Capítulo 1: Angel

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Agora, Angel estava com dezesseis anos e marcou uma rotina com seu pai para não sair nas ruas sozinha. Parecia que os medos que o hospício a trouxera estavam voltando, como se para assombrá-la, mesmo depois de tanto tempo.

Nessa noite, ela estava esperando dentro da Igreja, onde estaria protegida como os outros dias desde que o medo tomou conta das ruas. Enquanto estava ali esperando pelo Jacob, ela servia comida para quem fosse buscar abrigo e ajudava a limpar varrendo o chão. Parecia ser a coisa mais útil que poderia fazer naquele momento.

Não sabia se defender, muito menos lutar, a ordem que seus pais deram foi se esconder ou fugir, mas quando corria tropeçava em seus próprios pés. Ser filha adotiva de dois irmãos gêmeos era inédito, não havia qualquer relacionamento romântico entre eles, mas a adotaram antes de se casarem com outras pessoas, mais tarde Evie havia se mudado para Índia junto de seu marido e Angel fora criada por muito tempo por Jacob como uma dama de berço. Mas não achava isso totalmente ruim, estava feliz por ele ter feito máximo possível para que pudesse esquecer o que passou no hospício. Naquela época, Londres estava segura, e Jacob acho que não tinha necessidade de ensinar sua filha adotiva a matar pessoas, e se algo acontecesse teriam assassinos em, literalmente, todos os lugares.

Ela havia terminado as tarefas que as irmãs deixaram. O relógio marcava quase onze da noite. Olhou pela janela, muitos vinham, mas todos buscando pela proteção da fé, os homens e as mulheres que entravam e se acomodavam nos bancos. Angel começou a tocar uma pequena música com o piano da igreja. Mesmo que não fosse muito, tocava todas as noites a fim de manter as esperanças em todos em tempos como esses. Geralmente seu pai chegava a tempo de ouvir, a cada minuto olhava para os presentes procurando por ele, seu coração começou a palpitar. Quando o relógio da igreja marcou meia noite em ponto ela fez uma pausa e respirou lentamente em busca de um pouco de paz.

"Ele pode só ter se atrasado" ela pensou "Talvez tenha bebido demais de novo, não há nada com o que se preocupar. Jacob sabe lutar bem mesmo bêbado" Angel soltou um leve sorriso ao pensar isso. Era seu aniversário de dezesseis anos e seu pai a levou para beber seu primeiro copo de cerveja, mas enquanto ela tomava um ele já havia digerido dez quando um homem esbarrou nele e então começou a briga. Depois disso Angel não conseguiu beber outra vez, começaram os ataques do Jack.

Seu coração voltou a bater tão forte como se estivesse gritando. Assim que acabou as músicas, alguns saíam, outros permaneciam até mais tarde, os mais carentes eram levados pelas irmãs até os quartos improvisados da Igreja. Angel olhou novamente pelas janelas essa fora a primeira noite sem que seu pai estivesse presente. Um sentimento de preocupação martelava sua cabeça. Talvez Jacob estivesse a caminho, talvez, quando chegasse, tivesse pressa de ir para casa, seria uma boa ideia que Angel juntasse suas coisas para que ficasse pronta.

A jovem se pôs a arrumar seus livros dentro de sua mochila. Um homem com um ótimo físico, cabelos loiros e olhos castanhos entrou, seu rosto era lindo e não parecia ter mais que vinte anos. Ele andou para o altar, onde Angel juntava seus pertences.

- Em que posso ajudar? – perguntou Angel com pressa, Dylan, um dos seus guardiões, estava do lado de fora da igreja para ver que um homem se aproximou de sua protegida.

- Queria saber o porquê de uma moça tão bonita estava tocando tão tarde da noite para todas essas pessoas sem cobrar nada.

- Enquanto estou esperando meu pai vir me buscar eu ajudo a Igreja. Pessoas precisam de fé e esperanza – esclareceu ela.

- Então seu pai vem te buscar? Por que não aluga uma carruagem ou vai sozinha pra casa? Estamos em 1880, mulheres podem muito bem sair na rua sem estar acompanhadas de um homem.

- Certamente, porém estamos em uma época bastante... inesperada. Então irei esperá-lo – ela disse calmamente, preferia expor minimamente de sua vida, mas o homem era insistente e sentou-se ao seu lado no banco do piano.

- Tudo bem.

Se passou muito tempo, o relógio da igreja apontava duas horas e meia, e Jacob ainda não tinha chegado. O homem estranho, que se nomeou Jack passou todo o tempo com ela conversando. Por um momento, ela pensou que Jack era de Jack, o Estripador, mas Jack é um nome muito comum em Londres para todos os Jack serem suspeitos.

- Angel – chamou uma irmã, pondo a mão em sua testa pra ver se ficou doente de ficar acordada até tão tarde –, não quer dormir em algum quarto vazio? Podemos te acordar se seu pai chegar.

- Não, obrigada, prefiro esperar.

- Se quiser, eu posso te escoltar até em casa – ofereceu Jack.



As ruas de Londres estavam escuras em sua maioria, algumas eram iluminadas delas tinham guardas. Mas todas tinham o mesmo aspecto: Chuva. Angel estava sendo escoltada pelo homem e mais três assassinos. Eles não acharam seguro a deixar sozinha com um estranho, mas também achara pouco educado recusar o convite de um homem que fora gentil com ela.

- É aqui – conclui Angel. Ela subiu as escadas e entrou na primeira porta à esquerda, todos seguiram atrás dela.

Angel estranhou a porta escancarada, seu pai sempre foi cuidadoso em relação a segurança. E então e se deparou com uma trilha de sangue que atravessava os três únicos cômodos da casa. Ela correu até o quarto, observou calmamente cada canto, qualquer sinal que ele estivesse bem. O pequeno apartamento estava com seus móveis grandes rasgados, arranhados e quebrados, os objetos menores estavam jogados por todos os lugares, as paredes e chão estavam pintados com sangue, muito sangue. Suas mãos pousaram no chão, chorando. Era muito sangue para falar que estava tudo bem.

- Angel – chamou Ethan, um dos assassinos -, vamos te levar de volta para a igreja. Pegue suas coisas. Aqui não parece mais seguro.

- Ethan, eu... – ela não conseguiu terminar a frase, suas costelas pareciam tremer muito para que conseguisse terminar. Seu único porto seguro em Londres acabara de sumir, seu pai era tudo o que ela tinha, Jacob era o líder dos assassinos de Londres, agora com o Estripador, os assassinos vão sumir um por um. Mesmo que três assassinos estivessem junto dela, agora sabia que o Estripador seria capaz de acabar com os quatro cavalheiros que a acompanhavam de uma vez, só lhe restava... não, nada lhe restava. Quem poderia ter feito isso? O que ela poderia fazer? Havia uma máquina para fazer tudo isso parar? Ela olhou para os homens que a escoltavam, os quatro havia ficado em estado de alerta. Jack e William ficavam na porta, Ethan e Dylan olhavam janela por janela, canto por canto. Ethan entregou a Dylan uma pequena trouxa com algumas das roupas dela, a comida e o dinheiro que encontrou. Ela sabia que ele estava certo – ... eu aceito – cedeu, suas forças restantes eram capazes somente de levantar a mão, mas desabou nos braços de Ethan.

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