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[súbitas vontades ; não podes estar a falar a sério ;  final]

Segunda-feira, 8 Julho de 2013.

Contemplo a vista a partir da janela da cozinha enquanto estava debruçada na mesa das refeições, onde pedia mentalmente para mais umas horas de descanso por ter adormecido num horário tardio. Não estava preparada, nem psicologicamente nem fisicamente para iniciar uma rotina regular e exaustiva de trabalho. O vento abanava os troncos das árvores, deixando algumas folhas caídas sobre o parapeito da janela, forçando-me a fechar a mesma para evitar a entrada das folhas secas. Aumento o barulho dos meus auscultadores, evitando ouvir os saltos incomodativos de Miriam que embatiam de cinco em cinco segundos no chão de madeira clara.

– Riley, o que é que se anda a passar nessa cabeça? – ela questiona, retirando repentinamente um dos meus auscultadores. – Estou a tentar falar contigo à cinco minutos.

– Porque é que as pessoas só falam comigo quando quero ouvir música?! – bufo, revelando o meu mau humor matinal.

– Quando ficares surda, não quero arrependimentos! – Miriam comenta, arrumando as canecas nos respetivos armários. – Já podes desvendar com quem andas a ter encontros?

Ashton. A única e exclusiva palavra que invadiu a minha linha de pensamentos ao ouvir a pergunta receada de curiosidade de Miriam. Todavia, estaria a negar se não soubesse desde o princípio que esta questão iria aparecer, pois depois de todas as suspeitas das minhas constantes saídas só agora é que, a morena teve a necessidade de procurar as repostas para as suas dúvidas. Quanto ao baterista, não tem dado quaisquer sinais desde que despedi dele na estação, algo que também não me deixou surpresa.

– Como é que tem andando o ambiente no café? – desvio sem ressentimentos o assunto, depois de um extenso momento de reflexão.

– Normal. – a morena revira os olhos perante a minha súbita mudança de conversa. – Ontem houve uma pequena festa de aniversário, achei estranho o Ashton ter passado a maioria do tempo sentado numa mesa a encarar uma foto, provavelmente já estaria bêbedo, mas o Cal–.

– Nem tudo o que parece é. – atiro, referindo-me ao facto de o loiro não se embebedar, e apenas pretender que o está para obter os seus objetivos.

– O quê? – Miriam eleva os seus braços, sem entender o que tinha dito num tom baixíssimo.

– Podemos ir? Estou com uma súbita vontade de trabalhar. – minto, desviando pela segunda vez consecutiva o tema abordado, agarrando na minha mala de cabedal incentivando à saída da moradia.

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Passo as mãos sobre o meu cabelo claro, bebendo de seguida um gole da garrafa de água praticamente vazia. Em nenhum momento desde que chegara a Nova Zelândia pensara que iria passar uma das minhas preciosas tardes a arrumar, e organizar diversos arquivos, apesar de ter encontrado uma vantagem nesta inesperada situação; conseguira ler, rever entrevistas e dar uma vista de olhos sobre reportagens incríveis publicadas, e outras completamente esquecidas. Histórias que desejara ser ter sido a sortuda jornalista em entrevistar as pessoas e recolher todas as informações preciosas para a notícia.

Orgulhosa de ter feito de uma sala de arrumações completamente desarrumada, agora um espaço mais livre e aplausível aproveitara os últimos minutos para repousar antes de abandonar o recém-emprego. Todavia ainda faltava uma caixa de cartão, na qual Miriam informou desde o princípio que não era necessário preocupar-me com a mesma. O título escrito a caneta permanente preta era bastante tentador; jornais não-publicados.

Verifico o meu relógio de pulso, vendo que tinha pela frente uns curtos minutos para dar uma rápida vista de olhos nos papéis. Abri a caixa de cartão, retirando da mesma a primeira pilha de revistas em que, em letras grandes dizia «dezoito de agosto de 2009», seguido com um texto em letra minúsculas comparadas com o título e a data do jornal. As imagens chamaram-me à atenção, levando-me a espreitar o pequeno excerto.

– Estás pronta? – Miriam entra sorrateiramente no armazém, analisando o espaço devidamente arrumado. – Que cara é essa?

– Miriam, qual é o último nome do Ashton? – arregalo os olhos, espantada com o texto revelador que acabara de ler umas duas vezes.

– Irwin, a que propósito vem essa pergunta?

– Não podes estar a falar a sério... – levo a mão ao meu rosto, encobrindo a minha expressão branca com tudo que assimilara.

E quando pensas que sabes tudo, no final não sabes nada.

Friday · afiOnde histórias criam vida. Descubra agora