Prólogo

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Lena Luthor não era alguém fácil de se lidar, como sua família havia ensinado bem, era arisca, desconfiada, sarcástica, persuasiva e muito inteligente. Não que essas qualidades a tornassem difíceis, mas era inevitável torna as coisas um pouco complicadas. Lena apenas tinha o dom de toda mulher e sabia bem como usar isso a seu favor. Não era atoa que estava a frente de um império. Não havia sido fácil chegar lá, mas ela não só conseguiu como fez homens prepotentes se ajoelharem. Era o que fazia de melhor, e gostava muito. Mas, vez ou outra, encontrava alguém que batia de frente alguém, sem medo. Mas era tão raro que ás vezes a entediava. Homens arrogantes e convencidos, mulheres invejosas e prepotentes que desejavam o poder que ela tinha em mãos.

Porém, um dia seu caminho se cruzou com um belo e jovem rapaz de jeito meio tímido e sorriso brilhante que havia derramado café em seu terno caro, mas foi perdoado, isso claro, depois de pagar um novo café e deixar a roupa de Lena na lavanderia na qual ele pagou a despesa sem perguntar ou se importar com o fato de que ela tinha dinheiro pra mais cinco gerações viverem confortavelmente. Foi assim que começou aquele contato com o rapaz de sorriso fácil que a encontrava para o café no mesmo lugar durante quase toda a semana. Uma das muitas, Lena chegou antes dele e bem a tempo de vê-lo chegar com a camisa colada ao tronco pela tempestade que caia do lado de fora e que, pelas notícias, duraria a semana inteira. E mesmo assim ele sorriu ao vê-la, envergonhado de parecer um pato molhado diante de alguém tão bonita. E ela sorriu de volta pensando se ele poderia ficar ainda mais fofo.

E os cafés viraram almoços, lanches da tarde, jantares e vinho no apartamento de quem estivesse mais perto. Viraram noites de filmes, jogos e bares com outros amigos. Viraram aproximação de dormir no enorme sofá dela por questão dele e da cama dele para ela por questão dele também. E assim construíram um laço de amizade e confiança mútua que vinha durando há exatos cinco anos. Inclusive entre desilusões amorosas que terminavam em brigadeiro sobre a promessa de que se casariam se mais nada desse certo. Talvez fosse por isso que ela nunca se preocupou antes em perdê-lo ou que se perderia dele. Embora soubesse que isso não aconteceria totalmente, mas aquela sensação não saia de seu peito. Não era diferente das outras vezes, não era a primeira vez e mesmo assim a incomodava muito mais que quaisquer outras vezes.

"Está apegada demais a esse rapaz, Lena! E isso é perigoso." Sua mãe dizia e, talvez, tivesse razão. Mas Lena não pode evitar, ela não quis evitar.

Evitar significava não ter o conforto de conversar com ele sobre tudo e sem julgamentos, evitar significava sentir-se só, evitar significava não compartilhar risadas e pequenas divergências sobre filmes e assistirem mesmo assim, significava não poder rir da quantidade de vezes que ele ficava vermelho e envergonhado. Não, não queria evitá-lo. Estar com ele era sempre tão... tão simples! Mesmo que se sentassem, lado a lado, em um banco de praça compartilhando biscoitos e observando a paisagem familiar de crianças, pais e seus bichinhos em um dia ensolarado sem dizer uma palavra. E quando a mão dele encontrou a dela e os dedos se entrelaçaram, os olhos finalmente se encontraram e ela sabia que independente do que houvesse ele estaria lá. Não havia uma palavra naquela promessa e, no entanto, ela tinha certeza, no brilho daqueles olhos azuis, que ele cumpriria.

Agora, Lena sentia como se um abismo tivesse se aberto e a afastaria dele. E tudo isso em tão pouco tempo. Tempo que ela contava os minutos desde então...

Aquele era, enfim, um dia bom desde que teve que viajar e passar nove longos meses presa em uma conferência de empresários bem sucedidos na Europa. Era óbvio que foi bom para que ela pudesse acertar algumas parcerias e fazer novas alianças, mas isso não deixava menos tedioso e cuidar de mais de uma empresa a distância a deixava com menos tempo pra se comunicar com seu melhor amigo, por exemplo. E havia deixado uma Luthor muito ansiosa com a ultima conversa quando disse que ele tinha uma novidade para contar, porém só diria pessoalmente. Desde então, ela tem tentado imaginar o que ele estaria escondendo tanto, já que, mesmo sua persuasão por mensagem não havia surtido efeito de fato.

E ao vê-lo atravessar a porta a procurando com olhar não a deixou menos ansiosa do que estava. Lena acenou discretamente e ele sorriu abertamente ao vê-la. Ele continuava o mesmo, o cabelo cortado em topete loiro, os óculos em armação grossa, roupas sociais e uma barba nascendo que era novidade. Lindo e fofo.

"Oi, Lee!" Ele abraçou forte e carinhoso deixando um beijo no canto de sua testa como fazia sempre que abraçava, já que, ele era mais alto, embora Lena nunca fosse assumir isso. "Senti sua falta!"

"Mentiroso! Você parou de ligar no segundo mês!" Olhou para o loiro com descrença e desconfiança.

"Calúnia!" Arregalou os olhos. "Não há um dia que eu não tenha pensado em você, fora as mensagens que você não respondia, Srta. Viciada em Trabalho." Provocou-a com certo drama que a fez revirar os olhos.

"Drama Queen!" Zombou e ele riu com vontade. "Mas você disse que tinha uma surpresa e eu quero o fim desse grande mistério." Lena cruzou as pernas o desafiando que corou e sorriu levemente desviando do olhar fixo e incisivo dela.

"Bem, eu..."

"Amor! Demorei? Desculpe, o trânsito estava horrível." A mulher que se aproximava sorria abertamente e levou o loiro a se levantar, abraçar e selar os lábios nos da moça que sorriu.

"Amor, essa é minha melhor amiga Lena." Ele se virou para apresentar Lena que se levantou pronta para encarar a mulher mesmo que não soubesse quem é e porque ela continuava tão grudada nele. "Lena, essa é minha noiva, Amanda." Ele a olhou com um sorriso que chegava aos olhos.

"Amanda Becker! É um prazer conhecê-la, Srta. Luthor." A ruiva alta estendeu a mão para a morena que deu o seu melhor em exibi o sorriso de CEO retribuindo ao cumprimento.

"Igualmente, Srta. Becker."

Desde então, Lena tem visto o loiro menos do que gostaria. Havia sempre um compromisso que afastava os dois e o maior empecilho agora tinha olhos azuis, cabelo ruivo e um sorriso de porcelana. Amanda até não parecia ser uma má pessoa. Era gentil, educada e muito carinhosa com ele. E mesmo assim aquilo deixou Lena irritada e, ainda mais, com ele por não ter contado. Sentiu que não fazia parte daquele pedaço da vida dele e isso incomodou, e muito! Mas não teria o que fazer, teria? Logo haveria cada vez menos espaço na vida dele para compartilhar com ela e, em seu coração, ela se perguntou: Poderia mesmo viver com isso?


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