Confiança

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CAPÍTULO 2

Entre todos os dias pecaminosos que eu tive de passar, jamais senti tamanho receio. Porventura seja da minha ainda inocência que queria um dia tirar da minha cabeça. Aquilo já havia causado-me demasiados problemas e não queria e muito menos precisava de mais dor de cabeça em um momento já estressante como o qual vivenciava atualmente.

— Olha por onde anda garota. — Pestanejou um homem ao acidentalmente esbarrar em seu ombro. Seu tom indicava irritação e pressa, e pelas suas vestimentas simples com algumas bolsas em seus ombros, era só mais um comerciante ambulante que muito provavelmente tinha suas razões para estar com raiva de tal modo.

— Desculpe. — O respondi sem dar muita importância para seu tom grosseiro. A esse ponto já não ligava para a ignorância de qualquer sujeito que se dirigia a mim daquela forma.

A cidade de Vekaura estava extremamente agitada, bem diferente de como eu havia visto ela pela primeira vez ao deixar minha família para trás. Isso foi a... Mais de um ano. Parece que eu passei gerações longe daqui. No entanto, a explicação era mais que clara tendo em vista a mudança obvia que se teve.

Um antigo canal outrora seco por gerações, por um milagre havia voltado a fluir com a mais pura água cristalizada que aquelas pessoas jamais tiveram a oportunidade de provar. De fato, nem mesmo eu recordo-me de uma água tão limpa mesmo fora de Shurima. Em Iônia, havia encontrado diversas fontes, mas nenhuma parecendo tão transparente como está. Se não fosse pelo reflexo da luz nas ondulações agitadas desse canal, eu poderia jurar que não tinha água alguma ali. Aquele líquido límpido estava além do natural, era quase divino. E isso era o que mais me preocupava.

Isso aconteceu a alguns dias, e mesmo assim a cidade já estava cheia de pessoas que claramente não pertenciam àquela região. Pelos deuses, eu tive deslumbres de ter visto até mesmo trajas noxianas entre eles. Se meus olhos não pregaram peças em mim mesma, se Noxus está avançando tanto, eu não podia simplesmente ignorar algo tão alarmante.

Ao passo que eu entrava nas entranhas da cidade, eu realizava algumas perguntas para as pessoas tentando compreender exatamente o que se passava. Nenhuma conseguia me dar respostas concretas, sem que seja pela força da fé ou crença em algo. Todos diziam as mesmas coisas. "Nossa divindade retornou", "O Falcão pai irá nos proteger". Se isso realmente significava alguma coisa, qualquer coisa que fosse o que eu imaginava, seria um problema.

Durante minhas passadas eu estava andando perto do canal, o fitando com uma sensação de deslumbre e temor. Até que subitamente eu ouvia o grunhido de uma mulher, e ao olhar para meu lado em uma sarjeta escura, lá ela se encontrava. Uma mulher de longos cabelos negros, coberta com um trapo rasgado de um tecido de qualidade duvidosa. Aproximando-me dela com cautela, eu percebia que parecia estar desacordada, e no chão ao seu lado havia uma lâmina de quatro pontas em um formato peculiar e semelhante a uma estrela, apoiada á parede, parecendo ter mais da metade do seu tamanho. — Como ela consegue manejar isso?

Ela estava pálida, e no seu rosto havia marcas de lutas recentes como se ela havia sido espancada. Quando eu levantei o manto, me espantei ao ver uma ferida perfurante em seu abdômen que parecia ter sido tampada rudemente com um pedaço do mesmo manto. Isso explica do porque dele estar rasgado. O problema, era que a bandagem provisória já estava encharcada de sangue e seu ferimento continuava aberto.

— Pela Grande Tecelã, como você ainda está viva? — Minha atenção se voltava aos arredores buscando algo que pudesse usar para ao menos trocar aquela bandagem. Não havia nada além das minhas próprias vestes, e isso deveria servir.

Agora eu só precisava de água para limpar a ferida. Então eu corria na direção do canal, e rasgava uma parte da manga da minha camisa, e a umedecia nas águas. Não antes de hesitar um pouco. Quando meus dedos sentiram a frieza daquelas águas, eu soube que não era somente na sua aparência que ela era diferente. Parecia transbordar vida de tão fresca que ela estava.

Discordes ÁridosOnde histórias criam vida. Descubra agora