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A perda do amor de sua vida, de fato, é a mais dolorosa. Não seria forte o suficiente para lidar com a ausência de felicidade que estaria dali em diante para fazer companhia, seus sentimentos desapareceriam feito areia, então não lhe restaria nada além de vazio. Poderia enlouquecer apenas com o silêncio em sua cabeça, zunindo, tomando conta de cada canto de todo o seu ser. Ela perdeu a pessoa mais importante de sua vida, e sequer sabia o motivo de ter sido abandonada. Okuda não enviou mensagens, não ligou para explicar a partida, só pulou da ponte enquanto olhava diretamente para Kayano, cuja assistiu cada segundo tortuoso daquela cena que a assombraria pelo resto de sua vida.

E, de alguma forma, tinha certeza de que Akabane Karma estava envolvido nisso. Ele deve ter a encorajado a cometer tal ato, sem pensar nas consequências, tratando o estado emocionalmente frágil de Manami como uma mera piada. Por culpa desse degenerado, ela estava morta. Ainda agia como se estivesse de luto, para completar a desgraça, olhando nos olhos de todos e afirmando em um tom sofrido para eles que nunca teria coragem de machucá-la. Mais tarde, Rio lhe contou com detalhes este momento perverso, onde todos pendiam para um lado oposto aos dos professores, exigindo uma punição severa para o ruivo.

Mentiroso estava escrito no rosto dele. Falsidade gravada em seus olhos, estes que a encaravam profundamente, esperando para que seu pedido de perdão, tão falso quanto ele, fosse aceito. Não, nunca aceitaria suas calúnias desta forma, depois de ter feito o que fez. Karma não merecia nem um pingo de piedade.

Cheia de ira, quase amassando o copo de plástico em suas mãos, ela marchou em direção ao Akabane, jogou fora a bebida e o copo, depois tirou do bolso uma tesoura. O nome de Okuda estava escrito; carinhosamente gravado como forma de mantê-la viva. Ferozmente o derrubou, prepara para atacá-lo e dar fim para seu sofrimento de uma vez por todas. Juntou ambas as mãos e baixou a tesoura, porém antes de ter a chance de arrancar a vida deste demônio, um homem desalmado, alguém a empurrou para o lado, puxou seu rosto e, em um ímpeto, tomou seus lábios em um beijo agressivo. O objetivo era imobilizá-la, infelizmente, o indivíduo conseguiu. Kayano sentiu vibrações do ventre expandirem-se para o restante do corpo, logo seus membros estavam enfraquecendo e amolecendo. Deitou no chão e encarou a silhueta do intrometido, surpreendendo-se com as írises enormes e azuis mirando-a assustadoramente; Nagisa devia estar olhando no fundo de sua alma, pois não era possível tamanha tensão esmagar a garota daquela maneira apenas com um olhar.

Após terem a deixado longe de Karma, ela retomou o fôlego e virou o rosto para o Shiota, este permanecia calado perto do ruivo, apenas pedindo por perdão com movimentos bruscos que poderiam machucá-lo pela velocidade que eram feitos, porém Nagisa ainda os repetia mesmo sentindo dor. Kaede engoliu em seco e tentou impor a mesma pressão em sua boca, sentir aquela sensação novamente — se fosse tentar descrever, havia tocado o céu em poucos segundos e voltado. Deveria estar com pequenas nuvens entre seus dedos.

Ah, Nagisa, se ela soubesse desde o início que você era um anjo caído, Kaede já teria o roubado daquele ser desumano há tempos.

Fora levada para a diretoria minutos mais tarde, onde o diretor lhe deu somente uma suspensão de duas semanas. Afinal, expulsar uma aluna por agressão poderia diminuir a inalcançável reputação do colégio Kunugigaoka.

Retornou para casa em passadas curtas, devagar, revivendo mentalmente o seu primeiro beijo, que nem pôde ser com a garota de quem gostava, mas, por outro lado, foi com alguém interessante e que já estava sob observação dela desde o primeiro dia. Shiota Nagisa... Não era à toa que Karma agia como se estivesse protegendo uma joia de preço impagável, pois Nagisa era realmente tudo o que o ruivo demonstrava não querer compartilhar.

E ela queria esse tesouro.

Aguardou perto do apartamento do menino, escondida entre dois estabelecimentos que estavam bem à frente, cuidando da passagem de alunos por esta área. Olhou para o celular: horário de saída. Passado mais algum tempo, lá estavam eles conversando animadamente enquanto direcionavam-se para o prédio. Nagisa parou, olhou para as escadas, mas não subiu. Pelo contrário, ele apertou a mão de Karma e continuou a andar, agindo como se o prédio tivesse deixado de existir de um segundo para o outro. Ela observou-os seguir a caminhada, perplexa, tentando juntar as peças do quebra-cabeça.

The Porcelain BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora