Quando entramos no avião, fiquei em estado de choque. Meu cérebro desenvolvia cinco, ou seis idéias diferentes simultaneamente e eu não conseguia entender nada. Era como uma sala de aula barulhenta, onde todos os alunos conversam ao mesmo tempo.
Suzy pareceu perceber que havia algo de errado.
- Um dólar pelos seus pensamentos. - sussurrou ela enquanto me abraçava de lado. Calor humano foi o suficiente para formar um nó na minha garganta e eu não consegui responder - Vai ficar tudo bem. Não sei ao certo qual sensação você está sentindo, afinal cada pessoa reage de um jeito, mas estar literalmente nas nuvens anestesia tudo por um momento, você vai ver. É mágico!
Deixei uma lágrima escorrer. Essa lágrima significava insegurança, felicidade, ansiedade, euforia e saudade.
- "Atenção senhores passageiros..." - e então não tinha mais como escapar do avião, voltar atrás e desistir. As portas foram fechadas e as instruções de voo foram dadas.
Eu sentia que meu corpo todo iria explodir. Abracei Suzy com toda minha força e deixei as lágrimas virem.
- Shhh, honey. Estou aqui por você. - como uma quase desconhecida conseguia fazer com que eu me sentisse tão confortável e segura?
- Sabe que eu sou asmática né? - perguntei para ela.
- Eu...sim, sei. - Suzy parecia confusa com a pergunta. Era incrível como era fácil ler as expressões no rosto dela. Dentro de um segundo ela arregalou os olhos, quase desesperada demais - Está com falta de ar?
- Não - fiz uma pausa para rir, me divertindo com o jeito que ela estava me olhando. Ela parecia preocupada e perdida. Na verdade ela não tinha noção do por quê eu estava rindo, se a um segundo atrás eu estava chorando. Nem eu tinha noção, mas perceber isso me fez rir mais ainda de mim mesma - Só queria pedir para você ficar com essa bombinha aqui - sussurrei "bombinha" para ninguém do avião achar que era terrorista e foi a vez dela de rir.
- Ah, Jesus Cristo! Não me mata de susto - ela suspirou com a mão no peito.
- Eu tenho outra comigo, mas sempre prefiro confiar em outra pessoa além de mim.
- Que honra ter sua confiança, senhorita Laura. - ela fez uma reverência torta extremamente exagerada, tirando sarro.
- Ooolha que eu tomo de volta, viu! - disse semicerrando os olhos.
- Toma nada. Não tenha uma crise, por favor!
- Como se eu controlasse, né, Suzy! Tipo... "Oh! Quero ter falta de ar e quase morrer sem conseguir respirar enquanto estou em casa, porque mais tarde eu vou no shopping e quero aproveitar o passeio." - Suzy ria com a vozinha fina irritante que eu estava fazendo.
- Entendi, entendi - ela balançava a cabeça em negação enquanto parava de rir aos poucos – de qualquer forma, não tenha uma crise aqui.
O avião decolou e eu pude ver o pôr do sol deixando o céu alaranjado e rosado e (lilasado? Hahahaha) fiquei super encantada e tirei várias fotos.
Não é que Suzy tinha razão? Era mágico!
E por um instante me esqueci que minha família e amigos estavam ficando para trás e que logo ali, na Califórnia, minha banda favorita me esperava.
Com os pensamentos aquietados pude olhar para Suzy. Ela olhava pela janelinha do avião como se fosse a primeira vez que estivesse vendo esse espetáculo, maravilhada, assim como eu.
- É a coisa mais linda esse show de luzes, não acha?
- Sim, é a coisa mais linda que eu já vi até hoje - respondi olhando de volta para as nuvens - hey, você não está acostumada pegar voos?
- Sim, sim, toda semana. Mas isso nunca deixou de me tirar o fôlego, Laura - então ela me encarou e abriu um sorrisinho de lado. Uma expressão de maldade? - E eu achei que a coisa mais linda que você já tinha visto fosse o Matthew, ou o Brian.
- Ah, não, haha, não sou esse tipo de fã, sabe? - ela continuou me olhando com aquela cara de gente safada - E para de me olhar assim, esquisita! - não aguentava aquela mulher, ela me fazia rir. Poderíamos ser muito amigas. Eu iria precisar de amigos.
- Então que tipo de fã você é?
- Eu sou... Sabe, meu irmão mais velho é um amante da música. Quando ele tinha minha idade, ele teve uma namorada roqueira, o que fez ele dar mais atenção ao rock. Foi aí que ele descobriu o Avenged Sevenfold e como ele estuda música, ele manja dos paranauê - Suzy gargalhou quando disse a gíria, mas não me interrompeu - Sério, e ele sempre me instruiu para onde eu deveria ir no caminho do bom gosto musical, porque temos uma irmã que tem um gosto beeem questionável.
- Questionável?
- Sim! Sabe essas músicas que as vezes estouram apenas pelo marketing visual e vira modinha achar elas legais? - ela balançou a cabeça afirmativamente, mordendo o lábio inferior, como quem fosse explodir se segurasse o riso por mais um minuto. Continuei: - Essas músicas! Mas meu irmão me salvou disso. Ele me mostrou o que faz uma música ser boa. Então para concluir meu monólogo... - Suzy não aguentou e gargalhou outra vez -...eu sou o tipo de fã que foi convencida no teste cego.
- Teste cego?
- É. Eu não tinha visto os caras, nenhuma imagem, nem nada. Eu só ouvi e já amei.
- Ah entendi.
- E é claro que eles são uns gatos, Suzy, mas eles têm idade para serem meu pai!
- Tá. Entendi. Então você é fã apenas das músicas deles?
- Não. O motivo principal é a música, porém os caras são umas figuras. Eu gosto deles como pessoa, porque eles são humanos. E divertidos.
- São mesmo. Você vai adorar eles.
- Eu adoro eles, hahaha.
- Vai adorar mais ainda, hahaha.
Após esse diálogo, nós duas assistimos um filme e dormimos. E a viagem foi repleta de conversas sobre minha família e sobre bandas. Ela me pediu pra mostrar a ela minhas músicas favoritas e ela me mostrou as dela. E teve pausas para lanchinhos. Eu estava tranquila até o avião pousar em solo americano.
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Fog Storm
FanfictionLaura e seu melhor amigo Tiago descobriram que a banda Avenged Sevenfold havia lançado um concurso. Quem vencesse ganharia um ano de intercâmbio em Huntington Beach, morando com os integrantes da banda. Parecia loucura, porém contra a vontade dos...