Capítulo 1

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NOVA VERSÃO

"Porque eu estava cheia de veneno
Mas abençoada com beleza e fúria
Jim me disse que...
Ele me bateu e pareceu como um beijo"

Ultraviolence, Lana Del Rey.

𝔏𝔲í𝔰𝔞 𝔊𝔯𝔢𝔢𝔫

Girei a chave em movimento circular fechando o estabelecimento e aproveitei para me certificar de que não havia deixado nada para trás quando abri a mochila, logo jogando as chaves a dentro.
Suspirei. Já havia perdido as contas de quantas vezes repeti isso no mês, ou melhor, no ano.
Assim que revisei a mochila, e percebi que tudo estava certo, me permiti deixar o meu local de trabalho para trás.

Exaustão tomava conta de meu corpo, e eu não fazia a mínima ideia de como ainda conseguia andar após um dia inteiro sem deixá-las descansar. Meus ombros estavam pesados que por um segundo jurei estar ficando corcunda.

Após alguns passos distraída com os pensamentos invasivos sobre o como eu estava exausta, acabei por tropeçar em uma pedra que estava justo no meu caminho. Meu peito apertou quando pensei que iria cair, e isso era tudo o que me faltava, voltar para casa toda quebrada após um longo dia de trabalho. Porém, nada aconteceu, continuei de pé.

- Que carajo... - Resmunguei um xingamento em espanhol antes que eu pudesse me controlar, e um segundo depois me repreendi mentalmente.

Prometi a mim mesma que pararia de proferir xingamentos a todo instante. Prometi que aprenderia a controlar a minha mierda de língua.

Palavrões estão a todo momento saindo de minha boca, e quando não saem, provavelmente estou internamente gritando tudo o que posso. Nem mesmo sei porque ligo para essa merda. Aprendi desde pequena a xingar apenas em espanhol, então quem é o babaca que vai entender que está sendo ofendido? Ninguém, porque os americanos fazem um ótimo papel quando a questão é ser burros ignorantes.

Mas acredito que quando se torna muito repetitivo, eles finalmente se dão conta de que o que eu estou dizendo provavelmente não são coisas bonitas, nem mesmo a porra de uma cantada.

Argh, clientes tarados.

Não canso de xinga-los, e muitas vezes a ignorância presente em seus corpos os fazem pensar que estou respondendo positivamente aos seus assédios. Quando na verdade estou mandando eles se engasgarem até a morte com aquela porcaria que chamam de comida.

Suspiro pela décima vez no dia e então observo o céu brilhoso. Essa parte do dia já se tornou uma rotina para mim. Olhar para cima da forma mais sincera possível, e desejar que se houver algo lá, que me ajude a melhorar de vida.

Porque provavelmente se continuar assim, irei cometer loucuras, e nenhuma delas me fará durar muito.

Durante o percurso do caminho até em casa, eu me mantive atenta a qualquer movimento nas ruas escuras mas também presa nos meus pensamentos. Tudo girava a preocupação, eu não aguento mais.
Provavelmente serei demitida de meu trabalho por espancar meu chefe se por acaso mais alguma vez ele ousar levantar o tom de voz para mim.

Me surpreende o como o ego do filhinho de papai é grande.

Todos os dias uno todas as minhas forças para que eu consiga me controlar e não gritar em sua face. E quando percebo que passei mais um dia inteiro sem agredir alguém no local de trabalho, eu penso "puxa, até que eu não sou tão descontrolada assim."

Eu dou uma risada anasalada com esse pensamento, mas meu humor se evapora no instante em que escuto algo não muito distante.

Respiro fundo. Não é nada. Digo para mim mesma.

𝐌𝐞𝐮 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐚𝐧𝐡𝐨 𝐕í𝐜𝐢𝐨 | 𝐿𝑜𝑘𝑖Onde histórias criam vida. Descubra agora