before.

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[qual é o teu problema? ; seguranças irresponsáveis ; recuperar] 

Rodo os calcanhares de modo a identificar a autora do comentário inconivente, um breve suspiro solta-se dos meus lábios ao encarar a companhia indesejada de que em nenhuma altura passou pela mente em comparecer no recente festival. Cruzo os braços, esperando pelos seus discursos repetitivos e desinteressantes, ao verificar a sua expressão frustrada por ignorar a sua repentina intervenção.

– Afinal, qual é o teu problema? – acabo por proferir num impulso, provocando um sorriso sínico da sua parte.

– Nenhum. – Blair encolhe os ombros, segurando o refrigerante nas suas mãos. – Presumi que tivesses deixado o pensamento imaturo de deixar o dever do trabalho para o fim da lista.

Deixo escapar um sorriso sarcástico nos meus lábios carnudos, revelando a despreocupação e falta de paciência que tinha perante as suas provocações insignificantes. Sabendo que as pessoas apenas pretendem atenção através de comentários e boatos desnecessários e que, ficam ainda mais irritados se com as suas provocações não obterem o resultado pretendido, acabo por permanecer em silêncio.

– Tudo bem, Riley. – ela recua, soltando os seus cabelos escuros presos num elástico. – Pelo menos, nunca festejo sozinha.

– Nunca mal-acompanhada. – Ashton intervém, pousando a sua mão sobre os meus ombros ao mesmo tempo que tenta controlar a sua respiração ofegante após o seu curto concerto. – Vamos aproveitar esta sexta-feira que ainda está no princípio?

/ \

Acompanho as batidas da música produzida no palco principal, movendo o meu corpo enquanto segurava numa mão uma das bebidas (que perda a conta das que consumia), porém nem mesmo o recente efeito do álcool que fervilhava no meu sangue aparentava não ter qualquer género de incómodo até ao momento. O baterista que era de momento o barman das últimas horas, (e, encarregue de segurar a minha mão assegurando-se de que não me iria perder entre a multidão alterada) entretinha-se a murmurar diversos assuntos com os outros membros da banda que optaram por usufruir o último dia do festival.

– Sabem o que poderíamos fazer? – Luke questiona, sem retirar o copo avermelhado da sua frente. – Uma vista ao palco secundário, a esta hora deve estar vazio.

– O palco já não está fechado? – inquiro, observando os movimentos descoordenados do vocalista.

– Desde quando é que isso é um problema? – o baterista introduz-se automaticamente na conversa, incentivando a um dos seus desafios.

Numa questão de segundos, Luke troca umas curtas palavras num tom bastante elevado com os dois restantes membros da banda, ocupados em obter uns números de algumas raparigas presentes. Encaro Ashton, antes de Luke caminhar até o nosso encontro. Os seus olhos esverdeados agora focados num ponto aleatório do horizonte, faziam-me questionar se estaria com um pingo de álcool a mais por se aventurar numa das suas ilegalidades porém, era somente Ashton a ser ele mesmo.

– Vamos?

Aguardo por algum aviso de um dos dois rapazes, recebendo apenas os braços de Ashton em volta aos meus ombros com o intuito de não me perder de vista. Este encaminha-me para uma saída no meio da multidão que movimentava os corpos suados e completamente absorvidos pela música altíssima que estava a ser produzida, reparei em movimentos nos lábios do loiro no entanto, era impossível perceber algo. Não houve falta de encontrões e comentários degradáveis vindo dos jovens com um copo a mais. Receosa de perder no meio da extensa multidão, (tal como acontecera com Luke, que desaparecera num curto espaço de tempo), agarro a t-shirt branca do meu parceiro de tenda.

– Calma, não vou permitir que te percas bochechas. – Ashton reage ao meu movimento brusco, assegurando a minha proteção.

Assinto, cruzando o olhar de seguida com o mesmo, um suspiro escapa nos meus lábios ao deparar-me com a ligeira diferença de pessoas à volta do palco. Rodo o tronco, de modo a procurar Luke, porém não obtive um único sinal do rapaz. Avisto o palco secundário a poucos metros de distância, somente frequentado por um segurança que, não aparentava estar a prestar o mínimo de atenção no seu trabalho, pois encontrava-se adormecido encostado a uma das colunas. Nem queria imaginar o cenário caso alguém as ligasse.

– Pelos vistos segurança não é problema.

– Conseguiríamos entrar caso houvesse segurança. – o loiro profere, retirando os braços dos meus ombros.

– Até concordava contigo se não soubesse que não sabes montar corretamente uma tenda. – rio baixinho com a minha provocação, dando um pequeno encontrão ao rapaz de caracóis.

Ashton encolhe os ombros optando por não responder a minha brincadeira e, invés disso apressou os seus passos em direção à entrada do palco. Um sorriso vitorioso formado nos meus lábios ao aperceber-me de que a porta de acesso permanecia destrancada. Entro sorrateiramente seguindo o baterista, tomando cuidado para não calcar nenhum dos cabos espalhados pelo chão, elevo a cabeça analisando uma visão completamente diferente de quem vê os concertos, a vista do palco para o relvado era sem dúvida uma coisa sem explicação, algo diferente.

Rodo os calcanhares ao ouvir os passos do loiro que acaba por se sentar na sua bateria, após tropeçar umas poucas vezes nos cabos desarrumados, com ideias alteradas na minha mente devido à presença do álcool no meu sangue não hesito em caminhar até ao seu encontro acabando por sentar ao seu colo causando uma expressão pasmada com a minha atitude. Sem consequências, sem arrependimentos.

– Não estás bem. – Ashton aponta, segurando nas minhas ancas cobertas com uns calções de tonalidade escura.

– Estou ótima. – confirmo, batucando num dos pratos da bateria originando um estrondoso barulho.

– Vais acordar o segurança!

– Ashton, – coloco o meu polegar sobre os seus lábios com o intuito de este diminuir o som seu elevado, pois não era minha intenção ser descoberta por invasão de propriedade. – Tu é que vais acordar o segurança caso não te acalmares.

Pouso o meu olhar sobre os seus, ficando unicamente audível naquele espaço as nossas respirações pesadas e desorganizadas de ambos, entrando num jogo de olhares sérios. Sem dar o meu lado fraco, continuo o recente jogo de olhares cada vez mais intensos gerando uma aproximação até conseguir sentir os seus lábios rasparem nos meus entreabertos.

– É impressão minha ou o segurança baba-se enquanto dorme? – Luke entra repentinamente no local, cortando de imediato a nossa imprevista aproximação.

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Pelas voltas e reviravoltas no colchão desconfortável poderia jurar que havia causado um buraco com a forma do meu esbelto corpo, enquanto pretendia obter uma posição confortável que me permitisse adormecer. Pouso a minha mão sobre a cabeça pesada, captando os primeiros sinais da futura ressaca, que aumenta aos poucos devido à atuação barulhenta do palco principal. Levanto o meu corpo, envolvendo os meus braços em volta dos joelhos.

– Consegues permanecer quieta durante dois minutos? – ouço a voz sonolenta de Ashton, incomodado com os movimentos constantes.

– Não consigo adormecer.

– Um cigarro talvez consiga ajudar? – ele sugere, atirando a sua almofada contra o meu rosto. – Ou se preferires, sempre te podes aconchegar.

– Onde? Só trouxe esta manta com desenhos ridículos. – exponho mais um problema, sem deixar opções credíveis para o loiro rabugento.

– A mim, idiota. – Ashton eleva o tom, virando-se para o lado contrário.

– Tudo bem. – aceito a sua recente ideia, aconchegando-me no seu corpo coberto com uma camisola cinzenta, pousando a cabeça nos seus ombros.

{considerando se deva ou não apagar este capítulo, não está nada do meu agrado}

Friday · afiOnde histórias criam vida. Descubra agora