Capítulo 6: Mais açúcar e menos frustração

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Capítulo 6: Mais açúcar e menos frustração

Por Luca, que parece estar ficando louco

Eu estava paralisado, claro.

Aquele era um daqueles momentos em que você pensa em tudo e ao mesmo tempo em nada. Senti como se estivesse por um segundo, vendo tudo o que acontecia como uma terceira pessoa no local. Podia ver eu mesmo ali, parado como um idiota enquanto segurava as bochechas de Cal, que estava na ponta dos pés como uma criança, a boca grudada na minha. 

Era como se meu corpo tivesse virado uma das estátuas de mármore de Michelângelo. Eu não me movia. Meu corpo estava paralisado de uma forma que eu só conseguia ficar lá parado como um idiota sem que a minha ficha mental caísse.

Com meus olhos abertos, a única coisa que conseguia ver era a bochecha de Cal completamente corada, seus cachos se movendo levemente com a brisa da noite e a curva de seu pescoço alvo. Ele estava ali, a boca colada na minha que estava como pedra.

- O que ... – tentei falar enquanto meus lábios eram esmagados pelos seus, sua boca abafafa o que eu tentava dizer. – O que.... o que você tá fa-fazendo?

Assim que abri a boca para tentar falar com ele, senti algo úmido entre meus lábios e percebi que ele tentava colocar a língua ali.

Isso foi o ápice. Tentei recolher os pedaços da minha sanidade que haviam se espalhado pelo chão assim que o beijo começou mas tudo o que consegui fazer foi bagunçar minha cabeça ainda mais. Era como se Cal tivesse pegado o meu cérebro e o sacodido com tamanha vontade, que foi capaz de me embaralhar todo.

Naquele momento eu percebi que estava perdido.

Seus olhos estavam fechados e uma parte de mim se perguntou se ele estava bêbado. Acho que nenhum acontecimento que presenciei durante toda a minha vida havia conseguido me deixar tão embasbacado.

Aquele garoto ali mais baixinho do que eu, não era do tipo que surpreendia os outros. Sempre seguia sua mesma rotina anotada em listas e era isso, um dia após o outro dessa forma.

Seus lábios se separaram dos meus e eu senti a brisa fria no local que parecia quente um segundo antes. Ele me olhou e seus olhos castanhos estavam mais escuros do que o normal. Mais pretos do que o céu daquela noite maluca.

Meu coração acelerou com a visão. Um imbecil realizando uma ação que não foi pedida. Um imbecil que não tinha tido permissão para acelerar o meu coração daquele jeito. Ninguém nunca tinha feito isso, por que ele tinha que ser o primeiro?

Isso me assustou e instintivamente dei um passo para trás.

Assim que me afastei, Cal me olhou e passou as costas da mão direita em cima dos lábios, parecia não entender muito bem o que havia acabado de acontecer. A expressão em seu rosto carregava confusão e algo mais que eu não podia compreender.

Ele deu um passo em minha direção, o indicador apontando para meu peito.

- Não me ignore mais. – pontuou cada palavra ao bater com força o dedo em mim, antes de se virar e me deixar sozinho no meio da rua vazia como uma criança abandonada.

O observei se afastar sem fazer nada. Eu só estava ali, existindo.

Em uma situação normal, eu teria ido atrás dele. As ruas estavam vazias e já era tarde mas continuei paralisado por um bom tempo antes de forçar as minhas pernas a reencontrarem a vida para que me levassem de volta ao bar, onde arrumei uma desculpa qualquer para ir embora.

MEU PEQUENO TALVEZ - PJ ELLIEOnde histórias criam vida. Descubra agora