29 - Retratação

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Lena Luthor não era o tipo de mulher que amargava tudo em copos de whisky ou vinho. As vezes ela simplesmente se forçava a esquecer como se pudesse apagar sua memória como um disco rígido. Em outras, ela só precisava de um pouco de distração que qualquer desconhecido poderia fornecer. Ela encontrou alguém em um bar que frequentava de vez em quando. Chegou a ficar ali um tempo apreciando o coquetel de morango com baixo teor de álcool. É claro que sempre vinha alguém querendo pagar uma bebida, só Deus sabe porque alguns homens simplesmente acham que uma mulher sozinha tomando seu próprio drink é um alvo fácil ou precisa de companhia.

Infelizmente para eles, a CEO achou o barman loiro muito mais interessante. Eles conversaram apesar da música e do barulho ao redor, ele forneceu um drink novo que havia criado por conta da casa para que ela experimentasse, ele não deu em cima dela e nem fez suposições do porque ela estava ali, ambos riram de alguns bêbados, ele ajudou a afastar os idiotas de perto dela e a morena decidiu que ele seria sua escolha da noite. A CEO esperou pacientemente o turno dele terminar e achou fofo ele ficar impressionado por ela dirigir um Audi R8 preto fosco. Isso porque ela não chegou ali com sua habitual roupa de CEO, mas sim um jeans apertado e uma camisa social branca que ficava bem por baixo da jaqueta de couro.

Ela dirigiu até em casa, deu ao rapaz um gole de seus melhores vinhos e uma noite inesquecível desejando que fosse outro apenas para deixar ele ir assim que acabou. Lena não poderia ter ficado mais satisfeita que ele entendeu e não questionou o fato. Com um sorriso e um beijo doce ele deixou o telefone pra contato e pegou o táxi que ela fez questão de pagar. Naquela noite ela amargou a solidão em um copo de vinho francês e um moletom preto do Batman. E desejou que o dono da peça estivesse ali, que ele a abraçasse exatamente como aquele moletom quente.

(...)

Quando Kurt bateu na porta que já conhecia desejou estar fazendo a coisa certa. Ao mesmo tempo não queria estar ali. Seu coração acelerou de adrenalina em imaginar quem abriria a porta. Mas ele esperou pacientemente o que viria a seguir. Ele contou em sua mente todos os motivos para estar lá e não pode deixar de pensar que seria mais fácil se Lena estivesse com ele. A CEO sempre sabia o que fazer, como se a solução fosse facilmente encontrada. Uma ironia, Kurt Danvers era conhecido por seu bom traquejo social. Sua seriedade em suas reportagens e seu respeito por tudo o que uma história poderia contar. E agora era apenas um tolo que não sabia o que dizer.

Amanda abriu a porta esperando que fosse o carteiro ou algo assim. Sua surpresa não poderia ser maior ao ver o loiro jornalista com seus óculos costumeiros no rosto, mãos nos bolsos e um olhar perdido.

"Oi." Ele disse baixo. "Podemos conversar?"

"Que eu me lembre, não temos nada pra conversar." Amanda cruzou os braços com uma expressão dura em seu rosto.

"Só preciso de cinco minutos." Ele insistiu sem fazer qualquer movimento brusco. Ela não deixou de encarar os olhos dele nem por um minuto e a mágoa era mais do que palpável. Como a tensão entre ambos.

"Se você veio aqui me machucar mais eu..." Ela se colocou fechando a porta querendo ignorar a presença dele. Mas o loiro se aproximou colocando a mão na porta e os corpos se aproximaram. O perfume dele a fez suspirar.

"Não. Eu quero apenas conversar, por favor." Pediu. Amanda pensou por mais alguns segundos antes deixar a porta aberta para ele entrar.

Kurt entrou e fechou a porta atrás de si. Ele notou a casa milimetricamente organizada e a pasta pronta para um dia de trabalho em contraste com a camisa que ela usava dos LuneTunes que um dia foi dele. E um short leve. Os cabelos presos de maneira desleixada e a maquiagem recém feita.

"Eu não deveria ter julgado você como eu fiz. Não poderia imaginar a dor de perder um filho." Ele respirou fundo com as mãos de volta aos bolsos. "Lamento, eu passei dos limites. Fui egoísta e sinto muito."

"E o que você espera com isso?" Ela manteve sua expressão impassiva como se estivesse em um tribunal.

"Nada. Na verdade." Ele disse devagar e não soube o que fazer consigo mesmo.

"Isso é tudo?" Ela caminhou em direção a ele se aproximando de novo.  "Você me magoou e me humilhou e tudo que tem a dizer é sinto muito?!" Ela sorriu friamente. Amanda o olhou mais uma vez antes de caminhar para porta atrás dele. "Você pode ir." Abriu a porta e ofereceu a saída.

"Você tem razão. E eu não vou pedir que me entenda e nem que aceite as minhas desculpas." Kurt a encarou em uma posição honesta de si mesmo. Olhando nos olhos dela de maneira triste. "Não vim pegar, fazer ou pedir nada. Nem espero que você aceite. Mas sinto muito." Ele caminhou até a porta já encontrando a saída.

"Você é um grande mentiroso!" Ela disse baixo bem próximo ao rosto dele. "Você nem pensou que eu não saberia?!" Ele franziu o cenho confuso e se afastou ela fechou a porta atrás dos dois com força o assustando um pouco.

"Do quê está falando?"

"Da maneira como você mente! Mente pra todo mundo!" Ela o acusou apontando o dedo no peitoral dele. "Nós nos davamos bem, nós namorávamos e saíamos. Aí, Lena aparece! E você esquece tudo! Tudo para ir atrás de Lena Luthor!" A ruiva enfatizou o nome da morena com raiva em seu peito. 

"Lena não tem nada haver com isso." 

"Não! Ela tem tudo, tudo haver com isso! Porque era sempre ela! Lena isso, Lena aquilo, Lena é incrível... E quando ela volta eu simplesmente não tenho mais namorado!! É tudo sobre você e sua amada Lena!" Ela gritou ofegante e as lágrimas rolaram de seus olhos. Ela riu sem humor. "Sabe o que é pior? Você está tão acostumado a girar em torno dela que nem consegue admitir que você a deseja." Ela passou a mão nos cabelos.

"Hey, você sempre soube que Lena existia na minha vida! Eu nunca escondi isso de ninguém! Lena é minha família tanto quanto Alex."

"É mesmo?!" Amanda riu com ironia. "Porque eu acho bem difícil que Alex e Lena estejam exatamente no mesmo lugar na sua vida! Não quando você deixa tudo pra ir atrás da sua amada CEO!" Ela olhou pra ele com desdém que sentiu por Lena no início. Kurt piscou um tanto sem saber o que fazer.

"O que você quer de mim?" Ele perguntou cansado.

"Admita! Assuma que você está apaixonado por Lena. Assuma que você não via nenhum futuro ou intenção de um quando me pediu em noivado." Amanda sussurrou aos prantos, soluçando de dor e raiva. A dor se refletindo das palavras as lágrimas que encheram os olhos dele. "Que eu não passava de uma maneira de tapar o espaço que ela deixou!"

"Eu amo Lena." Ele sussurrou e se surpreendeu com suas próprias palavras. "Eu a amo a tanto tempo que já nem sei mais quando começou. Eu... Eu sinto muito..." Ele se aproximou devagar a abraçando. Amanda reagiu claramente aquilo de imediato tentando se afastar, mas o conforto estava ali no mesmo lugar da dor. "Eu não menti pra você. Não menti quando te pedi em casamento. Eu queria uma vida com você. Mas eu sou perdidamente apaixonado por ela." Amanda bateu no peito dele mais algumas vezes tentando o afastamento.

"Você queria comigo a vida que você não pode ter com ela!" Amanda riu com mágoa e desdém.

"Não. Eu queria uma vida com você onde as coisas fossem mais fáceis. Onde eu poderia, quem sabe, esquecê-la e ser feliz com você." O jornalista segurou o rosto dela com as mãos a encarando. "Lena é um sonho. Você era real. E eu me apeguei a isso quando me apaixonei por você no processo."

"Tem noção do quão usada eu me sinto ouvindo você dizer isso?!" Ela chorou com indignação. Ele não respondeu, mas sabia exatamente como era. "Vá embora de vez!" Ela se desvencilhou dele e foi até a porta abrindo mais uma vez pra ele sair. "Vai embora, por favor!" E ele saiu deixando que ela batesse a porta contra seu rosto e a deixou sozinha. E não voltaria a procurá-la como havia prometido...

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