Não tive coragem de me despedir dela.
Não nessa época do ano, quando eu quero me trancar em um quarto e me esconder de todos. Deus, eu me sinto um lixo.
Um post-it. Foi tudo o que eu deixei para avisar a Victoria que passaria alguns dias, sem especificações.
Minhas mãos tremem enquanto eu ando pelo amplo espaço do aeroporto com meu bilhete em mãos. Sinto olhares julgadores em cima de mim, mesmo que eles não existam.
O toque da chamada do avião me irrita, como se ele precisasse me lembrar a cada 10 minutos que eu estou indo para o Brasil depois de anos. Merda, eu não sei nem se lembro falar português.
Minha própria voz ecoa pela minha cabeça enquanto entro no avião: "Eles te odeiam, claro que te odeiam, você matou o filho deles!". Algumas pessoas me olham estranho quando chacoalho a cabeça, tentando me afastar dessa voz.
Quando sinto o avião subindo, tomo um remédio, mas a voz não vai embora. "Você o matou" foi a última coisa que escutei antes de adormecer.
***
Uma mão vem ao meu ombro e me chacoalha levemente. — Senhor, nós chegamos.
Meus olhos se abrem lentamente, a primeira coisa que noto é que, infelizmente, não é Victoria me acordando. A segunda é que estou num lugar completamente diferente do meu quarto.
Minha barriga embrulha quando lembro onde estou e o motivo de estar aqui. Murmuro um "obrigado" e saio do meu assento.
Palavram em português inundam meus ouvidos e sinto uma leve nostalgia. Braços finos me apertam.
Emma.
— Eu senti tanto sua falta — Ela murmura no meu peito.
Abraço-a de volta e vejo meus pais se aproximando.
Meu pai dá alguns tapinhas em meu ombro enquanto minha mãe se junta ao abraço com os olhos marejados.
— Eth, senti tanto a sua falta, bebê. — Sua voz embargada soa no meu ouvido.
Algum tempo e muitos abraços depois, meu corpo tensiona quando eles perguntam se para a casa.
— Não... — Respondo. — Ficarei em um hotel.
Minha mãe me encara, apreensão em seus olhos. — Tudo bem... você pode ir conosco agora, só para passar a tarde ou...
— Não posso. Eu preciso... eu preciso vê-lo.
Eles assentem, a mão do meu pai vem ao meu braço. — Não foi sua culpa, garoto.
Não concordo com ele, mas assinto. A última coisa que eu quero é entrar em um debate sobre "Ethan matou ou não o seu melhor amigo?"
Meu pai estende a chave do carro que pedi para alugarem e agradeço, eles me ajudam a levar minhas coisas. Eu não quero me despedir, mas não posso voltar com eles para aquele lugar, aquela casa, aquele bairro...
Abraço Emma, minha irmã cinco anos mais nova, e beijo sua cabeça. — Senti sua falta, pequena.
Ela sorri.
Passo um tempo com o carro no estacionamento, mesmo depois da minha família ter ido embora. Quando ligo o motor, sei exatamente que lugar devo ir.
Quando paro meu carro no estacionamento do cemitério, um suor gelado desce pela minha espinha. A última vez que entrei aqui foi no pior dia da minha vida.
Mesmo depois de muito tempo, meus pés vão automáticamente até lá. Como um imã, meus olhos são atraídos para duas lápides próximas à de André.
Mathias & Laura
"Deixam seus irmãos, filha e amigos"Meu estômago embrulha, eram um casal já de idade que morreram juntos. Mórbido e bonito ao mesmo tempo.
Apreensivo, me viro para o de André, e é como se tivesse levado um soco no estômago. Sinto uma triste vontade de rir quando vejo flores novas ali, ele odiava flores.
Sento na grama e apoio meu braço na pedra gelada. — Eu sinto sua falta, cara. — Sussurro.
O silêncio me responde.
— Tenho medo de você me odiar, André, isso me bate todos os dias. — Soluço, minha mão vem ao meu rosto para conter as lágrimas. — Eu sinto tanto...
Uma mão alcança meu ombro. Me viro quando a voz da Sra. Mendonza chega aos meus ouvidos. — Não foi sua culpa, filho.
Os pais de André me encaram e eu me sinto patético por ter sido pego sentado no chão falando sozinho. O choque de vê-los, deles falarem comigo me atinge.
A figura rechonchuda de sua mãe anda até mim e pega minha mão. — Nós sabemos que não foi sua culpa. Não tinha como evitar.
Sr. Mendonza bate em meu ombro. — Nós aprendemos a aceitar a vida como ela é, por mais doloroso que seja, não temos como mudar o passado, só falta você entender isso.
E pelos próximos minutos, eu choro como uma criança nos braços dos pais do meu melhor amigo. Do cara que eu matei.
Ele falou que me ama.
Essa é a única coisa que pensei desde que acordei, uma hora atrás. Meu corpo ainda inerte na cama geme de fome e me obrigo a levantar.
Minha cabeça ainda gira. Ele falou que me ama, e eu não o amo de volta.
Eu não posso amá-lo. Ethan é a melhor pessoa que conheci, e sei que sinto por ele qualquer sentimento próximo de amor, mas não isso.
Ele é... engraçado, carismático e inteligente, Ethan poderia conseguir qualquer mulher que estivesse disposta a dar-lhe tudo que ele merece. Mas ele quer a mim.
Ethan merece a única coisa que eu não posso dá-lo. E não sei o que fazer em relação a isso.
*
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Engano Irresistível
RomanceVictoria Mitchell achava que tinha tirado a sorte grande ao conseguir comprar um apartamento luxuoso no melhor bairro de New York por um preço incrível. Porém, ela se vê completamente perdida ao dar de cara com Ethan Parker na... sua casa? Ao se dar...