''— Karma? — Chamou-o receosamente, pisando nos degraus com certo pavor. Não conseguia ouvir absolutamente nada vindo do porão, e isso o deixou desesperado. A cada passo dado, sentia a respiração pesar mais. As mãos tremiam, suas pernas vacilavam conforme aproximavam-se da porta agora exposta feito um troféu no quarto escuro, o qual deveria ser o único cômodo ali embaixo. No entanto, aquela porta levava para o inferno de alguns, e o prazer de seu amado Karma. Respirou fundo para regular a movimentação do peito, então girou a maçaneta, empurrou a porta vagarosamente, mantendo os olhos fechados para não o ver daquela forma. Silêncio. Nagisa abriu um dos olhos, ainda assustado, encontrando o ruivo sentado na cadeira em que Asano fora amarrado anteriormente, cabisbaixo enquanto encarava o relógio quebrado um pouco à frente de seus pés. Havia manchas carmim em suas roupas e punhos, o cheiro quase insuportável, mas estranhamente entorpecedor de sangue chegou as narinas do azulado. — Karma, o que houve? Ele fugiu?
O rapaz ergueu os olhos vazios, balançando a cabeça para os lados em negação, demonstrando desconforto no primeiro momento. Em seguida, apontou para onde tinha o deixado, então voltou a encarar o relógio. Nagisa adentrou o quarto, sendo barrado pelo cheiro forte de carniça vindo do canto do cômodo. Não teve coragem de olhar, fixou o olhar sobre Karma e manteve-se em silêncio por alguns instantes para processar a informação.
Seu estômago, em contrapartida, reagiu a situação da forma mais negativa — e comum —, embrulhando-se e jogando para fora todo o café da manhã carinhosamente preparado pelo Akabane. Nagisa vomitou próximo do relógio, sentindo-se enjoado com o cheiro nojento que vinha do canto. Os zunidos das varejeiras e a dança de suas larvas sobre o corpo de Asano logo o alcançou, atraindo a atenção de suas safiras aterrorizadas para o cadáver largado de qualquer jeito abaixo do bastão de metal, um dos braços estava visivelmente quebrado enquanto o resto do corpo aparentava ter sido moído em golpes severos. Karma usou um pedaço da mesa quebrada para acertar a cabeça do alaranjado diversas vezes, seu rosto ficou irreconhecível.
Nagisa virou o rosto para o Akabane, os olhos banhados em lágrimas que fugiram desesperadamente deles.
— Fuja — Karma balbuciou, sentindo o próprio rosto umedecer com seu choro. — P- Pra eu não machucar você também, Na- Nagisa.
O garotinho balançou a cabeça, recusando-se a partir. Se aproximou de Karma e segurou o rosto do ruivo com as mãos trêmulas, deixando sob os lábios do namorado um beijo intenso, tentando provar através desse contato o quanto o amava.
— Somos um casal, Karma. Vamos lidar com isso juntos.
— E se eu ferir você também?
— Não se preocupe — Sorriu calmamente. — Eu sei que você nunca me machucaria, Karma. Porque você me ama.
O maior sorriu, subindo as mãos para a cintura de Nagisa e o puxando para seu colo. O Shiota corou, fechando os olhos para poder ignorar o cadáver ruidoso e aproveitar cada segundo enquanto Karma lhe enchia com promessas de amor novamente.
Fechava os olhos para ignorar o fato de que Karma acabou de matar alguém. Fechava os olhos para a realidade e perdia-se completamente nas palavras de seu grande e único amor. Nagisa fechou os olhos para continuar o amando com todos os defeitos dele. E mesmo estando de olhos fechados, ainda via o sorriso maravilhoso de Karma — estava apaixonado mais uma vez por aquele ruivo.
Gritava para si mentalmente que ele era um assassino, mas Nagisa insistia em responder-se com "Ninguém é perfeito".
— O que faremos com o corpo? — Indagou ao namorado, abraçado a ele, no sofá. Karma e ele tomaram banho juntos, então ficaram na sala para pensar em alguma solução.
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The Porcelain Boy
Fanfiction"Eles nunca tiveram contato visual ou tentaram conversar antes. Contudo, apesar das barreiras que os separavam, Akabane Karma continuou a observá-la em silêncio durante todo o tempo, dia após dia. Ele conseguia ver naquela menina de cabelos azuis e...