21 - Mágoas

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"É verdade, mãe! Eu a encontrei. E adivinha? Ela está noiva de outro!" O moreno disse indignado ao telefone enquanto olhava um filme qualquer na televisão.

"Eu sei que isso ainda magoa, mas não seria melhor você deixar isso pra lá?" A mais velha do outro lado da linha perguntou com cuidado.

"E fazer o quê?" Riu sem humor.  "Fugir? Fingir que não tem nada demais enquanto ela... Eu sei lá, engana o próximo e some???" Exasperou irritado.

"O que ela vai fazer da própria vida não é mais da nossa conta. Ela nunca fez parte da nossa família e depois de Tudo o que ela fez, estou surpresa que ainda queira ouvir o que ela tem a dizer. Se é que tem mesmo!" Revidou irritada.

"Nós nos amavamos, mãe." Disse sofrido. "Eu tenho certeza disso. Não é possível que tudo tenha terminado assim! E se terminou, eu tenho o direito de saber o porquê." Deitou no sofá olhando para o teto com certo ódio.

"Faça como achar melhor, William. Só não cause problemas. E nem pense em trazer essa vagabunda de volta ou eu deserdo você! Entendeu?" A mulher disse mais calma, mas com um tom frio que fez o filho revirar os olhos.

"Eu só saio daqui quando isso acabar, mas não vou fazer nenhuma loucura. Prometo." Abrandou-a.

"Ótimo, querido." A mulher sorriu satisfeita. "E ligue pro seu pai antes que aquele homem me faça esganá-lo." Disse entre dentes ainda com um sorriso congelado em seu rosto. "Beijos, amor! Mamãe te ama."

"Também te amo, mãe." William disse e desligou ouvindo o som da campainha. Ele se levantou com o dinheiro em seu bolso, pegou a comida com o entregador, deu o dinheiro sem se importar com o troco e fechou a porta na cara do rapaz que se quer teve tempo de dizer algo.

William Dey podia não parecer, mas vinha de uma geração burguesa de família tipica e tradicionalmente inglesa. Do tipo que ainda se importavam com o chá das cinco. Como filho homem único de seus pais teve uma vida confortável e pode até escolher que carreira seguiria na vida. Não que tudo fosse fácil sempre, mas passou bem diante da vida. Seu pai era um empresário do ramo de transporte de coisas grandes e sua mãe... Bem, ela agia como se tivesse mesmo algum grau de parentesco com a Rainha Elizabeth. Não cansava de contar sobre um tio Conde que era primo da Rainha e muito menos quando foi convidada para um chá pela mesma. Sempre aumentando um pouquinho ou apenas adornando suas fantasias a realidade.

William não sabia que se apaixonados imediatamente quando conheceu ela, não sabia que viveria o melhor e o pior momento da sua vida. Abandonado no altar na frente de sua família, amigos e até vizinhos como se não fosse nada importante. Muito menos que ela fosse desaparecer completamente do mapa. Achou que a conhecia. Que conhecia a garçonete da lanchonete, como sua mãe costumava gostar de dizer o tempo inteiro. Mas ele não ligava, não se importava sobre como a conheceu. Não via nada demais nisso, achava sua mãe exagerada demais nessa ideia fixa de sangue azul que nunca existiu na família.

Então ela se foi. E ele se perguntou o que havia acontecido. Era ele? Era o casamento? Era sua família? Ela não estava feliz? Quando finalmente havia desistido de ir atrás dela estava destroçado e destroçou outros corações quase como consequência. Foi a vez dele de sair e sumir. Até ela surgir na sua frente como um fantasma, em plena luz do dia e melhor amiga de um de seus chefes. Exalando poder e confiança, diferente da mulher que ele conheceu em Londres. O olhou como se nunca tivesse visto antes e o cumprimentou com um sorriso simpático. William sentiu tudo. Sentiu a dor, a perda, a humilhação, o ódio, o amor... Tudo! Como um tsunami. Agora já era muito tarde para fingir que tudo estava em seu lugar. Amanda teria de pelo menos explicar ou ela iria pagar. Disso ele tinha certeza.

William estava entrando na empresa de manhã quando a viu. Ele tratou de passar pelo outro lado para que não fosse obrigado a cumprimentar. Ela falava algo com o Danvers loiro animadamente. O rapaz parecia um pouco vermelho enquanto ela sorria. O moreno foi para sua mesa que ficava afastada o suficiente e ao mesmo tempo com visibilidade para os dois. Jogou a bolsa em cima da mesa de qualquer maneira e ignorou qualquer um que dissesse qualquer coisa a ele. A conversa animada pouco tempo a frente foi interrompida por Andrea que disse algo a ruiva. Logo a mesma estava pegando sua bolsa para acompanha a CEO para fora dali. William bufou quando a viu sumir da sua vista. Ainda não estava pronto para aquilo. Não estava pronto para o confronto.

No entanto, a surpresa veio a cavalo quando a ruiva voltou seu caminho e puxou Kurt para um selinho demorado. Quando se afastaram ela sorriu limpando a marca do batom na boca dele levemente foi embora de novo. O loiro ficou vermelho e desajeitado não só com o beijo, mas com o fato de que era observado pelo seus colegas de trabalho. Na sua falta de jeito deixou algumas pastas caírem o forçando a pegar as folhas de relatórios que se espalhavam. William se levantou numa rapidez que jogou a cadeira no chão com impacto. Porém ele não pareceu se importar quando saiu do departamento agarrando sua bolsa para longe dali. Ainda esbarrou em duas pessoas e nem se quer pediu perdão ou as olhou. Só continuou até o elevador que estava preste a descer, para sua sorte, vazio. Ele bateu a mão contra o metal sentindo a adrenalina daquele turbilhão de sentimentos correndo nas veias, fervendo.

- William? William!! - Alguém chamou e ele pareceu não ouvir.

Ainda desceu a tempo de correr para o estacionamento, mas o carro onde ela estava na companhia da CEO já estava saindo para o trânsito de Nacional City que, por um acaso, estava calmo. Aquela sensação de vê-la ir a lembrou do dia de seu casamento. Ela fugindo num táxi vestida de noiva debaixo de chuva. Tudo de novo, quis chorar de raiva. Mas não se permitiu. Só pegou o caminho para o outro lado para bem longe dela e das imagens que estavam na sua cabeça. Naquele dia disse a si mesmo que aquele turbilhão seria seu combustível. E que nada o impediria de ter a verdade custe o que custar.

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