Thirty Five

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Kim YongSuck

A eu de quatro anos atrás, nunca imaginaria que poderia ser livre algum dia. Na verdade, ela vivia sonhando com um futuro, mas não podia se ver nele. Se alguém me dissesse que hoje eu estaria livre daquela vida de correntes, eu negaria, negaria a existência de todas as correntes, mesmo que existisse o peso delas em meus pulsos. Eu forçaria um sorriso e diria que estava tudo bem, que tudo não passava de uma fase, e que se aquilo estava acontecendo, era por culpa minha.

Eu me negaria para mim mesma.

A verdade é que crescemos cercados por grandes contos de fadas, e passamos a sonhar com príncipes, esperando que nos salvem. E, se não crescemos assim, então o mundo nos faz acreditar que precisamos de alguém para ser completo. Desde novas, nossas cabeças são enchidas com ideias que nos condenam a viver por uma falsa moral. Somos colocadas a uma posição, a qual devemos obediência, e somos silenciadas, até que sejamos capazes de apenas gritar um último socorro, que muitas vezes não pode ser ouvido. Afinal, ninguém pode interferir no relacionamento dos outros, mas podemos lhes dizer que deve seguir uma forma de malditos padrões.

Ninguém nos ensinou a amar a nós mesmos.

Em algum momento precisamos de um empurrão, que nos leve a beira do abismo, para que então entendemos que, não existimos por outro motivo se não por nós mesmos. É neste momento, que escolhemos a nós mesmos, ou nos perdemos no infinito da escória que o mundo faz de nós.

Eu caminhei vendada, durante anos não pude me enxergar, o reflexo no espelho não exibia a mim, eu havia deixado que aos poucos apagassem minha luz. Então caminhando no escuro, à beira do abismo eu percebi que aquele não era meu final. Eu tive mãos que me puxassem, apesar de heróicas, não poderiam ser suficientes, apenas eu poderia me salvar.

Ao final, o único que pode te salvar, é você mesmo.

Aos poucos eu entendi, que precisava me colocar acima de tudo. Não foi um processo fácil, e muito menos rápido, eu estava reconstruindo tudo que haviam quebrado, e recuperando aquilo que deixei que levassem. E por mais que eu me libertasse, estaria presa às memórias. É como uma batalha, podemos sobreviver, ainda que feridos, as cicatrizes sempre estarão em nossas peles.

A nossa maior evolução é quando entendemos, que ao final de tudo, elas não são mais nossas correntes, mas nossos aprendizados, a lição de quando não podemos escolher a nós mesmos.

Depois de tudo, acreditei que não poderia amar, e muito menos poderia deixar que alguém me amasse, ou que poderia me entregar para alguém novamente. A verdade é que o amor tem suas diversas faces, e eu pude conhecer a mais pura delas.

Eu podia amar e ser amada.

Quatro anos depois, pude recomeçar, livre de tudo que já havia me prendido. Eu era livre para amar. Livre para lutar. Livre para fazer escolhas. Livre para sentir. Livre para viver. Livre para ser eu.

— De volta a Seul! - Namjoon anuncia quando sobrevoamos a capital.

— A cidade das almas! - respondo sorrindo.

Kim havia planejado toda viajem de lua de mel, e se recusara a dizer para onde iríamos, pois deveria ser uma surpresa. E ao chegar, notei que ele guardava os detalhes das coisas que eu falava, já que em uma conversa eu lhe disse que tinha vontade de ir aos países da Europa, que os museus de lá deveriam ser incríveis. Namjoon organizou cada um dos roteiros, com os passeios típicos das atrações de cada cidade, jantares em ótimos restaurantes, e a visita a cada museu. Apesar de ter sido incrível, qualquer lugar que fôssemos, Kim daria um jeito de garantir que seria incrível. Apenas sua presença faria com que isso validasse.

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