Prólogo

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Já estou há duas horas tentando dormir. Meu corpo morre de cansaço, mas meus pensamentos não me deixam em paz nem por um segundo. Não consigo parar de pensar no que aconteceu, a culpa me consome por inteiro.

Só preciso de um abraço, alguém dizendo que ficará tudo bem, sem me julgar. Alguém que se importe com o que eu sinto, mas ninguém se importa. Ninguém nunca se importou, e ninguém sentirá a minha falta.

Levanto da cama com pesar, não posso mais suportar isso. Dou uma última olhada no meu quarto, está bagunçado, como sempre. Saio pela porta da frente, meus pais já foram dormir.

O elevador não demora muito para chegar e me levar até o meu destino.

Quando chego ao terraço, o vento frio do sereno me agride com força, mas meu corpo já está acostumado com agressão.

Caminho devagar até o vidro de proteção, que separa o chão seguro do terraço da óbvia morte, a mais de 30 metros de distância.

Fico pelo menos dez minutos indeciso com o que fazer, mas eu sabia que esse seria o meu destino. Aconteceria mais cedo ou mais tarde, era melhor dar logo um fim nisso

Pulo o vidro de proteção e consigo ficar de pé nos poucos centímetros de chão que sobram, apenas para dar um último adeus ao mundo, mas o mundo não merece o meu sofrimento. O mundo não se importou com a minha dor, ninguém se importou.

Deixo algumas lágrimas caírem. Logo eu não sentiria mais dor, tudo acabaria em um instante.

Olho em meu relógio, são dez e quarenta.

Fecho os olhos, me solto do vidro de proteção e dou um passo para frente, em direção à minha morte.

Além dos CorposOnde histórias criam vida. Descubra agora