2 - Nossa Amizade Única

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"...Ficou pra Laranjeiras,
Satisfeito sorrio
Quando chego ali
E entro no elevador
Aperto 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa que
Não terminamos ontem
Ficou pra hoje..."

Kurt queria ter entendido o motivo de afastamento tão brusco, a frieza declarada e a indiferença deixada por ela daquela maneira, mas não conseguiu e esse excesso de duvidas não o deixou dormir. Às 23:30 da noite anterior fez sua última ligação pela décima vez e mesmo que seu coração batesse esperançoso em ouvir a voz de Lena, seu silêncio movido pelo toque da chamada caindo em caixa postal o derrotou e confundiu ainda mais. Perguntou o que havia feito de tão errado ou o que havia acontecido naqueles meses que criou um abismo entre eles? Mas descobriria de qualquer maneira, não desistiria tão fácil e não daria paz a Lena Luthor antes de saber toda a verdade.

E foi com isso em mente que o loiro terminou sua matéria do dia que consistia em uma séria crítica a violenta poluição aos oceanos, enviou todo arquivo direto para seu chefe e dessa vez não se preocupou em perguntar se ele queria mais alguma coisa antes de ir. Não tinha intenções de ficar e não queria que nenhum trabalho o prendesse lá. Se acertaria com Snapper depois que não ficaria satisfeito quando não o encontrasse, mas o que realmente satisfazia aquele homem?! No caminho, lembrou de passar na cafeteria favorita dela e comprar um cappuccino de chocolate com creme de chantili e os croissants que gostava. E tratou de chegar rápido ao maior prédio da cidade. Ao entrar, encontrou alguns conhecidos em seu fim de expediente e os cumprimentou de maneira breve, sob uma rápida olhada viu o alto segurança próximo a recepção acenar com a cabeça ao vê-lo a caminho do elevador que, por sorte, havia acabado de deixar um grupo de pessoas no saguão.

E quando digitou o número do último andar sentiu a ansiedade abatê-lo com um frio no estômago. Suspirou. Não havia volta dali, mas não queria voltar. Na verdade, ele só queria que o motivo da visita fosse diferente, que ainda houvesse aquele laço que os atraía como um imã e que quando a abraçaria não haveria aquela falta de chão que denunciava um abismo. Mas se tivesse essa era a hora para construir a ponte e então alcançá-la de novo. As portas do elevador se abriram diante de um pequeno corredor que dava acesso a uma grande porta branca onde ao seu lado habitava Jéssica, a fiel secretária da grande Luthor, que ao vê-lo sorriu de forma singela e simpática, porém não surpresa. Jess era uma bela mulher negra alta, forte, sempre bem humorada e com a uma forte personalidade na dose certa para se trabalhar com Lena. A jovem Luthor quando a entrevistou teve certeza que ela seria a escolha ideal como seu braço direito e jamais se arrependeu dessa decisão. Essa era uma das grandes razões que Jéssica era uma das secretárias mais bem pagas de Nacional City.

"Boa noite, Sr. Danvers!" A mulher o cumprimentou sem encará-lo diretamente e parecia fazer algo importante naquele computador da Apple, já que, não deu qualquer intervalo a sua constante digitação.

"Oi Jess, achei que tivéssemos conversado sobre esse Sr. Danvers." A mulher o encarou e sorriu corada, era força do hábito e não ocorria só com ele. "Tudo bem." Sorriu de volta de forma compreensiva. "Lena ainda está aí?" A jovem moça parou para olhar o relógio em seu pulso e se surpreendeu com como o tempo havia passado.

"Está sim, vou avisá-la que está aqui." Jéssica levantou-se e ajeitou a roupa social que usava antes de bater na porta a sua direita. Ouviu o barulho do trinco eletrônico que lhe deu permissão para adentrar a sala.

Lena permaneceu lendo aqueles papéis a sua frente meio espalhados pela mesa. Não se preocupou em olhar ao ouvir o barulho dos saltos de Jess que parou bem a sua frente. A Luthor desviou seu olhar para o relógio que piscava no monitor de seu computador rapidamente e voltou aos papéis.

"Sim, Jess. Está liberada por hoje. Não, Jess, não preciso de nada por hoje, obrigada. E peça sua amiga para não se atrasar amanhã, por favor. Obrigada."

"Sim, Srta Luthor. Avisarei a ela, vim apenas comunicar que o Sr. Danvers está aqui para vê-la." O olhar de Lena mudou e ela finalmente encarou Jéssica que esperava uma resposta. A morena piscou algumas vezes organizando seus pensamentos e respirou fundo.

"Mande-o entrar." A secretária acenou e sussurrou pedindo licença antes ir. E quando Lena focou seus olhos verdes nos papeis a sua frente não se sentiu mais tão concentrada e disposta a continuar lendo.

E quando a porta abriu de novo não conseguiu não olhar para o homem loiro que adentrava por ela com um grande sorriso.

"Oi Lee!" Se aproximou. "Imaginei que não tivesse perdido seu vício em trabalho e adivinha?! Trouxe seu cappuccino favorito." Ele estendeu o copo a ela que encarou por alguns segundos antes de voltar aos olhos azuis brilhantes dele.

Lena se levantou e sorriu aproximando-se de Kurt e antes que pudesse alcançar o cappuccino ela o abraçou como se eles não se vissem há muito mais tempo. E quando os braços dela o rodearam o perfume italiano pareceu um entorpecente. E por um segundo a linha de raciocínio dele se foi.

"Você sempre lembrando disso." Ela se afastou e pegou o cappuccino das mãos dele e não conseguiu não sorrir com cheiro gostoso que aquele copo quente tinha.

"O quê?" Perguntou a olhando com certa curiosidade. Ela bebericou o líquido e emitiu um som leve e baixo, mas perceptível em apreciação. Era delicioso.

"De mim, você é um fofo." Ele sorriu e desviou o olhar como sempre fazia quando ela o elogiava e ajeitava os óculos como se fosse saltar de seu rosto. "Mas tenho a impressão de que não foi só isso que te trouxe aqui."

"Ah, eu..." Hesitou vendo-a arquear levemente em busca de resposta. "Bem, eu... eu queria te ver e... sei que você tem andado muito ocupada e não quero te atrapalhar. Mas é que eu senti sua falta e precisamos conversar." Aquela mudança de tom no final da frase chamou atenção da Luthor. Ele não dizia que precisavam conversar a menos que algo sério tenha acontecido.

"Sou toda ouvidos." Lena voltou a sua confortável cadeira e se acomodou por ela ao mesmo tempo que o pacote de croissants frescos foi deixado a mesa tomando sua atenção. Kurt sentou-se logo após aquele ato. "E então?"

"Eu não sei o que eu fiz ou o que eu não fiz, na verdade. E... E se foi por causa do mistério todo envolvendo a Amanda, eu não fiz por mal." Ele suspirou e encarou os olhos dela desde que havia começado aquele assunto deixando a Luthor um tanto confusa. "Eu queria que você a conhecesse, só isso. Sei que não gosta de surpresa, mas não era pra ser assim. Quer dizer, não era essa a minha intenção quando decidir fazer isso." Lena entendeu. Ele estava falando do fato dela o afastar de forma sutil, no início.

"Não é por isso." Respondeu. "Achei que você estivesse ocupado com sua noiva e não quis incomodar." E pela primeira vez naquele pequeno encontro ela desviou o olhar. "Fora que mesmo Sam tendo deixado tudo em ordem, ainda preciso me atualizar de algumas coisas. Não tem nada haver com você."Mentiu convincente e sorriu sabendo que funcionaria. Kurt sorriu com certo alívio, aquilo significava que as coisas não haviam mudado entre eles, certo?!

"Ótimo!" A olhou animado. "Porque eu tenho uma intimação pra senhorita." Sorriu convencido e Lena arqueou a sobrancelha com um sorriso de Monalisa para aquele pequeno ato. "Eu tenho ingressos para uma belíssima peça de teatro que eu vou te provar de vez que é melhor que o filme! Portanto, a senhorita está intimada a ir comigo assistir Cisne Negro e eu não aceito não como resposta." Lena olhou para sua esquerda e quase não conseguiu esconder o sorriso.

"Devia levar sua noiva, ela com certeza adoraria assistir." Noiva. A palavra incômoda que Lena havia trazido a tona novamente.

"Sim, ela gostaria." Os olhos dele pareceram brilhar ao pensar na ruiva e aquilo fez sumir o sorriso de Monalisa no rosto da jovem Luthor. "Mas eu gostaria que você fosse comigo. Diga que sim, por favor!" Ele suplicou e fez aquele beicinho que Lena achava irritante, já que, com aquela expressão de cachorro que caiu da mudança se via incapaz de lhe negar alguma coisa. Era sua fraqueza, e isso era perigoso. "Quero minha melhor amiga de volta."

"Você fala como se tivesse perdido. Não sou eu quem está prestes a se casar." Sarcasmo e uma ponta de veneno. "Espero que ela saiba que tem o melhor partido da cidade. Eu aceito." Kurt não conseguiu não se envergonhar com o elogio. O que não era incomum quando provinha dela. Ele ajeitou os óculos no rosto e olhou para baixo por alguns segundos antes de voltar o olhar para ela. Aquela era a prova de que ainda não havia perdido aquela amizade única.

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