CAPÍTULO 14
As pernas ágeis me carregavam até onde meu fôlego conseguia aguentar. As asas crescidas em minhas costas se agitavam sempre que eu precisava pousar com mais precisão em algum lugar que eu não alcançaria normalmente.
Eu escutava, passos apressados seguindo-me pela floresta adentro em um ávido desejo sanguinário para matar-me. — Tolos... Não passavam de pedaços de carne idiotas. — Ruminava em minha mente.
Tem sido um tanto estranho meu período evolucionário nesses últimos meses. Desde que eu tive o desprazer de cruzar meu caminho com aquele vastaya, a minha mente tem mudado.
Após ter devorado o olho daquele que teve a audácia de me caçar e maior frieza de conseguir me ferir, venho conseguido... Raciocinar. Antes eu caçava apenas por fome e necessidade sobrenaturais, agora, eu caçava por prazer. Conseguia sentir o gosto da carne que eu devorava, ainda mais com presas vivas. É sempre um deleite vê-las agonizando conforme eu consumia sua carne bem na frente de seus olhos.
Agora, mais do que nunca eles buscavam vingança.
Dois humanos tribais corriam atrás de mim com seus brinquedos afiados, gritando com o ódio borbulhando em seus corações enquanto buscavam vingança contra aquele que atacou e dizimou sua família.
Ah, só de lembrar como foi a sensação de ver aquela expressão suplicante da fêmea em agonia profunda. Que pena não ter esperado aqueles dois terem chegado antes... Eu poderia tê-la devorado na frente deles.
O que eles eram dela? Pelo pouco que ouvi deles gritando, acho que eram... Parceiro de acasalamento e a cria da fêmea. Fazia sentido estarem tão determinados em buscarem a minha cabeça. E mesmo que eu esteja me divertindo um pouco atrapalhando a vida desses insetos, já estava começando a ficar entediado.
Isso era uma coisa que havia mudado em mim. Eu... Sentia.
Diferente de quando eu vim a este mundo sujo, eu não sentia nada além de fome. Ou melhor, da necessidade incessante de consumir. Estava além de um instinto natural, era quase um propósito de vida. Havia uma voz que não parava de me dizer... "Devore, evolua devore, evolua".
Após o encontro com um vastaya estressado e por sorte ter conseguido comer seu olho, eu comecei a evoluir o meu... Consciente?
Quando menos percebi, eu comecei a comer não somente por necessidade, mas também por prazer. Era revigorante ver as emoções extremas que minhas vítimas esboçavam, ainda mais os humanos. Eles são os melhores em expressar sentimentos, principalmente o medo e a raiva que foram as duas primeiras coisas que já tive o desprazer de senti.
O medo principalmente é algo interessante. Ele pode servir de gatilho para outras emoções como a tristeza, alegria e a própria raiva dependendo do ser ao qual está sofrendo ele.
Uma queimação estranha passou pelo meu braço esquerdo, e quando voltei para a realidade percebi que havia uma flecha enterrada em minha carne. — Ainda preciso saber os momentos certos em que posso parar e pensar. — A garra do antebraço direito cortava a flecha no meio, e meu corpo faria o resto do trabalho pulverizando a ponta metálica da flecha dentro do meu braço.
— Acho que já está na hora de acabar com essa brincadeira.
De acordo com o meu faro, já estávamos chegando na borda natural que separava a floresta do vasto deserto. O enorme rio setaka flui poucos metros ao caminho que fazia, justamente para não correr o risco de perder-me.
Em um salto ágil, eu alcançava um dos galhos mais altos em meio às árvores e cipós, e com a ajuda das minhas enormes garras afiadas dos pés mantinha-me equilibrado sobre ele.

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Discordes Áridos
Приключения!HISTÓRIA RECOMENDADA PARA MAIORES DE 16 ANOS! Após três mil anos desde a queda do antigo império shurimane outrora governado por Azir, o disco solar, responsável pela criação dos poderosos ascendentes e grande símbolo de Shurima se reergue das arei...