I'm A Mess

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Estava ficando preocupado. Nagisa não costumava demorar tanto para chegar, e certamente não o deixaria sozinho e iria para a aula sem ele. Verificou o horário no celular mais uma vez, faltava dez minutos para começar, mas não queria partir sem ter certeza. Olhou para trás, e para sua surpresa, lá estava o azulado caminhando devagar e cabisbaixo em sua direção, vestindo um casaco maior do que ele com um capuz cobrindo a cabeça.

— Nagisa-chan? — Chamou-o e correu para ele, mas o menino não devolveu o olhar, apenas resmungou alguma coisa e tentou dar a volta no Akabane. Segurou seu braço e ergueu seu queixo. — O que acontece- O que é isso!?

— Me solta! Não é da sua conta! — Nagisa o empurrou, cobrindo a cabeça com o capuz novamente. Tirou do bolso uma máscara branca e a colocou também. — Estamos atrasados, vamos logo.

— N- Nagisa! — Ele gritou, virando-se assustado para o azulado, cujo devolveu um olhar opaco. Por um mísero instante, pensou ter visto lágrimas em seus olhos. Entreabriu os lábios e soltou um suspiro breve, ao invés de uma das perguntas que ocupavam a mente. Não conseguiria resposta alguma além do silêncio perturbador.

O garoto puxou Karma pela mão fria e o arrastou para o colégio, seguiram a trilha às pressas e sumiram entre as árvores. Karma não colaborava, parava de caminhar vez ou outra, tentava se soltar, dizendo que voltaria para casa. Não poderia ficar sozinho na aula, não podia deixá-lo voltar. Então, mesmo que atrasassem mais, iria contar para ele, sabendo das possíveis reações de Karma a respeito do pequeno corte em seu lábio. Havia mais do que esse machucado; ela deixou várias marcas espalhadas por seu corpo para lembrá-lo do verdadeiro motivo de terem retornado.

Pararam debaixo de uma árvore distante da trilha, portanto fora de qualquer "holofote" que poderia os ver. Nagisa tirou o casaco e o blazer, deixou-os no chão junto de sua bolsa e fez menção de desabotoar a camisa escolar, porém o ruivo o interrompeu segurando suas mãos. Levantou os olhos para ele, confuso por seu ato, Karma estava levemente corado e evitava voltar a atenção para ele, mantendo o rosto para baixo encarando seus pés. Soltou-o e questionou o comportamento em um tom fraco e vacilante, tornando o foco para as próprias mãos e dando as costas para o Shiota, em seguida pedindo para que se vestisse.

Nagisa hesitou, puxando-o de volta para que ele pudesse ver. Abriu a camisa e apontou para o tronco, onde estava repleto de hematomas e pequenos cortes, como aquele que tinha na boca. Por fim, o maior se acalmou, no entanto, essa paz não durou por muito tempo; apenas o suficiente para que Karma pudesse assimilar os machucados com as confissões anteriores do garoto. Ele acabou surtando, prensando o azulado contra a árvore e perguntando rápido demais para que Nagisa conseguisse entender, mas ouviu algo sobre sua mãe.

Teve de esperar o Akabane cansar, o que demorou mais do que esperado para acontecer. Sentaram lado a lado, Nagisa vestiu-se novamente e abraçou os joelhos, desencorajado e fraco demais, sequer olhava para o amigo e este, não quebrou o silêncio para respeitar o garotinho.

Ouviram o sinal tocar, anunciando o segundo horário. Àquela altura nenhum dos dois tinham interesse na aula ou vontade de comparecer a ela.

Queria sentir segurança como antes, quando era criança e não havia motivos para ela tratar o próprio filho dessa maneira, na época em que não entendia que as roupas que lhe eram dadas não foram feitas para ele. Fecharia os olhos e descansaria no colo dela, sem ter de preocupar-se com o mundo exterior, pois ele não existiria, seria somente mãe e filho, perdidos no tempo como grãos de areia insignificantes.

Era perturbador, por outro lado, encontrar conforto em memórias que criara com ela, a mesma pessoa que estava o destruindo lentamente dentro daquelas quatro paredes de seu quarto, onde ninguém poderia ver ou ouvir seus gritos por socorro. Nagisa era arrastado para lá e calado a força, silenciando qualquer som "repugnante", como diria Hiromi, e tratado feito o erro que ele era. Uma criança desmerecedora de felicidade, família, lar e amor, pois era o que Hiromi queria. Nagisa deveria sentir exatamente o que ela sentiu ao ser chamada de incompetente, obrigada a se tornar artificial como todas as outras crianças de sua idade e esquecer completamente o que era livre arbítrio, sendo somente a "filha perfeita com notas altíssimas".

The Porcelain BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora