Capítulo 14 - O narrador da história esquecida

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Acordo sentindo minha boca seca. Que sede. A luz do sol vindo da janela está batendo diretamente no meu olho, me deixando um pouco mais consciente do ambiente ao meu redor.

Pera.

Na casa da minha vó não bate sol na minha cama.

Pera.

Eu estou com um cobertor de pelos? Eu durmo com edredom.

Assustado abro meus olhos, sentindo uma dor de cabeça alucinante no mesmo momento. Observo a visão panorâmica que tenho de um quarto que não é meu, a cama, encostada no meio de uma parede; na minha frente tem duas portas, à direita a janela acima de uma mesa com computador e cadeira e um criado mudo, na esquerda tem um guarda roupa. Tento procurar meu celular mas quando estico meus braços percebo que estou vestindo um pijama que não é meu. Que porra é essa?

Continuo procurando meu telefone no móvel do lado do lugar em que estou sentado agora, encontro dentro de uma gaveta. Merda, sem bateria. O pânico começa a tomar conta de mim, como eu vim parar aqui? Onde estão minhas roupas e o que aconteceu para elas não estarem no meu corpo? Calma Jisung, lembra de ontem, o que você fez?

Teve o aniversário do Dylan, menti pro meu pai dizendo que ia pra casa do Jae mas fui pra balada, minhas lembranças do passado não tão distante se apagam conforme avançam, trazendo uma onda de enxaqueca que me faz colocar a mão em volta da cabeça de tão forte.

Escuto uma das duas portas abrindo, o desespero me fez deitar de forma apressada e nada discreta puxando a coberta até a cabeça. Minha nossa eu mereço um soco nessas horas.

- Bom dia Ji - Já ouvi essa voz antes. Puxo um pouquinho o tecido que cobre meus olhos.

- Minho? - Vislumbro ele de cima abaixo, meu pai amado, tá só de toalha.

- Jesus Cristo é que não é. Acordou agora? - Perguntou indo em direção ao armário. Gente que costas, não sabia que o corpo dele era definido, lindo, nada muito exagerado como se fosse naturalmente esculpido pela mão de anjos. Ele me fez uma pergunta, tenho que responder.

- Sim. Que horas são? - Sento-me novamente, coçando a cabeça.

- Umas dez da manhã, algo assim. - Informou olhando sobre o ombro, sexy, mas logo vestiu uma camiseta listrada vermelha e branca, sem graça. Para de pensar nisso! Ele é seu amigo!

- Ah. - Termino, virando para frente, encarando o nada, acho que fiquei muito tempo secando ele. Por conta da dadiva humana da visão periférica consigo vê-lo tirando a toalha da região perigosa e rapidamente coloco uma mão na frente, tampando o pouco que vejo.

- Fica tranquilo, já estou de cueca. - Disse dando risada. Tenho cara de palhaço? - Achou mesmo que eu ia andar pelo meu quarto só com uma toalha quando tem a possibilidade de alguém ver? - Falou retoricamente e se sentou na ponta da cama, de frente para mim, após vestir uma bermuda de sarja bege.

- Não, não falei nada, mas eu também não sou vidente, como eu ia saber que você já estava com algo? - Respondi de forma desnecessária e um silêncio se instalou.

- Olha, pelo que eu te conheço, você quer fazer muitas perguntas. Está inquieto e provavelmente não lembra da noite anterior, pelo tanto que bebeu. Pode perguntar. - Explicou calmamente, repousando a mão sobre as coxas, bem bonitas por sinal. Que delicia, digo, que absurdo, ele é meu amigo!

- É então, pode contar tudo o que aconteceu ontem? Eu não consigo me lembrar como você me achou, como cheguei aqui, como troquei de roupa. Sempre que tento minha cabeça dói horrores, aliás tem um remédio ai?

- Vou ver com a minha mãe, já volto.

Ele saiu pela porta da direita e a fechou logo depois. Não ia ficar parado só com cara de paisagem. Decidi levantar, que vontade de mijar puta que pariu parece que minha bexiga vai explodir. Corri para o banheiro e fiz minhas necessidades, lavei meu rosto com água gelada e encarei o reflexo no espelho acima da pia. Olheiras, nenhuma novidade, mas eu pareço especialmente acabado, como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, seco as gotas que foram para o meu pescoço com uma toalhinha que tinha ali. O que é isso? Um roxo? Afasto um pouco a gola da camisa de flanela que estou vestindo. Que porra é essa? Um chupão? Tem do outro lado também?! Resolvo tirar a roupa de cima antes que rasgue de tanto eu repuxar, ai eu vejo o estrago. Contei cinco ao todo, espalhados na base do pescoço e pelo colo. Meu Deus o que eu fiz ontem? Meu Deus o que o Minho fez ontem? Será que ele sabe quem foi? Coloquei novamente a peça e voltei para o quarto, lá o Lee me esperava com um comprimido vermelho e um copo enorme de água. Como se estivesse em um deserto por um mês, sem ver sinal de qualquer coisa que tenha H2O em sua composição, vou praticamente voando até a louça com o líquido dentro.

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