. Luca ainda é o mesmo idiota sorridente que sempre foi, desfilando por aí com suas covinhas estúpidas e arrancando suspiros de quem quer que estivesse perto dele.

Por conta disso que foi um mês de certa forma vazio como todos os outros (se eu fosse excluir os sentimentos que tenho tido e que citei acima). Por algum milagre, apesar de eu não ter mantido o mesmo foco que sempre tenho, consegui ir bem com relação as minhas notas. Não foi tão difícil, eu só tive que ignorar tudo.

O problema era quando ele surgia de repente no meu apartamento para fazer absolutamente nada. Aí eu tinha que fingir ler um livro porque definitivamente não conseguia me concentrar.

Talvez essa fixação só fosse acabar quando eu colocasse tudo isso em cheque com outro beijo, não sei. Mas algo que me mostrasse que essa situação toda que crescia como louca na minha mente não era tudo isso.

Fiz listas e mais listas de prós e contras, de coisas boas e ruins nele, de que isso era ou não carência e por aí vai mas cheguei a zero conclusões. E estou há quase dois meses sem sexo também. A causa de tudo pode ser apenas dor de pica ou carência e sabendo que Luca, um cara bonito, também gosta de caras, meu corpo necessitado de contato humano está reagindo como uma pessoa normal.

Nesse momento a causa das minhas maiores frustrações está ali no canto do quarto, sem camisa e com seus jeans rasgados nos joelhos. O velho violão preto e repleto de rabiscos e adesivos está em seu colo e ele toca uma balada romântica da banda KISS da qual eu me esqueci o nome.

Tenho o meu velho exemplar de O Hobbit que está quase sem a capa em frente aos meus olhos de forma que posso apenas espiar ele de longe sem que perceba. Seus cabelos dourados estão caindo sobre sua testa.

Eu estava ali, observando os seus dedos longos que tiravam das cordas notas lentas e calmas de uma melodia docemente romântica. Isso me fez rir e Luca ergueu os olhos do violão para me encarar.

- O que? - perguntou para mim com uma sobrancelha erguida.

Ignorei o pensamento de que seus olhos pareciam mais claros ainda com a luz que entrava pela janela e apenas dei de ombros.

- Nada. Só achei engraçado você tocar uma música tão melosa. Está apaixonado? - fechei o livro e cruzei as pernas.

Luca revirou os olhos, colocando o violão apoiado na parede.

MEU PEQUENO TALVEZ - PJ ELLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora