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CAPÍTULO 10

— Já disse para vocês, eu não sei. Só estou querendo ir para... Para... A capital assim como vocês. — Respondia em nervosismo as perguntas imparáveis de alguns dos moradores de cima dos Dormuns, enquanto eles cativadamente me dava uma boa hospedagem para ficar.

Por mais desconfortável que seja ficar em cima de uma enorme criatura, elas até que não se debatiam tanto e era descansável poder me deitar em uma boa cama de palha. Sentia como se meu corpo pudesse desmanchar a qualquer segundo, e isso só se intensificou nos segundos antes de eu me deitar. Acho que nunca na minha vida senti um prazer tão grande... Quer dizer. É relativo.

Mas, foi uma das sensações mais reconfortantes que eu senti em dias.

Agora, eu pensava no que me aguardava. Tenho certeza de que talvez em um ou dois dias eu já esteja naquele disco solar que o povo shurimane está agora chamando de capital.

Nesse "comboio" de Dormuns, tenho visto bastante seguidores dos ascendentes. Durante as refeições eles agradecem ao "Falcão Pai" pelo retorno, e antes de dormir é normal se dar um tempo para rezar para as lendas antigas do deserto. Pedindo a Rammus para lhes trazer sorte durante a jornada, torcendo para que em seus sonhos não se deparassem com a mortal múmia solitária ou para que Nasus os guiassem para o pós-vida se caso algo acontecesse.

Eu não vi muitos devotos aos ascendentes nas outras cidades, mas, por algum motivo é bem comum em vilas pequenas, entre os saqueadores, nômades ou coletores seguirem afinco essas tradições. Mesmo que elas tenham surgido um pouco menos de um milênio depois do cataclisma que engoliu a capital e seu imperador.

Do meu quarto pequeno, tinha uma pequena saída que eu diria ser a janela, se dava para ter uma boa vista da paisagem plana do deserto a noite. Em Piltover, a noite era quase sempre cheia de nuvens por conta da alta produção de químicos. Mas aqui, era quase como poder olhar para um enorme oceano. Era magnífico, e um dos meus maiores bens de me aventurar por essas terras. Ver as estrelas em sua melhor forma, como uma boa pintura que parecia terem sido feitas justamente e exclusivamente para a contemplação de seres como eu. Imagino o que ou quem teria feito tais constelações com tamanha precisão. Espero eu poder estar aqui quando nós conseguirmos explorar além dessa terra.

Bem, seria muito, já que nem do nosso próprio lar sabemos de tudo a respeito. Quanto mais do que está sob nossas cabeças.

Eu no entanto, estou mais do que contente em me aventurar dentro dos infinitos templos abandonados daqui. E quando eu estiver explorado até o limite, talvez eu vá para Freljord.

Quem saiba eu consiga um encontro com a Lux.

— Está bem longe de casa, não é?

Aquela voz feminina não me era familiar, e vinha logo do meu lado. Soando como se fosse em um tom melodioso e debochante de alguém esnobe.

Virando um pouco minha cabeça, tinha a visão de uma garota parada a porta do lugar. Bem, porta não... Entrada, porque os quartos não tinham portas e sim apenas uma cortina para dizer que tínhamos um pouco de privacidade.

Seu rosto era jovem, mas rugas e marcas deixavam claro que ela passou por bastante coisa. Uma pele escurecida com longos cabelos lisos e um pouco empoeirados, escuros, descendo até a sua coxa como uma pequena onda que balançava com o pouco de agitação que tinha com a locomoção dos Dormuns. Os olhos cor de âmbar eram quase dourados se refletidos com alguma luz de cor semelhante, e eles me fitavam com a expressão selvagem de alguém que acabou de encontrar a próxima refeição.

— Não tão longe quanto gostaria. — A respondia permanecendo ainda deitado.

— Se eu soubesse pouco, diria que você veio dos portos de Piltover, mas não faria sentido alguém que more por lá perder sei tempo nessas terras. Então eu diria que você veio dos portos de Bel'zhun... — Falava ela com um tom de assertividade e prepotência, ao qual indicava que ela tinha total certeza de suas palavras. Com um pequeno suspiro eu a respondia.

Discordes ÁridosOnde histórias criam vida. Descubra agora