before.

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[para mais tarde recordar ; acidente ; companhia indesejada]

Sacudo os calções de ganga que envergava, sem evitar expressar as maiores desmonstrações de vitoriosa e de satisfação possível, que qualquer um presente no acampamento conseguiria observar a metros de distância. Contrário de Ashton, que permanecia em passos repetitivos de trás para a frente com o nervosismo e frustração (devido a não ter cumprido o seu objetivo em colocar a tenda de pé), fazendo com que desse lugar as minhas rápidas e eficazes ideias um lugar. Sem hesitar, pousei a minha mão no seu ombro com o intuito de captar a sua atenção totalmente focada num ponto aleatório do horizonte.

– Estou a tentar assimilar o que acabaste de fazer. – ele aponta, logo após sentir o meu leve toque no seu ombro. Era a agitação nos seus movimentos, e voz exasperada que não poderia compreender.

– Tens à tua disposição uma tenta perfeitamente montada, sem probabilidades de cair um ferro em cima enquanto estás mergulhado num sono profundo. – resmungo, gesticulando de forma a revelar a minha indignação. – Qual é o problema?

– O problema? – ele inquere, como se fosse o assunto mais obvio existente. – A forma como o fizeste.

– Ashton, nunca se manda fazer um trabalho de mulher a homens. – provoco, notando que ele se referir à minha ideia reveladora e perspicaz.

Rodo o tronco, de modo a mirar na mesma direção do que o baterista, dando a vista para o rapaz moreno (que conhecera somente por Alex), a apreciar a minha figura do outro lado da sua tenda, rodeado por um pequeno grupo de amigos. Inocente, tendo a noção de que a razão da troca de olhares fora pura e simplesmente por ter pedido ajuda ao moreno, se poderia dar uma pequena ajuda a decifrar o mistério do manual. Esboço um último sorriso triunfante, enquanto remexia nos confins da minha mala, preenchida com roupas que saberia que não iria utilizar, dificultando o meu acesso ao maço de tabaco.

– Loirinho, porquê tanto nervosismo? – interrogo, com a substancia tóxica pousada no meu canto da boca.

– Está tudo bem.

– Vamos explorar isto, afinal não estamos numa sexta-feira? – sugiro, retirando o seu chapéu da cabeça, de modo a incentiva-lo a movimentar-se.

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Caminhava em passos largos, para não pisar alguém, (o recinto encontrava-se agora, com um número superior do que quando chegamos), o que tornava-se cada vez mais difícil a circulação pacífica até aos palcos principais. Porém, relembrar o quanto é bom um festival ao ar livre, onde temos oportunidade de divertirmo-nos com desconhecidos com o mesmo estado de espírito descontraído, que partilhavam um mesmo estilo musical, e ainda ter um bom momento que mais tarde estamos limitados a revivê-lo com memórias.

Analiso o local praticamente lotado, onde era possível verificar todas as carrinhas improvisadas para refeições pré-feitas com enormes filas, os recintos dos palcos ocupados por grupos sentados na relva cuidada ao mesmo tempo que trocam ideias, ou até mesmo jogos de cartas, e muitos deles aproveitam o dia fresco para relaxarem sobre o chão revestido de verde. Sobre todos os pontos de atração do espaço, uma pequena cabine vermelha de preta predomina a minha atenção.

– Precisamos de ir ali. – aponto para a pequena cabine de fotos perto da área dos restaurantes diversos.

– Claro. – ele assente, verificando se a sua bandana estava no sítio correto com uma mão, enquanto a contrária segurava numa enorme febra coberta por um igualmente exagerado pão.

Apreso os meus passos, circundando o pulso de Ashton de modo a incentiva-lo a fazer o mesmo, queria aproveitar a grande oportunidade em que não havia qualquer vestígios de fila para a cabine, (pois a maioria encontrava-se a saciar a ânsia de ingerir uma gordurosa refeição). Digito os dados pedidos antes de entrar no curto espaço, retirando o dinheiro necessário para pagar as quatro fotos, enquanto implicava com o baterista para não entrar na mesma antes de terminar a sua refeição, uma vez que não pretendia terminar com vestígios de comida na minha face.

– Para mais tarde recordar. – murmuro, preparando as feições com que iria tirar as fotos interligadas com uns três segundos de diferença.

Antes de conseguir mentalizar os meus olhos da luz terrível a que iriam ser expostos, um flash é emitido apanhando-me completamente desprevenida, (e, o mais provável era ter ficado com os olhos cerrados logo na primeira fotografia.) Contudo, enquanto penso nas possíveis hipóteses outros flashes surgem repentinamente, acabando por me fazer render ao expressar uma aparência decente, finalizando no último com um rápido beijo na bochecha do loiro que segurava o cigarro nos seus lábios rosados.

– Muito bom! – um riso inesperado escapa dos lábios de Ashton ao ver o conjunto de fotografias.

Franzo as sobrancelhas após a sua reação histérica, todavia, entendi de imediato o motivo do riso; o conjunto estava de facto engraçado. O baterista retira o seu marcador do bolso traseiro, escrevendo por detrás do cartão «bochechas, julho 2013» antes de as entender para as minhas mãos quando o seu telemóvel emite um som elevado.

– Claro, preciso apenas de cinco minutos. – o loiro informa, desligando o aparelho de seguida. – Vamos, bochechas?

Assinto, agarrando no seu braço para ter total certeza de que não me iria perder na extensa multidão de pessoas. Sinto pela terceira vez desde dos primeiros raios de sol, a presença de ansiedade em Ashton, que mordia o lábio inferior constantemente e evitava grandes conversas. Presumi que fossemos regressar ao acampamento, contudo terminados por caminhar na direção contrária; os palcos secundários. Conseguia diferenciar o número de grupos entre o lugar, comparado com os principais.

– Qual é a banda que vamos assistir? – pergunto, soltando o meu braço ocupando o mesmo para afastar uma madeixa de cabelo claro para detrás da orelha.

– Das melhores bandas, sem sombras de dúvida.

– Fica aqui. – Ashton pede, logo de seguida ao rejeitar uma chamada do seu telemóvel. – Mais tarde, irás agradecer por este momento.

Ouço as suas últimas palavras confiantes antes de o mesmo virar as costas, desaparecendo numa questão de segundos. Constrangida por acabar entre no meio de uma multidão, que muitos aparentavam ter semelhanças comigo; desleixados, pouco preocupados com o que se passava ao seu redor, amantes de boa música, e uma tendência tentadora para uma substância tóxica. Elevo a cabeça ao ouvir os aplausos emitidos, fazendo com que abanasse a cabeça ao mirar os quatro jovens prontos para exibir a sua música, e assim conseguir entender o nervosismo e irrequietação do baterista. Apesar das raras ocasiões em que tivera oportunidade de escutar as suas músicas, era notável a sua felicidade em tocar perante uma maior plateia, e não somente para meia dúzia de pessoas num mero café.

Call me lucky 'cause in the end

I'm a six and she's a ten

She's so fit, i'm insecure

But she keeps coming back for more

Surpreendida com o solo do baterista, que chama de imediato a atenção provocando pensamentos de porquê de o loiro não obter mais solos noutras suas músicas. Miro o loiro, na esperança que este note as minhas figuras a mover o isqueiro em chamas de um lado para o outro. Obtenho a sua atenção por curtos segundos, em que apenas responde com um sorriso, deixando cair uma baqueta no chão, que num ápice pede desculpas a Luke, que atira um olhar feroz pelo acidente.

– Ora, ora. – ouço uma voz perto dos meus ouvidos, gerando um movimento rápido da minha parte para identificar a autora do comentário inoportuno. – Quem diria que ainda estarias em Nova Zelândia?

Friday · afiOnde histórias criam vida. Descubra agora