Destruir ela

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Duas semanas haviam se passado e já era segunda-feira de novo. Pela primeira vez, eu iria sair de casa. Pela primeira vez, pisaria na escola depois do ocorrido.

Não tinha sido fácil, depois que saí do hospital. Me proibiram de ver meus amigos, quebrando a promessa que eu tinha feito a eles de que conversaríamos em casa. Mas eu sei que não foi por mal, afinal eles me fariam rir, com certeza. Nem mesmo vi a cara de Johnny por uma semana inteira, pelo mesmo motivo.

Pra ser bem sincera, ser tratada como bebê, me aproximou mais das meninas e isso me fez bem. Elas me contavam suas histórias, enquanto me ajudavam com o banho, ou penteavam meu cabelo, ou vestiam minha roupa. Eu conseguiria fazer isso sozinha, mas elas insistiam em ajudar. Vesti vestidos da Meaghan por duas semanas seguidas, por que facilitavam minha vida.

Eu tinha perdido 2 quilos nos 3 primeiros dias com a droga da dieta que me passaram, então parei de me pesar. No quinto dia eu poderia comer a fibra dos alimentos, ou seja, legumes batidos no liquidificador, sem peneirar. E estava sendo assim desde então, ainda não tinha sido liberada para comer comida sólida e não podia pensar de jeito algum em sal, temperos com pimenta, frutas cítricas, café, bebidas com gás e bebida alcólica.

A polícia tinha investigado tudo o que poderia, mas nada foi encontrado. A tal da Camilla foi interrogada, mas ela tinha um álibi, o que me fez agradecer aos céus. Imagina a confusão.

Os meninos me visitaram por 15 minutos, na segunda-feira passada, há uma semana. Me trouxeram uns DVDs, livros, uma cartilha para iniciantes de violão e um violão. Como se faltassem instrumentos naquela casa.

Eu até iria avisar que eu tinha internet em casa, mas eles estavam se esforçando tanto em ser os melhores amigos do mundo, que eu deixei pra lá.

Tinha sido útil, no fim das contas. Assisti a todos os filmes de ficção científica e terror dos anos 80 e 90 que alguém possa imaginar. Matt e Val assistiram grande parte deles comigo. Finalmente aprendi jogar os vários jogos do Matt. Existia uma palavra para descrever isso: VÍCIO. Eu tinha viciado nos jogos e nós dois passávamos horas a fio jogando. Vendo o sol se por e nascer enquanto atirávamos sem parar nas cabeças de personagens fictícios de pessoas reais online.

Já o violão, bom, eu aprendi alguns acordes no violão que eles trouxeram, mas era confuso fazer tudo ao contrário, então arranjei a solução perfeita para os meus problemas. "Zackyyyy, me empresta seu violão?" e vòila, melhor impossível. Notas maiores e menores estavam de cor na minha cabeça. Zacky vibrou tanto com isso, nunca tinha o visto tão animado. Mas depois eu dei uma desistida, já que meus dedos estavam assados e despelando.

Minhas costelas tinham desinchado e a mancha estava progressivamente sumindo. Lacey estava comigo no quarto, me trocando. Elas tinham arranjado um vestido jeans de botões na frente, que ficou uma graça em mim, de verdade. Até eu achei. Meu rosto estava magro, pálido e tinha umas olheiras muito, muito, muito profundas. Era uma pessoa muito diferente no espelho.

- Fica tranquila, gatinha. Você vai voltar a ficar gostosa rapidinho quando puder comer comida de verdade – ela disse colocando um brinco de argolas em mim.

- Obrigada, Lacey – disse segurando o riso e ela fez uma careta. De verdade, ela e Johnny tinham que ser um casal.

- Vou fazer uma maquiagem em você – ela falou animada.

- Eu queria ir assim, mesmo, com cara de morta – falei encarando o espelho de um jeito sexy e ela gargalhou.

- Só um pouquinho. Quero que você tenha uma volta impactante!

- Mais impactante que essa cara de morta? – apontei para meu próprio rosto erguendo as sobrancelhas e ela voltou a gargalhar.

- Impactante de um jeito bom. Agora fica quietinha pra eu passar a base em você.

Fog StormOnde histórias criam vida. Descubra agora