22 - Verdade

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Alex olhou com cautela para a mansão. Era quase um castelo de tão grande e parecia lotado de segurança máxima. A ruiva não se importou muito ao se aproximar do portão e encarar dois homens altos e mal encarados. Ela também não fazia muita questão de ser simpática. Puxou o distintivo americano do FBI para os dois que arquearam as sobrancelhas e trocaram olhares como se estivesse decidindo se abririam ou não.

"Espere aqui, Yankee." O homem falou com certo desprezo e saiu deixando-a do lado de fora.

A agente olhou para o relógio em seu pulso e suspirou. Quem a olhava de roupas comuns e uma usual jaqueta de couro poderia facilmente dizer que era uma turista. Mas um turista não tem contatos o suficiente para passar com armas de um país para o outro sem ser incomodada. E falando em passar, ainda tinha que ligar para o Win. Faltava saber exatamente onde morava Amanda Becker. O segurança voltou assentindo para outro que abriu o portão sem questionar. E quando ela passou se deparou com um jardim bem cuidado com esculturas de árvores e uma escadaria pequena onde uma moça a esperava com um leve sorriso no rosto.

"Olá, sou Louise. Vou acompanhá-la até a Lady Amélie."

"Obrigada." Sorriu educada acompanhando a moça.

Se a casa era grande por fora, por dentro tinha mesmo a estrutura de um palácio real. No teto tinha pintura livre de Da Vinci e Matisse. As pilastras eram douradas e os móveis de madeira. Na sala, os sofás divididos em três cantos pareciam abrir espaço para olhar um enorme quadro de família acima da lareira. A mesa no centro tinha um jarro de tulipas que pareciam recém colhidas do jardim. No canto uma espécie de mesinha com gaveta ficava um rádio de vinil. A Danvers não se lembrava da última vez que viu tanto estilo neoclássico em um lugar só. Parecia que tinha atravessado para cem anos no passado.

"Confesso que estou surpresa, a última visita que esperava era de uma policial americana." A mulher vestindo um conjunto rosé e com um copo de whisky na mão esquerda. - E muito bonita por sinal.

"Detetive Alex Danvers, operações especiais do FBI." Estendeu a mão para a mulher que aceitou de bom grado.

"Sou Amélie Dey, mas acho que você já sabe." A mais velha sentou no sofá macio indicando o lugar a sua frente para que a ruiva fizesse o mesmo. "Como posso ajudá-la, Detetive?"

"Em primeiro lugar gostaria que soubesse que isso é apenas uma visita e a senhora não é obrigada a responder nada." Avisou a outra que assentiu. "Mas se puder responder, eu agradeço."

"Bem, farei o que for possível." Amélie sorriu e deu de ombros.

"O que sabe sobre Amanda Becker?" E de repente o sorriso no rosto da elegante mulher sumiu e deu lugar a uma expressão de desgosto.

"A prostituta?!" Perguntou retoricamente. Alex franziu o cenho levemente tentando entender. "Ela namorou meu filho, William. Mas eu disse que ela não passava de uma aproveitadora. Ele não acreditou, é claro!" Riu sem humor.

"Por que diz isso, Senhora Dey?"

"Amélie, querida. Não sou tão velha assim." Disse de maneira cordial.  "O fato é que ela era na verdade uma das prostitutas que meu ex-marido dormia quando estava entediado. Ele a pois no caminho do nosso filho. Tinha medo que meu William fosse homossexual. Uma bobagem!" Revirou os olhos e se aproximou da ruiva. Alex ainda a olhava inexpressiva, embora tivesse surpresa. "A talzinha foi se infiltrando na família. Sempre com aquela expressão de inocência no rosto, você sabe. William ficou cego por ela e o pai dele garantia que eles ficassem juntos. Porém, meu instinto de mãe nunca falha."

"O que aconteceu?"

"Descobri que ela estava grávida do meu marido. Peguei os dois em flagrante discutindo no escritório. Assim que entrei, ela saiu pela porta fugindo. Foi horrível." Franziu o cenho pondo a mão no peito emocionada. "Sabia que quando meu filho soubesse ficaria destruído e não podia deixar isso acontecer."

Amélie entrou no quarto procurando a intrusa em sua casa. Rodou o local batendo os saltos e foi direto ao banheiro. E lá estava Amanda. Sentada ao lado do vaso sanitário chorando. A mais velha a olhou com desprezo, mas se assustou ao ver o sangue no chão debaixo dela.

- Pelo que ouvi você precisa de dinheiro, não é? Pois bem, eu darei a você uma boa quantia desde que você largue meu filho e desapareça do mapa. - A mulher fez questão de olhar friamente para a mais nova de cabelos castanhos. - E limpe essa bagunça antes que eu chame a polícia. Que eu saiba aborto ainda é crime nesse país! - Saiu do local deixando a outra sozinha no cômodo. Seu marido também pagaria por ter a enganado dessa maneira.

"... Ela ganhou uma boa quantia para sumir. E meu querido marido é obrigado a dividir metade de tudo o que tem graças a isso." Disse de maneira aliviada e Alex a encarou perplexa.  "Mas para ela estar sendo procurada pela polícia fez alguma coisa. Me diga." Amélie disse sem conter sua curiosidade.

"Conhecia Edward Kensington?" Alex tirou a foto do bolso mostrando um homem branco de aparência magra cabelo e barba cheios e uma expressão estranha.

"Não. Quem é ele? E o que aquela garotinha tem haver com este homem?" Olhou confusa observando os traços para ver se lembrava de algo.

"Ainda não sabemos." Alex deu sua resposta polida. Não queria dar informação nenhuma aquela mulher. "Se houver algo que a senhora saiba ou se lembre, ligue para mim." Estendeu o cartãozinho para outra que assentiu.

"Que cabeça a minha! Aceita uma água ou um chá? Estamos esse tempo todo conversando e nem te ofereci nada." A mulher sorriu desconcertada.

"Estou bem. Obrigada. Desculpe pelo seu tempo." Alex sorriu educada indo até a saída.

"O assunto não foi meu favorito, mas é bom ter companhia para variar. - A mulher tocou o ombro de Alex." Volte para um chá. - A ruiva assentiu concordando de maneira retórica e foi acompanhada pelo segurança que se mantinha a postos.

A agente saiu e deu alguns passos para a rua afastando-se da mansão antes de entrar no táxi que havia deixado para trás. O motorista que fumava a olhou meio mal humorado pela demorar. Alex não se importou. Apenas o mandou seguir para fora daquela área residencial rica da cidade. Antes de ir sacou o celular deixando uma mensagem para Win. Tinha grandes novidades, mas parte de si estava um pouco aliviada por estar um pouco errada sobre Amanda. Por enquanto.

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